Womanizer

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O trajeto não foi longo, principalmente pelo fato de sinais vermelhos, limite de velocidade e outras leis de trânsito eram, para mim, uma mera sugestão que eu não fazia questão de acatar.

Tive sorte de ter uma balsa saindo na hora em que cheguei, e não precisei esperar. Meu vestido não era nenhuma barreira contra o frio que fazia à meia noite, mas não me incomodei. Já vivi em regiões onde aquela temperatura seria uma brisa de verão. Observando meus olhos castanhos no retrovisor da moto, pensei o quão distante estava de onde nasci. E isso era tão bom.

Era quase uma da manhã quando vislumbrei o clube, com um sorriso de satisfação. Normalmente me sentia confortável entre os gatos, mesmo que nem todos fossem dignos de nota.

Como era de se esperar, o clube estava lotado. Principalmente por felinos. Clãs de Tigres, Gatos e Panteras meio que adotaram o local como o point deles. Mas, como pária, eles tinham me aceito no local. Uma pantera em especial, que me rondava há algum tempo. Declan tinha os cabelos negros como o ébano, quase pendendo para o azulado, em contraste com a pele quase tão branca quanto a minha já fora, e olhos prateados da cor da tempestade. E o melhor de tudo, ele não chegou pondo a mão.

Quando ele me viu, o sorriso de covinhas que fazia meu coração falhar duas batidas se alargou. Como o predador que era, ele abriu caminho por entre a pista de dança e ficou bem à minha frente. Mas para mim, era como um gatinho de estimação. E eu ri ao ver os olhares que lançavam para ele. A blusa verde escuro social e jeans escuros tiravam segundo e terceiros olhares das mulheres, e os homens o pareciam receosos com sua aproximação. Ele exalava poder.

- O que minha linda menina Sky está fazendo aqui? Pensei que a Destino houvesse drogado para não sair de lá. - Ele desdenhou, lembrando que eu já não vinha a Fúrias há algum tempo. Mas ele não sabia que a Destinos também não tinha possuído minha presença esses dias.

- Menos bate papo e mais dança, Dec. - Eu ri empurrando ele de leve com a ponta dos dedos.

Sorrindo, ele fez o que poucas pessoas ousavam fazer: Segurou o zíper da minha jaqueta de couro e puxou para baixo, abrindo-a. Deu um assobio baixo, claramente aprovando meu vestido azul claro com a saia de babados. A roupa era bem sóbria em cima, não tendo decotes ou costas nuas, mas deixavam minhas longas pernas escandalosamente à mostra. E eu sabia o quanto ele amava minhas pernas. Principalmente quando sussurrava no meu ouvido cenas que envolviam elas ao redor do quadril dele.

-Skyla, baby, tem certeza que você não é uma das nossas panteras? - Ele arquejou junto ao meu ouvido.

Eu simplesmente ri. Aquele era meu ponto fraco, mas eu não diria isso a ele.

-Humana Declan. Cem por cento humana. - Menti descaradamente.

- Essa é uma questão que ainda contesto. A qualquer hora você pode mudar. - Ele opinou enquanto me levava para o centro da pista de dança. - Eu realmente não ficaria triste se você fosse a minha companheira. - Havia sinceridade por detrás de sua voz.

Ali, entre amigos e com meu melhor-amigo-quase-pega, eu me soltava bem mais do que em qualquer outra pista de dança. Era movida a isso, à música. E ele se encaixava em mim, acompanhava meu ritmo em qualquer estilo. E hoje eu estava decididamente promiscua. Não sei por que, mas provavelmente aquele estranho havia mexido com minha paz e por consequência senti que precisava extravasar.

Com meu longo cabelo castanho caindo ondulado pelas minhas costas e com muito pouco pudor, eu e Declan reinávamos descaradamente entre os demais. Éramos indecentes. E sabíamos e gostávamos disso.

Quando ET começou a tocar, Declan me abraçou por trás enquanto nossos corpos se desligavam do mundo e eram regidos pela batida. Deixei que ele beijasse meu pescoço. Eu sabia o tamanho da queda dele por mim, mas também sabia que nunca seria uma pantera. Nesse caso, nunca poderia ser a companheira predestinada dele. Humanos não mudam com essa facilidade. Na verdade, eles mal mudam quando são meio humanos e meio shifters.

A maldita pureza do sangue que eles tanto se orgulhavam resultava também desse fato. Pareciam pequenas realezas. Pegue Lyna como exemplo. Aquela acreditava que existia um Deus no céu e ela como presente Dele na Terra.

Fui rebolando até o chão enquanto a música trocava para Womanizer, quando subi, virei para ele com um meio sorriso nos lábios e um olhar meio brincalhão, meio acusador, e comecei a cantar a letra para ele:

You can play brand new to all the other chicks out here

But I know what you are, what you are, baby[1]

Fui andando e rebolando enquanto apontava um dedo acusatoriamente para ele, mas nos nossos lábios a brincadeira ficava evidente. Dec recuava como se fosse realmente culpado de tudo aquilo. Era uma graça de se ver.

You got the swagger of champions

So bad for you

Just can't find the right companion

I guess when you have one too many, makes it hard

It could be easy, who you are, that's who you are baby[2]

Ondulei meu corpo junto ao dele e sussurrei para que apenas Duc ouvisse:

Must mistake me as a sucker

To think that I

Would be a victim not another

Say it, play it how you wanna, but no way

I'm ever gonna fall for you, never you, baby[3]

Ele me girou, depois segurou meu quadril com as duas mãos rindo, e me levando com passos e rodopios de volta para o centro da pista de dança.

- Você seria minha garota mesmo nesse mundo baby, se eu pudesse convencê-la. - Ele riu quando a música acabou. Carinhosamente, esfregou a bochecha de leve contra a minha. - Vou pegar algo para bebermos.

Quando ele recuou dois passos e olhou por cima do meu ombro, soube imediatamente que algo não estava certo. Senti os cabelos da nuca dele se arrepiarem.

- Problemas, Dec? - Eu sussurrei de modo que apenas ele ouvisse no meio da barulheira. Para quem visse de longe, acreditaria que estávamos nos beijando. Ele simplesmente soltou um rosnado baixinho.

Afaguei o cabelo dele com uma mão, um dos poucos gestos de carinho que me permitia. Depois, dei um giro para ver o que ele encarava com tanto desagrado. Ou melhor, não apenas desagrado, e sim com óbvia hostilidade. O esquisito da Destinos estava aqui, e nos encarava com cara de poucos amigos.


[1] Se passando por um bom garoto, mas eu reconheço um quando vejo um/ Mas eu sei o que você é, o que você é, Baby

[2] Você tem uma pose falsa de campeão/ Então pior para você/ Só não consegue encontrar o companheiro certo/ Acho que quando você tem muito, se torna difícil/ Poderia ser fácil, quem é você, que é quem você é baby

[3] Deve se enganar sobre mim como um otário/ Para pensar que eu/ Seria uma outra vítima/ Diga, finja, como você prefere? Mas de jeito nenhum/ Que eu vou ter uma queda por você, não você, baby

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora