Stars

4.8K 447 14
                                    

Desculpem a demora para postar, pessoal :( Espero que todos tenham tido um feliz natal, porque o meu foi trabalhando, até hoje a tarde. Não sei quando vou ter tempo de postar outro, mas deixemos marcado para a virada do ano, pode ser? Amo-as todas e cada uma de vocês, minhas queridas leitoras, e espero que tenham uma bela virada de ano. Não vou mais atrasar a leitura de vocês... curtam a Sky :]

Skylar

Todos estavam reunidos discutindo como passariam a virada do ano. Há poucos dias, foi o que os humanos costumam celebrar como Natal, mas que nada mais era do que uma adoração a um deus pagão que foi adaptada por Constantino. Minha mãe me contou. A mãe da mãe dela esteve lá para ver. Era uma época em que não éramos caçadas. Não como fomos durante a Idade Média. Quando a Igreja se uniu com os clãs patriarcais e decidiram que éramos perigosas demais para viver. Que éramos livres e ajudávamos o povo. Depois desse que chamam de Cristo, viramos sinônimo de mal. E precisávamos ser destruídas.

Nunca vi o natal como uma época festiva. Os lobos não comemoravam esse tipo de festividade. Tínhamos nossas próprias datas. Mas sempre gostei do final do ano. Me dava a esperança de que tudo mudasse, antes que compreendesse que as mudanças dependiam das pessoas. Mesmo assim, desde que me misturei com humanos e deixei para trás a vida como Romanov, percebi que muito dos lobos e outros shifters haviam se adaptado a um meio termo nessas festividades. E a cada virada de ano, eu comemorava como mais um ano que consegui passar longe do meu pai.

Eu não estava particularmente festiva esses dias. Há pouco mais de uma semana e meia, Cam havia casado e descasado, meu pai havia aparecido com Elliot e eu aguardava uma emboscada cada vez que saia de casa, embora tivesse alianças poderosas com os três clãs mais poderosos da redondeza. Mesmo assim, era a primeira virada de ano que eu passaria sem neve, e estranhava a cada minuto.

Claro que Dec queria uma festa. E Lyna iria ser a atração principal. E Lana bateu o pé dizendo que eu teria que comparecer a festa da Matilha por cortesia de aliada militar. Depois teria que comparecer a festa dos felinos. A festa na casa de Lyna para dar apoio moral contra a família dela.

Na ilha, as pessoas quase não me viam. Para manter minha linhagem de feiticeira a salvo, optamos por eu manter minha aparência a qual os demais já estavam acostumados e aos poucos e deixando Skylar para trás e assumindo a Skarlat. Ou mesmo simplesmente Skar, como eles decidiram me chamar. De acordo com Liam, havia cicatrizes em minha alma, o que eu não concordava. As feridas de Cam ainda sangravam. Quando disse isso, Liam balançou a cabeça, afirmando que se referia às cicatrizes que meu pai havia deixado. Contra isso, não houve argumento.

Pela primeira vez desde a palhaçada do casamento, ousei deixar a loba sair. Eu e ela estávamos em constante conflito. Ela sempre reclamou de quando eu fingia outra coisa. Não que falasse diretamente comigo, mas sempre senti. Como eu disse, sempre foi como se fossemos duas pessoas e a mesma pessoa ao mesmo tempo. Ela era a parte de mim que reprimi por muito tempo.

Olhando pelos olhos dela - meus olhos - tudo parecia diferente. Mais vivo. Eu tinha consciência das formas de vida ao meu redor. Minhas garras rasparam o chão, meus músculos doendo, pedindo que corresse. Que chegasse a exaustão. E foi o que fiz.

Não via nada ao meu redor, apesar de ter consciência de um ou outro lobo ou outro ser que ultrapassei. O coração batendo a mil antes de lembrar que estava em segurança. Que eram aliados. Que eu poderia me defender, apesar de não ser das melhores em lutas corporais.

