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Katniss Everdeen, Arena

Estou perdendo muita água através do suor e sinto muito por não poder a repor. Annie continuou acordada e íamos conversando nos momentos onde ainda tínhamos força.

- Como você aprendeu a nadar tão bem? - penso duas vezes antes de respondê-la. É ilegal a passagem pela cerca do 12, logo não deveria perambular pelo lago. No fim, concluo que não há por que esconder isso do povo todo que está nos assistindo, estarei morta ao final desses jogos mesmo.

- Meu pai. Todo domingo ele me levava até o lago que fica perto da campina do meu distrito e me ensinava a nadar - por um segundo me permito viajar no tempo e imaginar que estou com ele, segurando meus braços enquanto nado sem parar entre risos. A água gelada me acalmava, tirava as tensões que desde pequena sinto e sua presença deixava tudo melhor.

- Parecia ser um passeio legal - ela sorri de lado.

- Era sim - sorrio mas o desfaço rapidamente - até que cercaram o distrito e não pude mais ir - mais uma mentira.

- Deve ter sido devastador para você, não consigo viver sem nadar ao mar, é maravilhoso.

- Como é o mar? Você vai diariamente nele?

- Sim, trabalhamos duro em torno dele. O som que ele projeta é melodia para os meus ouvidos, me deixa calma e a sua vista...ah, é o que mais sinto falta - consigo senti-la se imaginando no distrito 4, em frente à água salgada entre as ondas.

Ficamos as duas com os pensamentos em nossos lares.

Um barulho começou a zunir em meus ouvidos e pelo canto do meu olho esquerdo tive um vislumbre de um paraquedas prateado. Levantei tão rápido que acordei Peeta e Finnick. O abri e dentro há uma pequena estrutura de metal possuindo uma espécie de bucal com uma extremidade afunilada.

- Mas o que é isso? - Finnick tenta analisá-lo com seus olhos sonolentos.

Está quase lá
-H

- É do Haymitch - leio o bilhete.

- Espero que não seja uma brincadeira - da de ombros.

- Não, acho que não é - Annie o observa atentamente.

- Já vi isso antes - minha testa franze - acho que no prego, há muito tempo atrás, não consigo me lembrar

- Se você já viu, vai se recordar - Peeta toca meu ombro e o acaricia com seus dedos.

Forço minha mente, mas nada me vem.

- Vou procurar comida - pego o arco e saio.

Ando aos arredores e encontro um roedor com pelagem cinza e dentes pequenos, nunca havia visto um desses. Respiro fundo, pego uma flecha e a ajeito em minha mão machucada. A dor está amenizada, mas permanece. Acerto o olho do animal em cheio e me sinto realizada pelo feito. Retiro a flecha e nesse momento uma luz me vem em mente. Saio correndo e vou ao encontro dos outros.

- Uma cavilha!

- O que? - Finnick demonstra confusão.

- Não a vi no prego, meu pai tinha várias dessas - me observam intrigados - funciona como uma torneira, você insere na árvore e a seiva sai por ela - Annie pega o objeto e me entrega. O cravo na árvore e esperamos ansiosos.

- Por favor, funcione - sussurro.

Funcionou. Há água escorrendo.

- Não acredito - Finnick se aproxima.

- Caramba - Peeta também se junta.

- Beba, você precisa bastante - diz Annie.

Me abaixo e ao sentir a água tocar minha língua já me sinto melhor. O líquido escorre por minha garganta e uma sensação de frescor é inalada. Eles também bebem e tem a mesma sensação.

- Deixe eu limpar o seu ferimento - nego com a cabeça - Por favor Katniss - não me entrego - deixe eu retribuir o que você fez por mim no ano passado - flashbacks me atingem.

Curativos improvisados, sangue, muito sangue, inflamação, corte profundo, febre, remédio.

- Tudo bem - ele toma a minha mão.

- Vou limpa-lá - aceito.

Ao entrar em contato com a água, cerro meus dentes e me esforço pra não emitir muitos sons de dor, o que é quase impossível. Chego até a lacrimejar.

- Já estou acabando - com sua delicadeza, tenta acabar com isso o mais rápido possível - se pudesse pegar a sua dor para mim, faria - ele termina.

- Espera - o seguro - seu rosto, está cheio de marcas - acúmulo água em minha mão boa e a uso para limpar o rosto dele.

Meus dedos passam sob sua pele judiada, mas também bem cuidada, retirando a maioria dos resquícios que há nela. Me afasto ao finalizar e observo os seus profundos olhos azuis.

- Achei essas nozes enquanto você estava caçando - sorri - as torrei no campo de força, pensei nisso graças a você

- Parece que essa coisa toda serviu para algo - levanto minha mão queimada.

- Aqui, pegue uma - tira uma noz de seu cinto e me entrega.

- Estão ótimas - digo ao mordê-la.

- A fogueira já está pronta - diz Finnick.

Limpo a caça e a asso. Comemos em silêncio, bebemos um pouco mais de água e voltamos a andar, agora hidratados e com mais energia.

- Eu nunca havia visto árvores tão grandes como essas - Annie observa a enorme arvore pela qual estamos passando.

- Vou subir nela e ver quanto falta para chegarmos - todos param e largo o arco e a aljava no chão.

- Quer ajuda? - pergunta Peeta.

- Estou bem - aceno e começo a subir.

Sinto o vento em meu rosto e meus lábios ficam ressecados rapidamente ao alcançar o topo. Faço uma sombra sob meus olhos com a mão e vejo que não falta muito, metade do caminho parece já ter sido vencida.

O céu começa a mudar, fica cinza e as nuvens parecem ficar cada vez mais escuras. Vejo um pingo caindo do céu e observo lentamente sua chegada até a superfície. Logo outro cai, dessa vez em minha testa, me atingindo como uma bola de fogo à cem graus. Meu grito é ensurdecedor, assim como a dor, é insuportável. Me desequilibro da árvore e vou despencando entre os galhos, sentindo as folhas me tocando e meus ossos estremecendo. Caio brutalmente no chão e Peeta logo vai ao meu encontro.

- Katniss!

- A chuva...ela é ácida

- Vamos! - Finnick toma o braço de Annie e começa a correr.

Peeta me ajuda a levantar, me apoia em seus ombros e começamos a correr. A chuva intensifica e começa a nos perseguir. Peeta tropeça e cai, a acidez o atinge e ele grita de dor, posso praticamente sentir sua pele queimar.

- Levante Peeta, temos que continuar - o puxo e voltamos a correr.

Estamos destruídos. Com a pele queimando e sem forças. Ouço Finnick gritar sofrido e Annie lhe dizendo palavras motivadoras para continuar.

- Não me deixe! - isso bastou para ele se reerguer e continuar.

Jogos Vorazes: Os mentores  Onde histórias criam vida. Descubra agora