Brunna terminou de secar o último prato, e colocou no escorredor, secando suas mãos em um pano. Ela o deixou sobre a mesa de madeira logo que suas mãos já estavam secas. Gonçalves estava sozinha em seu apartamento, em pleno domingo, tendo a casa completamente silenciosa e sua cabeça repleta de pensamentos, e nenhum deles positivos.
Todos eles eram direcionados para a negra dos olhos castanhos, dona de um sorriso inocente e ao mesmo tempo maquiavélico que com apenas algumas palavras conseguia deixa- la no chão, por quê foi assim que Brunna se sentiu ao ouvir aquelas palavras saírem da boca de Ludmilla, sem chão.
Donna havia saído junto com Daiane e Fernanda para o zoológico com o Théo, já que era seu aniversário e ele queria muito ver os leões, assim como a pequena Donna, que não parou de tagarelar na noite anterior sobre o quão grande é assustador os animais eram.
Brunna apagou a luz da cozinha e seguiu para o quarto, se deparando com a zona que ele estava. Como não tinha nada muito mais interessante para fazer, e ela não queria estragar o passeio de ninguém com sua "depressão" ela resolveu ficar em casa e arrumar tudo, mas já estava começando a se arrepender.
Antes de ir para o banho, ela tratou de prender o cabelo e organizar tudo aquilo o mais rápido que podia para poder deitar e dormir, logo após chorar novamente quando as palavras de Ludmilla e o jeito rude de como ela era tratada veio a sua memória.
Antes de ir trabalhar na revista Brunna ainda sofria com a lembrança de ter perdido o amor de Ludmilla, mas a dor era menos intensa, afinal ela estava longe. Agora não, e Ludmilla faz questão de lembra- la de como sua vida é um fatídico erro - tirando Donna -, enquanto a dela era banhada de perfeição.
O que na verdade era uma total mentira.
Em meio a bagunça Brunna acabou achando uma caixa de papelão azul, decorada com algumas figuras, com o nome "My love" escrito na tampa da caixa. Brunna conhecia aquela letra, a caligrafia delicada, sendo claramente tão linda quanto a pessoa que escreveu aquilo. Ela pegou nas laterais da caixa, se sentou em sua cama e tirou a tampa deixando de lado.
Brunna sentiu um incômodo na garganta a pegar uma das fotos que estavam ali, se lembrando da ocasião perfeita em que ela foi tirada. O baile de outono; Brunna com seu vestido branco, volumoso e charmoso com alguns brilhos da parte de cima e o decote valorizando o busto, enquanto Ludmilla usava um vestido preto justo, e naquela época o corpo dela ainda era o mesmo, elas tinham as mãos entrelaçadas, lábios colados e Brunna parecia sorrir.
Naquele dia Ludmilla tinha pedido Brunna em namoro. Gonçalves virou a foto sentindo os olhos se encherem de lágrimas quando leu a frase curta no verso.
"20.10.10
O nosso dia."Logo outra foto um pouco mais ousada que a anterior foi vista por ela, fazendo Brunna soltar a que estava segurando dentro da caixa. Ludmilla estava deitada no tapete - da casa de Daiane, pelo que ela se lembrava -, com Brunna por cima, apoiando o peso do corpo nos braços encarando a namorada, que sorria ao encara Brunna. Elas pareciam não se importar em usarem apenas uma blusa e calcinha, pareciam bem confortáveis, não se importando com os olhares alheios.
Brunna também se lembrava desse dia, e podia dizer que essa era definitivamente a melhor lembrança. Em uma outra foto Brunna e Ludmilla estavam dentro de uma banheira, afastadas uma da outra e sorrindo, naquele momento Brunna soltou uma risada ao lembrar do tão constrangida Daiane ficou ao entrar no banheiro aquele dia. Para não esquecer o momento e sem perder o humor, Ludmilla pediu para a amiga registar o momento.
Àquela altura Brunna estava chorando novamente, se perguntando o por que de ainda amar Ludmilla, sendo que ela nem se quer sentia nada por ela além de pena, e doía, doía tanto pensar que esse era único sentimento ainda vivo em Ludmilla.
Sem que Brunna percebesse, ela já estava chorando alto quando Donna entrou no quarto, largando a mochila no chão, tendo em mãos sua máquina fotográfica pronta para mostrar para a mãe o quão divertido tinha sido o seu dia, mas desfez o sorriso ao ver a mãe encolhida em meio a bagunça em sua cama, chorando.
- Ei mamãe. - Donna chamou, subindo na cama. - Que foi?
A menina engatinhou até Brunna e se deitou de frente para ela, pousando as mãos pequeninas no rosto da mãe, acariciando levemente. Ao perceber filha ali, Brunna tentou se recompor e segurou o choro, secando o rosto com as mãos, mas Donna ainda a encarava.
- O que aconteceu, mãe? - Donna indagou novamente. - Não quer me contar? - a menina levantou as sombracelhas.
- Eu estou bem amor. - Brunna balançou a cabeça.
- Nop. - a pequena negou com a cabeça, balançando os fios castanhos de um lado para o outro. - Você estava chorando, mamãe. Não está bem não. O que são essas fotos? - Donna saiu do lado da mãe e pegou uma foto na caixa.
Para a sorte de Brunna, não era como a foto ousada a que ela estava vendo antes. - Quem é essa moça, e porque a senhora está beijando ela?... É uma moça mamãe.
Donna subiu seu olhar apavorado para a mãe, que ainda se mantinha calada segurando o choro, e sua filha á encarava com curiosidade e pavor segurando a foto, confusa com o que estava vendo, e se perguntando o por que de sua mãe estar beijando outra moça.
- Isso não é errado? - Donna perguntou novamente, agora ainda mais curiosa do que antes.
- Não. - Brunna sorriu fraco, e balançou a cabeça negando. - Nenhuma forma de amor é errado, gatinha. - Brunna acariciou o rosto da filha, e a menina balançou a cabeça novamente.
- Mesmo que ela seja uma moça? - a menina franziu o cenho.
- Olha meu amor. - Brunna suspirou, ainda com aquele incômodo na garganta, e seus olhos cheios de lágrimas. - Não é errado, como eu te disse antes, nenhuma forma de amor é errada, sentimentos não são um erro, independentemente se somos do mesmo sexo, ou oposto, o que importa é o que sentimos.
- E você tinha sentimentos por ela?
- Tinha, eu tinha muitos. - Brunna respondeu.
- Oh. - Donna murmurou. - Como foi? Quero saber como conheceu ela. Conta mãe.
- Você quer mesmo saber? - Brunna levantou as sombrancelhas.
- Huhum. - ela balançou a cabeça.
- Nós namoramos durante um tempo.
- Foi antes do papai?
- Sim, antes do seu papai. - Brunna afirmou.
- Mas você tem sentimento pelos dois? Pelo papai e a moça da foto? - Donna tornou a franzir o cenho.
Céus, ela havia confundido a menina!
- Esses assuntos são complicados demais amor, pelo menos para você. - Brunna tocou a ponta do nariz da menina. - Mas quando crescer irá entender tudo.
- Você promete me explicar? - Donna olhou para a mãe.
- Prometo amor.
- Tá, mas... Eu posso perguntar mais uma coisa?
- Pode. - Brunna suspirou.
- Você ainda tem sentimentos por essa moça? A da foto?
- Filha... --- Brunna disse e suspirou mais uma vez, ela queria mudar de assunto. - Como foi o passeio?
- Não muda de assunto mamãe.
- Isso é necessário para que exatamente, Donna?
- Pra nada. - a menina balançou os ombros. - Mas eu quero saber. Ainda tem sentimentos?
- Sim, eu ainda tenho amor.
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Towers✔🦋
FanfictionBrunna e Ludmilla tiveram um relacionamento há cinco anos atrás, e elas pensavam que aquilo poderia ser eterno, pelo menos até o momento em que Brunna traiu Ludmilla com seu chefe durante uma viagem de negócios, estando completamente bêbada para pod...