1,2,3 Drink

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Cameron

Um, dois, três.

Jab, direto, jab. Gancho. Chute.

Bater até o nó dos meus dedos sangrarem.

Não adiantava. Nada me fazia tirar da cabeça os acontecimentos do dia anterior. Não consegui dormir. Ou consegui e não lembro. Fechei os olhos e ela apareceu em minha mente, zombando de mim. Foi um sonho ou imaginação?

Tanto mal entendido por um maldito orgulho. Encostei a testa no saco de pancadas. Um casal com extremos problemas de confiança, isso é o que éramos. Porque nem como um casal podia ser considerado agora. Oficialmente falando, meu casamento nunca existiu. Oficialmente falando, os acordos de paz não foram efetuados com os Romanov, que receberam o erro como um insulto. Oficialmente falando, ela estava noiva de Declan, o que colocava em risco a paz da minha matilha se eu fizesse questão de cobrar dela uma promessa que a impostora havia feito.

Sinceramente falando, estávamos ferrados. Mais precisamente, eu.

Sky não atendeu a nenhuma das ligações que fiz. Talvez fizesse sentido dado serem quatro da manhã, mas eu sabia que ela dormia com o maldito aparelho embaixo do travesseiro. Talvez ela não estivesse dormindo ainda. Talvez ela estivesse com Declan.

Dei um tapa no saco de areia, rasgando por ter mudado sem querer minha mão em meia pata, parecendo um maldito animal de lendas. Eu sabia que ela não estava com ele. Lana – abençoada fosse – havia me passado um texto mais cedo avisando que dormiria na casa com eles. E que Sky dividiria o quarto com ela.

Apenas com shorts de nylon, sai do complexo de treinamento para correr. Àquela hora da manhã, apenas a patrulha rondava e eles foram espertos o suficiente para não esperarem cumprimentos de minha parte.

Corri como humano pelo que me pareceram horas. Minhas pernas latejavam, o suor escorria pelas minhas costas e os nós dos meus dedos ainda ardiam do saco de pancadas, apesar de estarem quase curados. Não foi surpresa quando percebi que estava na mesma praia em que ela me pediu distância há algum tempo.

Nunca havia percebido o quão próximo do território das panteras aquela praia ficava. Como já disse, o carma pode ser uma vadia. E parece que havia decidido ser minha vadia.

De onde eu estava, pude ver uma fogueira ao longe, com algumas pessoas ao redor. Reconheci o brilho do cabelo de Sky como se fosse um farol. Uma orla prateada que refletia às chamas. Recuei um pouco para entre as árvores. Ela estava com Declan, minha irmã e outras pessoas. Tudo o que eu queria era ir lá agora, arrastá-la e discutir em um lugar privado. Meu lobo estava inquieto. Sentia suas garras em meus dedos, pedindo para sair. Sentia seu instinto me mandando reivindicar o que era dele. Uivar.

Como se pudesse sentir minha presença, Sky virou quase cento e oitenta graus de supetão, encarando o ponto onde eu estava. Não que ela pudesse me ver, embora eu soubesse que ela saberia da minha presença, como eu soube da dela enquanto me observava com Camille.

Venha. Venha. Venha.

Eu pedia. Eu instigava. Desafiava. Implorava. Venha ate mim.

Mas ela não veio. Nem viria por um longo tempo.

Skylar.

A sensação de que ele me encarava deixava minha coluna reta. Dec estava ao meu lado e notou a mudança. Graças aos céus ele parecia antecipar o que era antes que eu verbalizasse em voz alta. Não queria deixar Lana constrangida, sem contar que Lyna poderia querer levar isso como insulto e partir para uma briga. Ok, ela com certeza iria querer brigar, e eu não queria estragar a noite dela com Liam, uma das milagrosas pausas em suas brigas. Essa paz não iria durar mesmo.

Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora