Viva la vida

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Eu costumava dominar o mundo

Mares se agitavam ao meu comando

Agora, pela manhã, durmo sozinho

Varro as ruas que costumava possuir

 

Eu costumava jogar os dados

Sentia o medo nos olhos dos meus inimigos

Ouvia como o povo cantava

"Agora o velho rei está morto!

Vida longa ao rei! "

Um minuto eu detinha a chave

Depois as paredes se fechavam em mim

E percebi que meu castelo estava erguido

Sobre pilares de sal e pilares de areia


Ela pareceu murchar na cadeira. Nenhuma das duas falou nada, mas minha mãe a tirou da sala antes que eu fizesse algo que com certeza iria me arrepender, por mais que me desse prazer esganar uma das duas. Elas nem tinham fechado a porta quando começaram a sussurrar freneticamente, provavelmente conspirando.

Precisava achar um jeito de separar essas duas imediatamente, ou estaria ferrado.

Sentei à cabeceira da mesa, me servindo de ovos e bacon, apesar de já estarem ligeiramente frios. A porta se abriu atrás de mim, mas não me virei para ver quem era. O cheiro era de Lana, misturado com um odor de gato insuportável.

-Dormiu com os gatos mais uma vez, maninha? – Perguntei, tentando não pensar que ela poderia muito bem me dar um relatório completo do que Sky estava fazendo. – Parece mais que caiu da cama. – comentei, quando vi sua aparência.

O cabelo de Lana estava bagunçado, como se tivesse levado vento demais, e ela vestia uma jaqueta que eu reconheceria em qualquer lugar. O jeans também não era dela, nem a camiseta.

-Demos um mergulho na praia de madrugada. – Ela explicou minha indagação muda. – Peguei algumas roupas deles emprestadas.

-Mas uma escova para seus cabelos elas não tinham, né? – Impliquei.

-Na verdade, vim de moto com a Sky. – Minha irmã ruborizou. – Nunca tinha estado numa moto antes e...

Mas eu já não estava mais ouvindo, e sim correndo em direção a porta. Claro que ela já havia ido embora, mas ainda assim... Ainda assim, nada. a frente da casa principal estava tão vazia quanto sempre, apenas com as marcas de pneu que não estavam ali mais cedo.

-Se tivesse esperado eu terminar de falar, - Lana resmungou às minhas costas – teria ouvido que ela já tinha saindo daqui antes mesmo de eu entrar.

Recostei-me no portal, suspirando.

-Ela não me atende, Lan. – Resmunguei.

-Eu sei. O celular fica no quarto. – Minha irmã respondeu, me puxando de volta para tomarmos café da manhã. – Para falar com ela você teria que ligar para Declan. Ou para mim. Mas quando me liga, você nunca pergunta sobre ela.

-Não achei que precisasse perguntar a você sobre ela. – Retruquei. – Como ela está?

-Vai contra o código de amigas passar informações para o ex namorado. – Minha irmã riu de mim.

-E o código dos laços de sangue? – Perguntei indignado. – Vou ter que mendigar por informação?

Do outro lado da mesa, ela ria abertamente, jogando a cabeça para trás. Bom saber que era divertido para alguém, porque para mim não era nada interessante.

-Deixe ela de mão. – Foi o conselho da peste. – Nem tão cedo Sky quer saber de você. Principalmente com Declan ao lado dela, contrastando. Eles antecipam os movimentos um do outro como que por telepatia.

O lobo estava inquieto dentro de mim. Podia ver minhas unhas se alongando, querendo rasgar. Ciúme, no modo mais primitivo.

-Eu acho... – Lana começou a falar, olhando em meus olhos. Eu sabia que minhas pupilas estavam mudando. – Que você deveria parar de reclamar e fazer alguma coisa. O irmão que eu conheço nunca ficaria aceitando ordens da mamãe.

-Mas ela é uma maldita cabeça dura, Lana! – rosnei.

-Então seja mais cabeça dura do que ela! – Ela respondeu no mesmo tom. – Ou deixe que viva a vida dela em paz.


Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora