Liberté, Chérie

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Ao finalmente me ver livre minha primeira reação foi puramente covarde, para minha eterna vergonha. Quando vi o tanto de pessoas reunidas, eu queria fugir. Meu primeiro pensamento foi instintivo: como eu faria para me defender caso todos decidissem me atacar? Meu meio irmão sentiu o passo que dei para trás, e segurou firmemente minha cintura.

–Eles nem sabem quem é você, Sky. – Ele me garantiu. – Eu não te reconheceria se a visse no meio dessa multidão. As pessoas aqui não vão te caçar.

–Estou com medo. – Retruquei. – Me sinto exposta.

Ele apenas riu e me empurrou em meio as pessoas, observando à distância. Dec, Bea e Lana não podiam vê-lo ou eu viraria um alvo. Um senhor alto à minha frente simplesmente me puxou pela mão e me arrastou em meio à pista lotada de dança. Era uma coreografia antiga, que esteve em moda na mesma época das saias balão. Íamos trocando de par ao redor da 'pista' até voltar ao par original.

Tentando não chamar atenção, deixei que me guiassem, respondendo com sorrisos leves, sem expor minhas presas. Ao meu redor, sons, cores e sensações se misturavam. Parecia que nunca iria ter fim. Milagrosamente, eu estava me divertindo e não surtando, embora já estivesse tonta quando voltei ao velho.  Quando a música parou, ele fez uma reverência com um sorrisinho. Juro que falou algo, embora eu não conseguisse distinguir o que.

Então outro desconhecido apareceu na minha frente, me puxando para uma dança lenta sem nem mesmo pedir licença. O pânico foi amortecido pela musica, e uma vaga sensação de raiva. Lembrei então que detestava quem invadia meu espaço pessoal de dança, mas não ousei reclamar. Enquanto me misturasse, iria suportar qualquer coisa. Enquanto girávamos pela pista, ele tentava uma conversa, e eu respondia com monossílabos. Minha cabeça sempre virando, procurando Cam.

Não lembro quantas músicas sucederam da mesma maneira. Eles vinham, me tiravam para dançar, tentavam conversar, desistiam e apenas dançávamos. Por duas vezes meus amigos ficaram em meu campo de visão, e eu baixava a cabeça para que não me vissem. A sensação de que estava fazendo traquinagem tomando de conta. Sorrindo para mim, decidi que independente do resultado de meu encontro com Cameron, aquela noite foi a mais divertida desde que sai do cativeiro. Liberdade. Essa era a primeira noite em muito tempo que realmente a entendia.

Foi então que senti a presença às minhas costas, e olhar surpreso de qualquer que fosse meu par.

-Acho que agora é minha vez. – A voz dele me deu calafrios. Eu não sabia se ele já havia percebido quem eu era, mas sem duvida não parecia muito feliz.

Uma valsa começou, e ele tomou minha cintura. Minha primeira reação foi querer empurrá-lo. Então encontrei seus olhos. Olhos como os meus, meio humano, meio besta, e ronronei como um gato.

–Você é Skarlet. – Ele afirmou.

–Sim, eu sou. – Respondi, soltando a respiração que nem notei ter prendido. Minhas garras queriam sair para rasgar aquele rosto não tocado por cicatrizes, aquela parte escura de mim dizendo que ele merecia ser marcado, mas a silenciei com certa dificuldade. – Decepcionado?

–Pelo que haviam me dito, esperava encontrar uma besta selvagem que arrancaria meus olhos no primeiro contato. – Ele debochou.

–Posso providenciar isso. – Sorri, deixando que ele visse minhas presas e dentes ligeiramente mais pontiagudos. – Acredito que poucas coisas me dariam mais prazer.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora