Jogos Vorazes: Os mentores

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Katniss Everdeen, Capital

- Vocês foram assunto total! Enquanto conversava com alguns amigos da Capital escutei só elogios, foram muito bem - diz Effie - genial terem ficado juntinhos como dois passarinhos voando!

- De crédito à Willow, a ideia foi dela - Phoenix diz limpando a boca.

- Mesmo? - diz impressionada e surpresa.

- Não foi nada demais - diz ela.

- Foi brilhante - diz Peeta.

- Foi mesmo, parabéns - digo.

- Uma das nossas metas foi atingida. Agora o foco será os treinos - diz Haymitch - amanhã pela manhã terão o treino geral com todos os tributos e à tarde treinarão com Katniss e Peeta

- Alguma indicação do que devemos fazer? - pergunta Phoenix.

- Não mostrem suas habilidades, deixem o que são bons de lado e guardem para a apresentação individual

- Como? - pergunta Willow.

- Haymitch está certo - digo.

Depois do jantar decidi ir até o quarto de Willow para conversarmos. Bati na porta e ela permitiu a minha entrada.

- Oi - digo.

- Oi - ela está sentada em uma cadeira em frente ao holograma de paisagens vendo uma cachoeira.

- É lindo

- Me faz lembrar de casa - diz ela.

- Gosta de ir até a cachoeira?

- Sim, sinto que tenho paz lá

- te entendo - meus olhos encaram chão e me sento na cama dela - dia difícil hoje, não é mesmo?

- Sim, estou bem cansada

- É, essas baboseiras nos deixam cansados

- Você foi muito corajosa ao encarar o Presidente Snow daquela forma

- Olhar naqueles olhos de cobra foi uma missão horrível - lembro e sinto o desgosto subindo em minha garganta.

- Só imagino

- Se saiu muito bem com a ideia do pássaro 

- Fiz a primeira coisa que veio na minha cabeça. Naquele momento só queria ser um pássaro livre - me encara com uma expressão triste. Não soube o que dizer a ela pois tenho o mesmo desejo. Estou presa em um casamento falso e uma máscara sorridente que adora a Capital.

- Bem, amanhã vamos começar os treinos individuais - tento eliminar o ódio que há na minha mente - Em que você é boa?

- Eu capino lá no 12, a maioria dos trigos que os padeiros usam nos pães sou eu quem consigo

- Então é boa com inchada?

- E machados. Mas temos poucos, não é comum que nem é no 7

- Já é um começo - ela demonstra uma animação mínima - você sabe usar arco? - sua expressão murcha.

- Não - responde ela.

- Tudo bem, vou te ensinar - um silêncio se propaga e não sei como rompê-lo

- Katniss, hoje o Phoenix destacou o assunto sobre fazer aliados. O que você acha?

- Ah...nunca fui muito boa com isso

- Nem eu, detesto interagir com os outros

- Eu também

- Quem sempre interage com os outros é o Peeta, não é?

- É - lembro de todos os momentos em que ele me salvou nas entrevistas.

- Vocês tiveram tanta sorte ano passado - Encara a cachoeira por alguns segundos e volta a sua atenção à mim - Como conseguiu beijar ele no meio daquela sujeira toda da caverna? - ela pergunta debochando e damos risadas juntas. Droga...terei que mentir para ela, falar algo descente sobre nosso "relacionamento".

- Acho que...estava com medo de perdê-lo e não queria deixar aquele beijo para depois - encarei minhas mãos - Está pensando em se aliar ao Phoenix?

- Ainda não sei, nunca tinha conversado com ele até o dia da colheita. É o tipo de garoto que sempre foi reservado na escola, mesmo tendo vários amigos. Não sei o que pensar 

- É, eu e Peeta também

- Você teria ido atrás dele mesmo se não criassem aquela regra? - essa pergunta deixou minha cabeça latejando, até me senti culpada por não responder diretamente um sim. 

- Para falar a verdade não sei, Prim era a única coisa que ficava em minha cabeça, não tinha espaço para um garoto - Mesmo dizendo isso à ela, sei que não teria passado por tudo sem o Peeta. As entrevistas, as fotos, os sorrisos, nada.

- É difícil, gostaria que ele sobrevivesse, mas esse ano não temos nenhuma chance. Então focarei no meu único objetivo até agora, me manter viva  

- Exatamente - penso em mim nos jogos do ano passado - mas... - ela me encara nervosa - vocês podem cuidar um do outro

- Acha que devo me aliar a ele?

- Bem...é assustador ficar sozinho naquela arena, pelo menos podem montar guarda para dormirem e caçarem juntos

- Talvez - ela se deita na cama - mas queria fazer algo que irritasse o Snow, mesmo que isso me matasse

- Willow...

- É sério Katniss. Não posso deixar que ele saia imune depois de fazer famílias se destruírem mandando seus filhos como voluntários para os jogos

- Ele vai te matar e...eu não posso... não posso deixar que matem você - começo a ficar desesperada.

- Pode me prometer uma coisa? - faço que sim com a cabeça - se eu morrer, pode alimentar a minha família? Sem o dinheiro dos trigos não sei como eles irão ficar até meus irmãos crescerem

- Claro - digo tentando me manter firme na frente dela - acho melhor você descansar - tapo ela e desligo a luz do quarto.

-  Boa noite

- Boa noite - saio do quarto e fecho a porta. Lágrimas escorrem do meu rosto.

Um turbilhão de sentimentos percorrem o meu corpo. A dor que senti por ela, os flashbacks que tive ao entrar naquele quarto, o assunto sobre Peeta. Fico tão tonta que vejo a necessidade de ir até o terraço tomar um ar fresco. Fico observando as luzes em abundância da Capital. Nos telões espalhados pela cidade, há imagens do desfile de hoje. Eu e Peeta, Willow e Phoenix...

Lembro da primeira vez que estive aqui. Peeta estava comigo, conversamos um pouco e nem imaginávamos o que aconteceria depois. Será mesmo que eu teria o deixado lá para morrer? Ignoraria sua existência e me agarraria a raiva que senti ao vê-lo com os carreiristas?

Um mundo sem Peeta...fecho os olhos e me forço a não pensar nele. O episódio no elevador e as coisas que ele me disse no corredor me deixaram profundamente irritada. Fico remoendo o dia de hoje em meus pensamentos e volto a ter forças. Desço as escadas e vou até o meu quarto. Antes de entrar vejo Peeta saindo do de Phoenix. Ele me enxerga e abre a boca ameaçando falar algo. Entro e fecho a porta antes que dissesse qualquer coisa. Ouço passos parando em frente à porta, permanecem ali por alguns segundos mas depois se afastam e ouço a porta de Peeta se fechando.