Sem me dar conta, estava no alto do penhasco que pulei para evitar Cam certa vez. Levantei o focinho e farejei, sem sentir presença de ninguém. Com os músculos doloridos, fui pegando de volta minha forma como humana, deixando apenas a pele de lobo de fora, servindo como capa. Era noite, e me deitei com o braço sob a cabeça a fim de encarar as estrelas. Estava maravilhosamente só, como tomei gosto ao longo dos anos. Deixei que as lembranças me levassem.

Não sei quanto tempo permaneci ali, mas um galho quebrando perto me despertou. Ou acordou. Acredito ter dormido. Não precisei me mover para reconhecer o cheiro de Cameron. Eu o havia visto rondando a casa de Dec nos últimos dias. Havia me perguntando quanto tempo ele esperaria antes de tentar vir falar comigo. Não facilitei. Deixei que se aproximasse sem reconhecer que estava ali. Ele deitou ao meu lado, também com um braço como apoio para a cabeça. A ponta dos nossos dedos se tocavam.

- Eu vi você correndo mais cedo. - Ele falou. Não respondi. Não era exatamente uma pergunta. - Depois não a vi voltar. Pensei que pudesse ter acontecido algo.

E tinha. Aconteceu que eu estava curtindo um momento de paz até ele chegar. Mas não respondi, puxando a pele de lobo para que cobrisse os meus olhos. Meus traidores olhos que poderiam falar como se possuíssem cordas vocais.

- Há alguns dias tento chegar perto o bastante para conversar. Mas parece que não faz diferença, porque você vai me responder tanto quanto tem atendido aos telefonemas que te fiz. - Cam continuou.

Continuei calada, deixando que ele executasse seu papel de ofendido. Eu encarava o escuro, então fechei os olhos.

- Não tem importância se você não responder, desde que escute. Eu sei que errei. - O lobo continuava com seu monologo. Eu estava entediada. - Já solicitei que a impostora saísse da ilha, assim como afastei minha mãe dos assuntos pertinentes ao comando da matilha.

A loba dentro de mim quase ronronou como um gato. Mas por fora, permaneci uma estatua viva. Ao meu ver, ele só tomou as medidas que deveria ter tomado desde sempre.

- O que você espera que eu faça? -Perguntei por fim, - Bata palmas e te felicite por ter feito o que seria óbvio para qualquer um?

- Eu esperava que pudéssemos recomeçar. - Ele suspirou. - Embora saiba que é pedir demais. Você foi uma grande amiga.

- Nós não fomos amigos, Cameron. Fomos amantes. Estupendo amantes. Mas não amigos. Nunca confiamos um no outro, nem levamos conselhos em consideração. Nem acreditamos que a outra parte dava avisos para o nosso bem e não movidos por ciúmes. Ah, espere. Nessa última parte o erro foi completamente seu.

- Se naquela época eu soubesse que era você e não ela... - Ele não se moveu, ainda olhando o céu acima de nós.

- Ainda assim teria me visto como uma parceira em potencial devido as minhas linhagens. Acho que já repeti essa conversa com você no mínimo dez vezes com palavras diferentes.

- Se você não fosse tão orgulhosa e visse as coisas como devem ser vistas... - Ele apelou. Com o mesmo argumento. De novo. Previ a repetição das ultimas discussões. -Mas gostaria de ter te ouvido. Talvez fazer as coisas diferentes. Provavelmente ir contra o costume da matilha e assumir você como companheira. Talvez assim não duvidasse do que eu sinto.

- Eu não duvido do que você sente. - Retruquei, levantando. - Eu duvido que você sinta alguma coisa. Eu duvido que você entenda o que sente. Dentro de mim coexiste uma feiticeira e uma loba, com o poder e a fraqueza de dois mundos. Com personalidades distintas e iguais. E eu as entendo. Elas formam o que eu sou. E eu entendi qual deveria ser o seu papel em minha vida nos quatro primeiro dias que passamos juntos. Mas duvido que um dia você entenda.

Ele me encarou do chão, e parecia que ia falar alguma coisa. Esperei, contrario a outras vezes que preferia sair correndo. Mas ele simplesmente assentiu e voltou a encarar as estrelas.


Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora