Loba

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É impressão minha ou vocês não gostam quando o Declan narra o capítulo? rsrsrs

Enjoy it.

Lana

Eram duas da manhã. Não havia ninguém na casa de Cameron e eu estava grata por isso. Foi o primeiro momento que consegui ficar sozinha nos últimos dias, e todo o silêncio do mundo ainda era pouco para mim.

Segui até o quarto do meu irmão, onde ele seguia amarrado na cama. Doía o coração encontra-lo assim, sem consciência. Mas ele se debatia enquanto dormia. Alimentá-lo se tornou um desafio. E os gritos? Parecia que alguém estava torturando-o. A febre cedeu. Os gritos viraram murmúrios.

Nossa teoria era de que ele estava lutando contra o feitiço. Não que eu acreditasse nisso, mas a alternativa era de que estivessem machucando-o de longe, e isso eu não podia conceber.

Tudo o que eu queria era sentar em um canto escuro e chorar. Bran não facilitava as coisas no conselho, e minha mãe me rondava para que eu entregasse o comando a ela. Mas não recuei. Sabia o que estava aceitando quando Nikolai pediu que eu ficasse no comando. Irônico que o irmão que eu não sabia ter se importasse tanto comigo.

Sentei na poltrona em frente a cama de Cam, observando que não haviam mais cortes nos pulsos, o que significava um dia calmo. Enroscada em mim mesma, deixei que a pele de loba saísse, ficando mais confortável no sofá. E mais alerta para o caso de alguém tentar entrar na casa. Foi a terceira noite em que não dormi.

No quinto dia depois da saída de Declan, Cameron recuperou a consciência. Ou pelo menos a parte dela que tinha ficado intacta. Era a vez de Lyna cuidar dele, o que calhou de ser uma vantagem. Eu teria ficado tão aliviada que desprenderia todas as amarras antes de verifica ser estava tudo ok com ele. Mas ela fez todas as perguntas pertinentes antes de deixa-lo sair. Ele lembrava de tudo. Menos de Sky. Na verdade, até lembrava dela, mas como se fosse uma humana a mais vivendo na ilha. Cameron não entendia como tinha ficado tão fixo nela nos últimos tempos.

Em outras palavras, ele não lembrava que a amava. Quando sugeri que devíamos ir atrás de Declan, ele descartou a ideia taxando-a de 'ridícula'. Não discuti. Branwel estava ao meu lado dessa vez mas ele também entendeu que era uma briga que não poderia ganhar.

-Ele vai se arrepender disso depois. - Eu disse a Bran enquanto víamos meu irmão seguir para seus aposentos dentro da casa principal.

-O que podemos fazer? - Ele deu ombros. - O que quer que tenha mexido na cabeça dele modificou alguma coisa nesses dias em que esteve delirante. Só podemos torcer para que apenas os sentimentos dele em relação a Sky tenham sido afetados.

-Como assim? - Retruquei, me virando para encará-lo. - Quer dizer que é melhor que meu irmão não lembre que havia encontrado a companheira dele?

-Se essa for a alternativa, sim. - Bran me encarou com olhar duro. - Preferia ele acamado?

-Preferia que ele voltasse ao normal. - Joguei de volta. - E não que ele fosse um mal amado que nem você. - E saí pisando duro.

Ok, essa talvez não estivesse entre as minhas discussões mais inteligentes, mas ele vinha me tirando do sério nos últimos dias... E agora que meu irmão estava acordado, parecia que um mundo havia saído das minhas costas. Mesmo assim, tudo ainda parecia tão errado...

Skylar

Finalmente eu conseguia ver. Estávamos em um local que me lembrava uma masmorra. O que provavelmente era. Minha visão havia sido obstruída por uma venda, que fora removida. Talvez para que eu pudesse assistir no grande espelho que havia do outro lado da sala o que Elliot havia planejado para mim aquela noite. Meus olhos me encaravam com um brilho maníaco, assim como era o sorriso em meus lábios. Não parou de doer em nenhum momento. Mas a dor? A dor era boa.

Quando vi que ele segurava um bastão de baseball, me preparei para o que viria a seguir. Fogo e gelo já haviam sido usados. Minhas unhas foram arrancadas e cresceram mais de uma vez. Mas eram meus cabelos que mais me incomodavam. Antes, tão longo caindo até meu quadril, agora era uma massa disforme acima dos meus ombros. Engraçado como nessas horas as coisas mais bobas pareciam ser as piores. Meu cabelo me incomodou mais do que as cicatrizes em meu rosto. Quando a lâmina atravessa a pele de um lado ao outro, parecia que a cura tinha um custo mais caro. Eu parecia uma boneca de retalhos me encarando. Quem me tiraria para dançar agora? Comecei a rir. Meus olhos estavam esquisitos.

Ele falava comigo. Às vezes, havia as outras vozes também. Hoje era só ele. Meu reflexo me atraia mais. Meio nua, me encontrava vestida apenas de farrapos, conseguia ver cada cicatriz que havia ficado. Algumas queimaduras foram graves o suficiente para que ficassem marcadas.

Cansado de ser ignorado, ele bateu com o taco no meu joelho, e eu ouvi o som de ossos partindo. Os meus? Ri mais alto. Logo estariam inteiros de novo. Não era nisso que consistia esse jogo? Ele batia, eu quebrava. Eu voltava ao normal.

-Puta louca. - Ele bateu novamente com as costas da mão em meu rosto. Estava usando uma luva de espinhos, e eles saíram rasgando novamente minha bochecha. Passei a língua pelos lábios. O gosto do meu sangue era delicioso. Luxuriante. Rico. Como seria o gosto do sangue dele? Quando a mão veio novamente em minha direção , mordi.

E não soltei. Minhas presas arrancaram dois dedos antes que ele conseguisse se soltar. Mastiguei. Era bom. Fazia tempo que eu não comia nada mais do que pão mofado.

Ele estava gritando para mim, mas eu continuava rindo quando cuspi os ossos dele em seus pés. Ele batia, eu quebrava. Eu voltava. Mas será que ele voltava também? Senti aquela sensação de que havia outra pessoa em minha cabeça. Mas era só eu. Era minha loba. Ela ria comigo do que havíamos feito. Não sei porque passei tanto tempo prendendo essa parte de mim. Ela era tão divertida.

Elliot se aproximou novamente. Abri um sorriso, mas não ataquei. Precisava dele mais perto. Os dedos só confirmaram o que minha loba - o que eu - estava me dizendo.

-Fome. Tanta, tanta fome.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora