Jogos Vorazes: Os mentores

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Katniss Everdeen, distrito 4

A brisa leva os fios do meu cabelo escuro, água atinge meus pés e molha a camisola que estou usando. O mar começou a se aproximar e me afasto da beira. Depois de alguns minutos na praia, me reergo e tomo coragem de voltar para a casa. Entrando pela porta da frente vejo uma pequena mala aberta sob a mesa da cozinha, com alguns apetrechos dentro. Finnick aparece às pressas colocando algumas roupas de Annie na bolsa.

- O que está fazendo? - pergunto incrédula.

- Vou me juntar à eles.

- Como... - ouso lhe xingar.

- Você não precisa ir, Katniss. Mas depois de ver aquilo, não posso ficar parado, não posso deixar a morte dela...

Sua voz embarga e ele respira fundo para continuar a falar.

- A morte de Annie não ter valido nada e ter sido a toa.

- Finnick eles nos enganaram! Duvido que se você soubesse que uma das aeronaves estaria com falha e vidas teriam de ser perdidas, concordaria com esse plano - ele fica sem resposta - não sei o que esta tal de Coin quer e além disso, semanas atrás tudo o que eu queria era ficar longe de Plutarch, o homem que eu pensava que estava calculando a minha morte em uma arena.

- Eles são a minha única chance - fecha a mala e me encara - aposto que, se Peeta estivesse vivo, ele se juntaria à eles e viria comigo para salvar mais vidas.

Sai da cozinha e parte para o seu quarto. Suspiro e tento me manter erguida.

- Eu não sou que nem o Peeta, e nunca serei - digo com dor.

Finnick para no meio do corredor, de costas para mim. Sua cabeça levanta aos poucos e seu olhar me encontra.

- Não precisa ser igual à ele, apenas lutar pela causa que vocês dois decidiram sobreviver na arena no ano passado.

Ele tem razão. Estou tão desnorteada e destruída pela morte de Peeta que não estou pensando nos outros, nas pessoas que estão lá fora pelos distritos sofrendo nas mãos de Snow.

- Quando partimos? - seu olhar se torna esperançoso e seus lábios se curvam de leve.

- Ao anoitecer. Arrume suas coisas.

Entro no quarto onde dormi nesses últimos dias, semanas...não faço ideia a quanto tempo estou aqui. Faço uma ronda pelo cômodo mas não vejo nada que eu sinta a necessidade de levar, não há nada familiar, a não ser o cinto jogado no canto do quarto. Seguro o objeto com minhas mãos trêmulas e inquietas e vejo os utensílios guardados nele, o creme curativo, a cavilha e...a pérola que Peeta me deu. Sinto sua presença, seu toque e seu cheiro ao segura-lá entre meus dedos. Dou mais uma olhada no local e encontro o medalhão que ele ganhou de Effie dentro de uma bacia junto com algumas medicações. O coloco envolta do meu pescoço e sinto seus braços me envolvendo.
Saio de meus devaneios quando Finnick adentra o quarto com um macacão preto que parece até o que usamos na arena.

- Vou dar um mergulho no mar antes de irmos...ham...essa pode ser a última vez que nadarei no mar, então vou aproveitar.

- Vou com você.

- Katniss, tem certeza...suas lembranças do último dia na arena podem voltar.

- Tenho certeza, nunca mais irei voltar ao distrito 4, é a minha chance.

- Vou pegar uma roupa para você então.

Visto o macacão de Annie e me sinto estranha por isso. Sua presença ainda é forte, não consigo acreditar que a única amiga que fiz na arena se foi. Guardo meus pertences na mala de Finnick e o encontro na beira do mar. Me aproximo, ainda tremendo e o vejo observar os tremores confuso.

- É a morfina no meu sangue - seguro minhas mãos na esperança que parem.

- Sinto muito por isso também, não sabia que era morfina naqueles tubos, me disseram que era apenas um soro nutritivo.

- Acho que o objetivo era nos deixarem dormir por dias seguidos para não termos crises.

- Acredito que sim - olha o mar, azul como o céu e calmo como a praia - está pronta?

Concordo com a cabeça e entramos. A água está gelada e agradeço por isso, finalmente estou sentindo algo que não é dor. Após muito tempo me sinto livre, nadando entre as ondas. O salgado invade minha boca e ajuda a curar as feridas que seguem me acompanhando. Olho para o lado e vejo Finnick sorrindo e boiando, segundos depois me nota.

- Venha, vou te ajudar a boiar.

Tento negar mas ele se aproxima e me segura. Sinto como se o mar estivesse me abraçando.

O barulho marinho me faz relaxar e o indício do entardecer brilha sob meus olhos. Laranja. A cor preferida dele.

Começo a lacrimejar e Finnick ajeita meu corpo de volta. Meus pés tocam a areia gelada e ele me observa por alguns segundos, acredito que estava decidindo se fazia o que acabou de fazer. Seus braços me recebem com rapidez e o molhado da água se mistura com nossas lágrimas. O abraço dele parece se completar com as dores que compartilhamos e nosso desejo é de que afundem no mar. Junto de Gale e Peeta, noto que também posso chamar Finnick de amigo.

Mergulhamos mais um pouco, aproveitamos nossos últimos minutos aqui e voltamos à casa para nos aprontarmos. Após um banho rápido, Finnick me entrega uma calça e uma blusa de Annie e as visto. Enquanto prendo a metade de meu cabelo, observo a noite chegando lá fora. Sinto Finnick se aproximando com a bolsa e trancando a casa.

- Vocês fizeram um lindo trabalho - observo a pequena residência.

- É dela agora, onde quer que esteja - sorri olhando pra o céu.

O aerodeslizador chega levantando uma boa parte da areia da praia e cobrimos nossos rostos enquanto aterriza. Cerro os olhos e vejo a porta se abrindo e um homem vindo em nossa direção.

- Prazer senhorita Everdeen e senhor Odair, sou o comandante Boggs - acenamos com a cabeça e entramos no aerodeslizador.

Sentamos na aeronave e ela decola rumo ao distrito que todos pensavam que havia sido exterminado. Finnick observa a casa ficando cada vez mais distante e derrama algumas lágrimas, sussurrando "sinto muito amor da minha vida".