Cativeiro

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Sky

Era escuro. Frio. Tudo doía. Tentei tirar meu cabelo do rosto, mas algo impedia que eu movesse minhas mãos. Correntes. Não registrei aquilo de imediato. Eu não estava suspensa. Mas não tinha como sentar também. As correntes me obrigavam a ficar de pé. Eu não conseguia pensar mais do que isso. E a sede. Parecia que nunca havia bebido água.

Não lembro a última vez que bebi água. Nem que comi, falando nisso. Pensando bem, como eu cheguei ali? Era tão escuro. Queria me sentar. Choraminguei. O que estava fazendo ali? Algo estava errado. Mas havia tanta dor...

Risadas ao meu redor. Depois grunhidos. Raiva... tanta raiva. Ouvi um estralo. E então começou.

A primeira chicotada acertou em cheio minhas costas. Não era um chicote normal. Sua ponta se dividia em cinco, com pequenos espinhos. A reação certa seria gritar, mas não havia som saindo de mim. O que havia de errado?

-Insolente. – A voz me disse, sussurrando em meu ouvido. Era ácida. E eu a conhecia. – Nunca mais irá fugir. Não de mim.

Outra chicotada. Dessa vez gemi. Doía. Muito. Eu queria chorar. Mas não havia lágrima. Nem mesmo conseguia ver o que estava diante de mim. Tentei retirar minhas mãos das correntes, mas nem mesmo consegui me mover. Eu não conseguia me defender. Não era uma decisão racional. Havia algo em mim que me impelia a não ceder. E algo que me impedia de reagir. Estava dormente. Onde eu estivera antes de chegar ali?

Outra chicotada. Mais risadas quando dessa vez, definitivamente, gemi em protesto.

-Cuidado com a animação, Elliot. – Outra voz masculina, dessa vez mais longe de mim. – Você só quer que ela seja uma menina obediente, assim como sua mãe. Não precisamos dela quebrada.

Minha mãe? Eu lembrava de minha mãe. Ela era uma feiticeira. O cabelo cor de prata. