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Katniss Everdeen, distrito 12

- Não acredito que você se foi - meu sussurro sai sufocado pelo meu choro.

- Katniss, leia para nós - Cressida aponta a câmera.

- Nao! Não me obrigue a dizer mais nada!

Encontro Haymitch no pé da escada.

- Ele não vai voltar mais, ele... - o homem apenas estende os braços e me abraça.

Minhas lágrimas escorrem por sua roupa e aperto o diário contra suas costas.

                                    ***

O alvoroço que escutamos na rua nos assusta, a equipe de filmagem se arriscou e saiu da vila dos vitoriosos para descobrir o que estava acontecendo. Gostaria de ter ido junto mas Plutarch e Boggs não permitiram, falam que é perigoso eu andar pela rua exposta.

- Estão mandando todos para suas casas, dispensaram todas as tarefas de trabalho - Cressida volta correndo.

- Isso não é bom - diz Boggs.

Segundos depois, diversas vans da Capital vão em direção ao fim do distrito, são capazes apenas de se ouvir os motores rangendo e se afamado. Gale sai correndo no exato momento e vou atrás dele.

Ambos sabemos o que vai acontecer, e não temos muito tempo.

- Katniss! - Boggs corre atrás de nós.

Cressida chama a equipe e todos acabam nos seguindo.

Na chegada da costura, Gale começa a gritar, mandando as pessoas saírem de casa imediatamente. Ao abrirem suas portas e saírem, o povo me observa dos pés a cabeça e me encaram com dúvida.

- É a Katniss Everdeen - alguém diz.

- Vocês tem que correr e fugir, agora! Ou vamos todos morrer!- começo a implorar que fujam.

- Corram para a floresta! - Gale me acompanha.

Todos não sabem muito bem o que fazer, mas obedecem.

- Gale você tem que levá-los até o aerodeslizador - a multidão passa entre nossos dois corpos exaustos e apavorados.

- Não, você não vai até o centro do distrito sozinha - se exalta e grita.

- Quer salvar essa gente ou não? - ele para e reflete - Leve-os, encontro você lá - saio correndo em direção ao centro do distrito.

Saio gritando pela rua, tentando chamar atenção de todos que vivem aqui. Alguns estão com medo de mim e outros compreendem que estamos em perigo. O primeiro lugar em que vou em específico é a casa do prefeito.

- Madge Undersee! - bato desesperadamente na porta.

Repito o nome dela diversas vezes, até que a porta é aberta.

- Katniss? - segura os cachos loiros - o que está fazendo aqui?

- Madge você e a sua família precisam sair daqui agora.

- Por que?

- Porque logo não existirá mais distrito 12.

O som da bomba explodindo ecoa por todo o distrito, ela ainda está distante mas deu para ouvi-la. Madge se apavora com a tremida no chão e os destroços voando.

- Agora Madge! - ela corre atrás dos pais.

Saio correndo e sigo gritando, indo atrás da padaria da família Mellark. A noite está chegando e o dia se vai, junto com o distrito. Os moradores correm e a próxima bomba atinge o edifício da justiça, sou jogada para longe com o impacto e uma pedra atinge meu ombro e raspa em meu rosto. A fumaça invade meus pulmões e minha visão começa a ficar borrada, estou exausta, sem forças e me entregando junto do lar onde morei minha vida inteira. Snow vai tirar tudo de mim, já tirou Peeta e agora minha casa.

Sinto braços me arrastando da poeira e levantando meu corpo.

- Vamos, Katniss! - Madge me puxa e volto a realidade.

- A padaria dos Mellark... - sussurro e viro para onde corria segundos atrás.

Está em chamas. Destruído. Não há tempo de realizar as mortes que acabaram de acontecer, Madge me puxa tão forte e rápido que é difícil de processa-las. Mais bombas caem, o terror parece correr atrás de nós duas e os destroços nos atingem, casas explodem, o ar escurece e se torna cinza, há fogo para tudo o que é lado e a única coisa que sinto é a sua presença me acompanhando. Aos poucos conseguimos nos aproximar da floresta, sujas e surradas com todas as consequências do bombardeio.

- Katniss! - Boggs, Cressida e os outros nos alcançam e fogem conosco.

Snow não vai me destruir, não dessa vez.

Me viro para observar o céu e começo a correr de costas, puxo uma flecha incendiária da aljava que se encontra em minhas costas e cerro os olhos para mirar no aerodeslizador da Capital. Logo encontro o símbolo dourado brilhante voando e miro no automóvel, meus dentes rangem e solto um grito antes de antingi-lo perfeitamente. O impacto do aerodeslizador no chão é enorme, porém evito que mais uma bomba atinja o distrito, mesmo ele já estando em ruínas.

- Estamos chegando - Boggs alerta e voltamos a correr até encontrar a floresta onde está o aerodeslizador que nos tirará deste pesadelo. Uma parte do povo consegue embarcar, porém a outra está sendo levada até o meio da floresta.

- Não! O que estão fazendo? - vou até eles - tem que ser levados, mais bombas vão atingir esse lugar! - observo os rostos surrados e exaustos da costura.

- Não podemos levar todo mundo - diz Plutarch.

- Então leve mais alguém no meu lugar - tento correr para fora da aeronave.

- Você precisa vir conosco, é o tordo, as pessoas precisam de você.

- Eu não tenho como salvar ninguém! - entro em total desespero - olhe para eles! Não posso os ajudar!

- Você ajudará ficando viva - a porta é acionada para o fechamento.

- Não! - me dirijo a saída às pressas e a última coisa que consigo enxergar é Gale me encarando entre as árvores - Me deixem ficar com eles! - bato na porta - Gale!

Haymitch me abraça por trás, tento me desvencilhar de seus braços agitando minhas pernas e gritando. Atingimos vários palmos do chão e observo o distrito inteiro em total ruína e perco a visão dos cidadãos.

O lar onde nasci, passava os domingos apreciando a floresta, vivi com minha família, tive os últimos momentos com meu pai, conheci Gale e vi Prim dar os primeiros passos já não existe mais. O choro preenche meu rosto, as lágrimas quentes fervem junto de meu corpo, o sangue que escorre do ferimento aberto em meu rosto para de coagular e minhas mãos tremem. Por causa minha, muitos estão mortos, Snow fez isso porque descobriu meu paradouro, quis puni-los para me atingir e conseguiu.

Os moradores me olham assustados, chorosos e amedrontados.

- Katniss, o que acabou de acontecer? - Cressida foca a câmera em meu rosto.

Observo o distrito se afastar e transformar tudo em apenas cinzas. Minha respiração se torna forte, cerro os punhos e contraio os lábios, olho para câmera com muita raiva.

- A Capital acabou de bombardear o distrito mais pobre de Panem - meus olhos se enchem de garra e minha voz fica forte e raivosa - Homens, mulheres e crianças indefesos acabaram de morrer por nada! Snow nunca se importou com o povo dos distritos e muito menos lamenta suas mortes.

Limpo as lágrimas.

- Mas mesmo com uma péssima alimentação, vivido trabalho árduo obrigatório e tido o mínimo para sobreviver, vamos lutar. A Capital não protege a ninguém, vocês não estão seguros e nunca estarão desse jeito. Por isso vamos lutar e faremos você cair! 

Os gritos de apoio que recebo são instantâneos.

- Viva o tordo! - Junto de Plutarch, o povo começa a repetir essa frase várias vezes.

Não me sinto o tordo, não sou a líder da rebelião que eles pensam e nesse momento só lamento por não conseguir ajudá-los. 

Jogos Vorazes: Os mentores  Onde histórias criam vida. Descubra agora