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Katniss Everdeen, distrito 4

Acordo com o barulho da porta abrindo, percebo que cai no sono sob o sofá e Finnick segue trancado em seu quarto. Que horas são? Esfrego os olhos e me levanto devagar. Ando cambaleando pela casa ainda desconhecida por mim e vou me apoiando nas paredes. Mesmo tendo dormido por horas, ainda sinto um cansaço que parece não deixar o meu corpo nunca, além das diversas marcas, pontos e ferimentos não curados que ainda me acompanham. Meus pés deslizam no piso de madeira e encontro um banheiro no final do corredor. Ele é todo polido por lajotas brancas e está intacto, até aparenta nunca ter sido usado. Finnick e Annie parecem nunca ter aproveitado essa casa o bastante. Fecho a porta e deixo a água escorrer e encher a banheira.

Tiro o macacão que usei na arena e o jogo em um canto qualquer. Meu pé toca a água gelada e me acostumo rápido com a temperatura, nada consegue me fazer sentir dor depois do que aconteceu naquele lugar. Com uma escova, limpo meus pés, minhas unhas, costas e todo o corpo, que está em um estado deplorável. Resmungo por sentir pontadas quando um ferimento parece abrir ou indica feridas infeccionadas. Minha mão não se recuperou por completo e tenho dificuldade de manusear a escova com precisão. Lavo meu cabelo imundo, cheio de terra e vejo a areia que cai decantar no fundo na banheira. Fico parada tentando despistar todos as lembranças que rodeiam a minha mente, tentando focar nesses míseros grãos de areia. Sinto minhas mãos murcharem e noto que passei tempo demais na água. Me seco e vou em direção ao quarto onde acordei mais cedo. Encontro roupas limpas postas em uma cadeira, toco o tecido macio e cheiroso e sinto segundos de paz. Visto a blusa e a saia e me deito na cama.

Fico por horas olhando para o teto. Por ficar deitada na mesma posição, começo a ficar incomodada, minha respiração aperta e meu peito dói. Para não ter um surto eu saio imediatamente do quarto e corro para a varanda da casa. O vento gelado toca minha pele e sinto o frescor levar meus cabelos para o ar. Respiro fundo e fecho os olhos. Sinto tontura e acabo me sentando nos degraus do deque. Já está noite, a lua brilha e reflete sua luz no mar. Quando tenho coragem de analisá-lo, várias memórias invadem a minha cabeça.

"Peeta!" "estou indo"  "vou cuidar de você"

Balanço a cabeça e abraço meus ombros, tentando encontrar algum conforto em mim mesma. Falho. Esses não são os braços com os quais me acostumei a ter por perto. Puxo minhas pernas para mais perto e encosto o queixo nos meus joelhos. O som da porta batendo não me incomoda, mas sinto a presença de alguém atrás de mim.

Finnick se senta ao meu lado e também olha para o mar.

- Você ficou bem nessa roupa - ele sorri olhando para as mãos trêmulas - Annie gostaria que você a usasse.

- Não sabia que era dela, posso tirar, eu... - ele me corta.

- Eu deixei para você, não quero que fiquem guardadas no armário - contrai os lábios.

Um silêncio paira entre nós, mas arranjo vontade o suficiente para falar algo.

- Me desculpe por te atacar - falo rápido.

Não costumo me desculpar, mas não sei como consolar alguém que acabou de perder uma pessoa importante.

- Tudo bem Katniss, eu deveria ter contado à você o que estava acontecendo - diz cabisbaixo

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- Tudo bem Katniss, eu deveria ter contado à você o que estava acontecendo - diz cabisbaixo.

- E sinto muito por ela, também - é o máximo que consigo dizer.

- E eu por Peeta - me dói ouvir o nome dele.
- Queria que estivéssemos mortos - encara a areia - Seria menos doloroso do que ficar aqui.

As palavras de Finnick me fazem refletir. Será que Peeta sentiu dor? Um pensamento desses faz o meu peito arder. Não posso acreditar que entrei naquela arena com o objetivo de salvá-lo e o deixei escapar. Sou a culpada de tudo isso. Deveria ter comido aquelas amoras e o deixado vencer no ano passado, como fui burra em pensar que um casal de amantes desafortunados iriam manter tudo sob controle.

O mar se agita e a maré sobe. Está longe da casa, mas mesmo assim meu corpo recua e meus braços pedem por socorro, me arrastando para longe da varanda. Tento tirar o terror que vivi no último dia na arena da minha cabeça e entro na casa. Sinto o meu cabelo seco e percebo que o vento fez todo o trabalho.

Finnick entra pela porta atrás de mim e abre os armários da cozinha.

- Não vamos morrer de fome, certo? - ele abre alguns enlatados e pacotes de biscoitos.

Comemos tudo em silêncio e ele me serve água.

- Você tem que beber também - digo.

- Não quero, obrigada.

- Beba agora - empurro o copo para ele - não vamos morrer de sede, certo? - me encara e após suspiros bebe tudo.

Volto para o quarto em que estou e coloco um vestido branco para dormir. Ouço batidas na porta.

- Pode entrar - Finnick entra arrastando um soro.

- Precisamos injetar os soros - olho com cara feia - para nutrir o nosso corpo.

Pego o meu soro, que está jogado do lado da cama e o para perto

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Pego o meu soro, que está jogado do lado da cama e o para perto.

- Você injeta em mim e eu em você? - concordo com ele movendo a cabeça.

Finnick é delicado, mas sinto a agulha cravar minha veia. Faço o mesmo com ele.

- Te vejo amanhã - aceno com a cabeça e me deito.

Aos poucos vejo o quarto se tornando um total breu, completamente escuro, e tenho um apagão.

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