Choro e Risos

3.9K 412 56
                                    

Então, como o que postei mais cedo foi curtinho, aqui vai um complemento. Finalmente Sky foi encontrada. Mas será que isso foi bom?

Sky

Há dois dias eu estava em paz. Usando as correntes como balanço, a brisa tinha melhorado nos últimos dias. A fome tinha ido embora. Meu rosto estava melhor. As cicatrizes não saíram. Mas acho que nem iriam. Agora eram como teias de aranha em meu rosto. Eu também não estava mais nua. Quer dizer, não muito.

Olhei para a cabeça de Elliot no canto. Ao lado do seu pênis. Não tive coragem de comer aqui. Eca. Mas a cara dele quando percebeu o que eu tinha feito,.. as risadas voltaram até mim. Ele não acreditou. Então eu cuspi na frente dele. Não era lá essas coisas de grande. Meu cabelo estava um pouco melhor, mas ainda havia sangue por todo o meu corpo. A carne dele, pelo menos, era boa.

O mesmo não posso dizer da garota que veio depois. Parecia uma criança. Era mais nova que eu, com certeza. Mas vinha com um chicote na mão, chamando por Elliot, dizendo coisas sobre mim. Como se me torturar fosse uma diversão. Quando torturei ela, Aisha, conforme descobri que se chamava, não achou divertido.

Principalmente a parte que arranquei os dedos dela e forcei que ela comesse. Era uma pena. Estavam deliciosos. Ninguém vinha, e ela gritava. Pelo que entendi, haviam bloqueado o som para que a festa lá em cima não fosse perturbada pelos meus gritos. Então não foram perturbados pelos gritos de ninguém.

Sorri para o espelho. Meus dentes estavam pontudos... lupinos...Eu gostei.

Uma comoção diferente veio da porta lá em cima. Outro guarda entrou. Eles não tinham coragem mais de descer até aqui. Até agora, eu tinha pegado sete deles. Não mais comia sua carne, mas as peles eu usava como um manto.

Cameron.

Todos me tratavam estranho. Minha mãe não vivia mais conosco. Há exatamente três meses, minha vida havia saído do eixo. E eu nem entendia o porque.

Bran, que costumava ser meu homem de confiança, passava cada vez mais tempo com minha irmã. Que por acaso agora havia uma cadeira com o nome dela no Conselho. Eu entendo que estive doente, mas agora estava bem. Ou quase.

Tinha aquela menina que ficava na minha cabeça. Eu sabia que não era real, mas ela me acompanhava a todos os cantos. E palpitava. Era uma menina loira, pálida, vestida de branco. Irritante. Devia ter treze anos. Mesmo trancado em meu quarto, ela estava lá.

-Está tudo errado. - Ela reclamou. - Você não devia estar aqui. Tem gente te esperando.

-Vá embora. - Reclamei, escondendo a cabeça embaixo no travesseiro. -Me deixa em paz. Me deixa em paz.

-Patético. - Ela reclamou. - Vá atrás de Declan. Ela precisa de você.

-Quem é ela? - Perguntei pela milésima vez.

-Ela. - a menina disso. - Você sabem quem é.

-Não sei. - Reclamei.

Minha cabeça começou a doer, e ela sumiu. Pelo menos eu poderia dormir.

Mas nem dormindo eu conseguia paz. Havia uma loba branca nele. Às vezes, eu perseguia ela. Outras, ela me perseguia. Então me encarava com olhos lilases. E eu acordava. Sempre.

Quando comentei sobre o sonho com Lana, ela simplesmente disse que eu deveria procurar Declan. Ele saíra em viagem e ainda não voltara. Mas essa insistência de que eu deveria procurar por ele teve um resultado. Eu o detestava sem nem tê-lo visto ou conversado com ele em qualquer momento que lembrasse.

Sky

Então Lucan percebeu que seus homens não voltavam. E resolveu vir me fazer uma visita. Quando me viu, sentada com o porte de uma rainha enrolada nas peles e com a cabeça de Elliot ao lado, ele riu. Riu como eu ri. Mas eu não ri com ele.

-Então quer dizer que precisava de uma ou duas surras bem dadas para que você mostrasse suas garras? - Ele me perguntou, mas não esperou resposta. De qualquer maneira, eu não a daria. - Acho que devo te agradecer por se livrar de Elliot por mim. De uns tempos para cá ele estava decidido me ver fora da posição de alfa mesmo que tivesse que me matar para isso.

Suspirei, ainda sem responder. Devia ter esperado um pouco antes de matar aquele nojento, pelo visto. Agora teria que matar Lucan eu mesma. Mas não estava com pressa. Eu tenho todo o tempo do mundo.

Ele chegou perto de mim. Não esbocei reação. Mesmo confusa, eu sabia que precisaria de muito mais força do que eu tinha nesse momento. Precisava daquele pedaço que me faltava. Mas se faltava um pedaço a mim, achei que seria justo faltar um pedaço dele.

O nariz ainda estava por algum lugar entre os restos dos outros.

Isso foi há alguns dias. Hoje eu estava só. Desde então eu estava só. Até hoje. Havia barulho vindo lá de cima. A porta foi aberta.

Foi então que o cheiro me atingiu. Eu sabia quem estava descendo, por um momento, pensei que fosse Cameron. Mas sabia que não era. Ele me abandonara. Eu queria seu sangue.

Virei a cabeça para trás e comecei a balançar mais alto. Ainda aquela sensação de perda dentro de mim. A essa altura, eu já havia entendido o que era. Sem magia. Sem magia. Sem magia. Eu cantarolava indo cada vez mais alto. Depois eu ri. Sons de passos em minha direção. O cheiro que eu conhecia. Ele viria por mim ou para mim? Queria brincar ou me salvar? Amigo ou inimigo?

Quando Declan apareceu, não liguei para a ele. Ouvi milhares de palavrões indo e vindo. Depois Nikolai chegou. Eles só olhavam para mim. E praguejavam. Não liguei. Indo e vindo, indo e vindo. Mais alto. Mais longe. Brincar?

-Sky, bebê... - Foi Nikolai quem me chamou. Dec não falava nada. Procurei em minha memória. Nikolai não estava lá. Mas muita coisa estava faltando. Dei ombros. - O que fizeram com você?

-Nós brincamos. - eu respondi, ainda sem olhar para ele. No começo eu não sabia as regras. Mas depois aprendi. E ganhei.

- Olha pra mim, Sky. - Declan pediu. Por instinto, eu fiz. Então ele arfou quando viu meu rosto. E eu ri.

-Não tenha medo. - Falei, mas ele deu um passo para trás. Talvez ele não gostasse dos meus novos dentes. Tentei puxar da minha mente detalhes do nosso relacionamento. Mas ultimamente tudo era dividido bem simplesmente. Amigo e inimigo. Eles estavam no amigo. - Eu quebrei. Mas estou remendada. Como uma boneca. - E comecei a rir de novo. Mesmo rindo, percebi pela primeira vez que também estava chorando.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora