Ouvir toda a história da Luzia, fez-me lembrar por tudo o que passei no passado. Tudo era tão parecido com a minha história, exceto o final feliz, porque esse eu não tive. Ainda dói, dói muito. Sinto falta dele, sinto falta dela, sinto falta do que nunca vivemos e nunca vamos viver. Sinto falta até do que perdi sem nem conhecer.
Apesar dos meus pais me terem incentivado a lutar, lutar por ela, eu simplesmente não consegui. Eram tantas as ofensas, eram tantas as desculpas que usavam para me separar do que ainda me fazia levantar da cama. Eu não perdi apenas o amor da minha vida, eu perdi a filha que apesar de não ter o meu sangue aprendi a amar e perdi o pontinho que crescia dentro de mim.
Nós médicos ginecologistas e obstetras, aprendemos muito sobre como diagnosticar uma depressão pos parto. Porém ninguém nunca se lembra que quem perde o seu bebé, seja por aborto espontâneo ou porque o bebé simplesmente deixou de se desenvolver, também podem passar por uma depressão.
Como mãe, assumi para mim um papel de assassina do meu próprio filho. O que fez com que um turbilhão de sentimentos se manifestassem em mim: uma dor extrema, angústia, medo, tristeza e culpa. Passei por momentos de choro continuo, de isolamento em que não queria ver ninguém, de querer dormir por séculos (tipo hibernar como os ursos e acordar 10 anos depois sem a dor que me consumia).
Falta de apetite, falta de motivação para sequer sair da cama. Cheguei a simplesmente a um ponto em que alucinava, em que estava num mundo à parte onde tudo estava bem e nós quatro éramos felizes. E foi nessa altura que os meus pais decidiram internar-me...
E aí, quando finalmente comecei a cair em mim, e a perceber que tudo era real inicia-se então, o questionamento do porquê. Porque é que aquilo aconteceu? Porquê a mim? E por muito que procuremos, muitas vezes não há respostas exactas. Aconteceu porque tinha que acontecer...e esta era a resposta que eu não queria receber.
O tempo passou, e fui aos poucos aceitando a perda, mas a dor essa sempre esteve e sempre estará comigo. Porém com toda esta minha crise existencial, perdi todas as hipóteses de lutar pela minha menina. Passei meses internada, e quando saí nada mais havia a fazer, e nem direito a visitas eu tive. Perdi tudo: o amor da minha vida, o filho que esperávamos e a filha do coração que Deus me deu.
Na manhã seguinte, acordei com Angie sentada na minha cama, apenas a olhar para mim com um lindo sorisso...e uma pequena que olhava para mim com um ar meio desconfiado. Sentei-me na cama...e estiquei os braços, tentando que Clara viesse para o meu colo...
- Bom Dia...- disse Angie, largando um pouco Clara deixando que ela decidisse o que fazer.
- Bom Dia...olá princesa...- e assim que falei ela simplesmente se lançou para o meu colo. E a sensação de ter de novo um bebé ao meu colo é indiscritivel...
- Eu não queria ser chata...ou invasiva...mas será que me podes contar...
- Eu prometi que te contava e vou contar...pode ser até que me alivie um pouco o meu coração e o peso nas costas. Mas não me interrompas...
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Violetta - O Recomeço (CONCLUÍDA)
Hayran KurguHistoria escrita a pedido das sobrinhas fãs da Violetta... SINOPSE Porque uma história nunca tem fim... Todos seguiram o seu rumo...e Violetta não é excepção, assim como Leon. Gérmen e Angie casaram...e vivem felizes. Mas será que há histórias feli...