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Effie Trinket, Capital

Me emaranho na cama dura e rala que há na cela em que estou sendo mantida, abraço meus joelhos na esperança de encontrar algum conforto e me sentir eu mesma novamente. Ouço a porta elétrica abrir e os passos ecoando na minha direção. Minha mão treme e meu corpo é gélido, meus pés estão congelando nesse piso frio e as paredes me fazem sufocar. Por fim, abrem a porta e dois pacificadores surgem armados.

- Levante senhorita Trinket.

- Não...por favor... - sussurro com dor.

- Vamos - um deles puxa o meu braço.

- Parem, por favor... - as lágrimas começam a surgir.

- Coopere.

Enquanto tento relutar, ouço gritos ecoando pelo corredor. Não sei quem Snow mantém trancafiado junto comigo, mas de que não estou sozinha tenho certeza. Pobres almas, pobres seres. Percebo que lutar contra vai ser inútil e me levanto, os pacificadores me arrastam para fora e levam-me até uma sala na Cidadela.

Desde o dia em que os tributos fugiram da arena, Snow passou a caçar todos que pudessem estar envolvidos, e eu fui uma das primeiras a ser capturada. Sou uma das principais armas para atingir a Katniss, junto das imagens de Peeta.

- Para onde vão me levar? - pergunto nervosa.

- Calada! - me empurram para o elevador.

A sala a qual me deixam é onde os maquiadores e cabeleireiros me ajeitam. Vestem as roupas coloridas que costumava amar e as perucas que sinto tanta falta enquanto estou na cela. A maquiagem é reforçada e pesada, para deixar minha pele impecável.

- Muito bem senhorita Trinket, vamos - os pacificadores me retiram.

Sou escoltada até a sala que me da um grande terror. O presidente Snow e Caesar Flickermann estão sentados envolta de uma mesa, conversando.

- Semhorita Trinket - Coriolanus sorri - que bom que vai se juntar a nós.

- Não tive escolha.

- Oh, você morou em Panem por toda sua vida, claro que escolheu - aponta para a cadeira - sente-se.

Tento recuar de pavor, os saltos arrastam no chão e meus braços pedem socorro. Não, essa cadeira não. Certamente os pacificadores me arrastam de volta e obrigam a me sentar nela. As algemas frias que prendem meus pulsos e tornozelos no apoio me dão vontade de chorar, pois sei que o pior está por vir.

- Hoje iremos fazer uma bela entrevista.

- O senhor já não está farto de mostrar a mesma coisa para o povo? - rebato.

- Eles estão gostando.

Mentira.

- Quero que leia todos os cartazes que estarão por trás das câmeras, sabe que se me contrariar coisas ruins irão acontecer.

- Muito bem, vamos nos preparar - Caesar ajeita o cabelo e passa mais pó em seu rosto.

As câmeras acendem e ouço o hino de Panem.

- Boa tarde! Hoje contamos com mais uma participação especial de nossa grande convidada, senhorita Effie Trinket.

A câmera foca em mim e o máximo que consigo fazer é segurar meu desgosto. Cerro meus punhos presos e suspiro.

- Então senhorita Trinket, conte-nos sobre como andam as novas leis de Panem.

Sou obrigada a recitar todas as novas leis impostas sobre os distritos. Toque de recolher obrigatório, cargas horárias dobradas e recrutamento em massa de pacificadores.

- O presidente Snow está cumprindo seu papel como presidente durante estas ameaças. Diga-me, ha um último comunicado oficial que devemos apresentar aos outros, pode me dar a honra de recita-la?

Encaro feio o cartaz, tenho vontade de cuspir nessas letras medíocres. Achei que nunca gostaria tanto de usar os maus modos que a vida inteira repugnei e fui ensinada para não exercer.

- Então senhorita? - Me nego a dizer essas coisas.

Snow percebe minha negação e acena para o pacificador impulsionar os meus modos. O choque que vem dos meus pulsos e canelas percorre por todo o meu corpo, parece que tudo irá queimar e meus órgãos pararão de funcionar logo, me levando à morte inerente. Minhas veias faiscam e ardem, meus olhos se enchem de lágrima, minhas cordas vocais e pescoço tiram toda a força que tenho para falar. Os hematomas são internos, então na gravação parece estar tudo bem, estou apenas calada. Sofrendo calada e sendo torturada calada.

A tortura com os choques começaram desde que me colocaram na frente das câmeras, mandando eu dizer coisas horríveis à Katniss, sabendo que ela está assistindo.

- Oh, deseja um copo d'água? - concordo com a cabeça.

A água me faz retornar e ter forças suficientes para continuar.

- As...as novas medidas...do presidente Snow são bem claras, todo e qualquer tipo de apologia ou símbolo que retratem sobre rebeldia terá como consequência uma sentença de morte imediata.

Me sinto derrotada, envergonhada e um manequim da Capital.

- Exatamente. Devem tomar cuidado extremo com esses rebeldes, são completamente perigosos e insanos.

A câmera foca mais uma vez em mim. Tenho raiva dos hematomas serem internos, minha pele está totalmente cheia de roxos e vermelhos, porém a maquiagem cobre tudo.

- Agora vamos para as notícias recentes de Panem.

Caesar Flickerman iria iniciar o novo bloco do programa, porém um grupo de pacificadores entram euforicamente na sala, indo direto ao presidente Snow.

A única coisa que consigo ouvir é "ela está viva, e foi vista no distrito 12"

Katniss.

As ordens dadas por Coriolanus são claras. Caesar continua com o programa mas ele logo é interrompido, os pacificadores me tiram da cadeira da tortura, algemam minhas mãos e me arrastam porta a fora. Caesar também é levado junto comigo, não é exatamente escoltado mas está rodeado de pacificadores que lhe cuidam persistidamente.

- Para onde estão nos levando? - minha voz sai como sussurro, ainda estou fraca demais pelos choques que ainda correm em meu sangue.

Obviamente não recebo resposta e me colocam dentro de uma van cheia de pacificadores. Tento localizar algo pela janela, para descobrir para onde estamos indo, porém só enxergo borrões. Quando sou empurrada para fora do veículo, reconheço a garagem imediatamente, estamos no centro de tributos. Meus pés doem, porém me obrigam a andar rápido. Antes de entrar no elevador, ouço novamente os mesmos gritos que escutava na Cidadela, parece que meus anônimos companheiros de prisão também foram transferidos. Me prendem em uma sala fechada e bem revestida, há uma cama e banheiro, tiram meus sapatos, peruca, acessórios e roupa antes de me deixarem presa. A blusa e calça feias que me entregam são brancas e fajutas, cubro meu corpo e permaneço no canto da cela.

- Katniss por favor fique bem, por favor fique bem - balanço meu corpo enquanto imploro e recito essas palavras - não posso perder você como perdi Peeta...dois filhos perdidos são demais para mim.

Foram tantas mutilações internas que já não sinto minhas próprias lágrimas brotarem.

- Haymitch cuide dela, e de você também, por favor...eu imploro.

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