Run away, run away... I'll attack

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Skylar

 Minha mão que se apoiava em seu ombro o pressionou com um pouco mais de força, deixando-o sentir minhas garras. O tecido era tão fino. Seria fácil arrancar um pouco de sangue aquela noite. Imediatamente retrai de volta às minhas unhas, não cedendo a tentação.

Senti o corpo sob minhas mãos enrijecer, depois soltar o ar. Ainda girávamos perfeitamente na valsa, ziguezagueando por outros casais sem perder o contato visual.

–Preferia manter meus olhos onde estão.

–Acreditei que sim.

Ficamos em silêncio por essa e outras duas músicas, até que um de nós criou bom senso e eu me vi sendo puxada para entre as árvores, pontuado por resmungos de 'mulheres' 'conversar' e 'impossíveis de controlar'

–Sinto muito pela brutalidade, Alteza. – O tom de voz dele era debochado. – Mas minha irmã quase olhou em sua direção e devo entender que entrou de penetra nessa festa.

Fiz que sim com a cabeça, não me importando com ele estar de costas para mim enquanto andávamos. Na verdade, era mais fácil assim do que encontrar aquele olhar avaliador, que dava mais força para meus instintos assassinos.

– Sua irmã, sabiamente, não tem tanta fé no meu controle quanto você parece ter. – Apontei.

– Minha irmã... – Ele começou, sem se virar. – Devia parar de se meter na minha vida e deixar que eu tome minhas próprias decisões.

Não sei quanto tempo andamos, mas a música já não nos alcançava. Nem os gritos dele alcançariam alguém. Tratei de tirar aquele pensamento da cabeça. 

– Então, o que você esperava que acontecesse quando me visse? – Perguntei, tentando mudar meu foco.

– Não sei. – Ele deu ombros. – O que você esperava que acontecesse?

– Esperava perder o controle. – Soltei. Não fazia sentido mentir. – E talvez assim ficasse em paz, sem precisar controlar algo que nem sei o que é.

– Esperava lembrar alguma coisa. Qualquer coisa. – Ele falou quando chegamos a uma clareira. – Depois de perceber que algo estava errado com minhas lembranças, foi como se eu percebesse um buraco.

– Ingênuo. – Desdenhei. – Achou que ia olhar para alguém e de repente uma lâmpada acenderia em sua cabeça?

Cameron

Irritante. Minúscula  loba irritante. Me desafiava como se fossemos crianças brincando em um parque. Onde estava o respeito pelos superiores?

Desde a pista de dança, tudo ao redor dela me chamava e me encantava. Apesar de gritar 'punk' há metros de distância, nada parecia bater com as descrições que Lana fez. Eu esperava uma loba desfigurada, descontrolada... Um animal a ser abatido. Mas não, ela estava no meio de todos, enganando, socializando e me desafiando a chegar mais perto. Ela parecia com a imagem que eu tinha nublada em minhas poucas lembranças.

– Irritante. –Respondi, me virando para encará-la. – Se tiver ideia melhor, por favor, compartilhe. Obviamente você é a rainha das ideias fantásticas já que a sua consistia em vir aqui e esperar arrancar meus olhos.

Apesar da baixa estatura, ela tinha presença, o que eu entenderia se fosse apenas o sangue de alfa que a loira carregava. Mas era mais do que isso. Mesmo entre mais de quinhentos convidados, ela chamou minha atenção.

– Não sei por que quer tanto lembrar. – Ela empinou o nariz sob a máscara. – O passado é superestimado.

Isso vindo de uma pessoa que era perturbada por lembranças não era exatamente aplicável no meu caso.

– Você lembra tudo, é fácil dizer isso.

– Eu preferia não lembrar. – Ela atirou na minha cara. Havia fúria naqueles olhos em fendas. Por um momento, entendi o que minha irmã vinha tentando falar. Era bestial.O lobo dentro de mim uivou.  – Eu preferia esquecer tudo.

– Então não há nada que valha a pena ser lembrado? – Porque eu, definitivamente, queria lembrar dela. 

– Defina 'valer a pena'. – A voz dela era cínica. Minha vontade era de atirá-la no rio, roupa punk e tudo o mais, só para trazê-la de volta a realidade. 

– Sei lá, algo que só você entenderia e valorizaria.

– Eu não valorizo nada do que aconteceu no passado. Seja ele de cem anos ou cem dias atrás.

 – Se você não lembra o passado não pode ter perspectivas para o futuro.

– Eu não tenho nenhuma perspectiva que valha a pena. – Ela retrucou, me olhando de cima a baixo, como se eu fosse uma ocupação desnecessária de tempo e espaço. 

Um barulho atrás de nós fez com que ela começasse a rosnar. O rosto escondido pela máscara farejava o ar.  Um coelho saiu pulando, e eu abri a boca para debochar do perigo. Então ela pulou em minha direção.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora