Máscaras

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Lana

As coisas não iam bem. Quinze dias haviam se passado desde que meu irmão começou a recuperar a consciência sobre Sky. Apesar de não se render, eu o via cada vez mais preocupado com ela, que tinha se mantido presa no porão de Declan todo esse tempo. Tenho certeza de que estava lá por vontade própria. Se quisesse sair, ninguém a impediria.

Dec e Niko me traziam relatórios diários, e eu os repassava regiamente a meu irmão. Ele fingia não escutar, mas eu sabia que ouvia mesmo assim. Sky era instável, perigosa e estava melhorando. Pelo menos é o que todos nós achávamos.  Agora, ela parecia arrasada por não conseguir mais acessar sua magia. Seus olhos não voltaram ao normal. Pouca coisa voltou. Exceto o fato de que agora não queria matar Cameron. Apenas causar dor. Não que isso não seja um grande progresso, mas nada animador.

Para piorar, o casal de teimosos havia decidido, cada um por seus motivos, que deveriam se ver o quanto antes, pois só assim seguiriam adiante. Para que fique bem claro, eu nunca concordei com isso. Nem ninguém. 

Hoje era o dia do meu aniversário, e pelo menos por algumas horas eu me permitiria relaxar; após conversar com Sky mais cedo, ela havia prometido que não iria causar problemas.

–Ficarei em casa. –Sorriu triste quando me prometeu. – Aproveite sua festa. Espero estar bem o bastante para comparecer às próximas.

Quando sai do porão, foi com o coração na mão. O cabelo dela havia crescido rápido, mas apenas o bastante para que eu fizesse um Chanel pontudo com uma franja, que caia nos olhos.  Olhos lupinos, com fendas verticais que mostravam um pouco de humanidade. Os cortes em seu rosto adquiriram um tom mais claro que a pele pálida dela, e os dentes continuavam com presas.

Meu irmão havia preparado um baile de máscaras para comemorarmos, o que achei completamente dispensável. Mas era na escadaria da casa principal que eu me encontrava, vestida com um vestido estilo grego, todo branco, e com meia máscara de renda. Os convidados já estavam pelos jardins. Algumas alcateias vieram de fora para me homenagear. Pelo menos era o que diziam. Para mim, o verdadeiro motivo era que esperavam que eu encontrasse meu par. Que eu escolhesse algum deles. Babacas.

Cameron já estava entre eles, visivelmente tenso. Outro babaca. Por que fazer uma festa se estava tenso com tantos rondando nosso território? Na verdade, era uma noite de babacas. Todos eles. Já dançavam em pares, contando com apenas a luz da lua e uma leve iluminação artificial. Quando observei pela janela, meu queixo caiu. Haviam centenas de pessoas. Então tudo parou.

Branwell me esperava na porta, vestido de pirata. Os cabelos castanhos revoltos presos em uma badana, o sorriso cínico que fazia falhar uma batida. E então não me importei com os outros.

Skylar

Sentindo-me um lixo, coloquei a máscara preta sobre meu rosto, escondendo a maior parte dele e deixando apenas da boca para baixo de fora. Mais cedo, tingi meu cabelo para um tom mais escuro de loiro. A roupa punk gótica de espartilho e saia de babados roxa e preta não parecia em nada com o que eu costumaria usar.

 O reflexo no espelho zombava de mim. Uma pequena boneca loira de olhos amarelos. Uma adolescente punk. Tudo menos eu. Além de tudo, trairia a confiança de Lana.  Mas algo dentro de me mim me impelia a isso. E eu sabia também que Cameron também desejava me ver. Pena que ele não veria nada do que lembrasse, apenas uma caricatura apagada do que já fui.

Aos poucos, eu conseguia separar o certo do errado, mas muito ainda faltava. E vê-lo talvez mudasse isso. Nikolai estava ao meu lado quanto a esse assunto. Por coincidência – ou não – ele era meu guarda naquela noite. As batidas na minha porta avisavam que estava na  hora de ir. Declan havia saído há quase uma hora para a festa, e estávamos contando que os inúmeros odores encobrissem o meu, que já era discreto.

Niko me deu um beijo de leve nos lábios. Eu sorri. há três dias ele sempre me cumprimentava assim, então não reclamei. Parecia normal.

–Pronta? – Ele me perguntou.

–Não. – Fui sincera. Estava tremendo internamente. Engraçado como, em todos os cenários que eu visualizava, nunca me vi como a covarde que estava me mostrando agora.

–Vai dar tudo certo. – Ele tentou me acalmar.

–Então vamos de uma vez. – Suspirei.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora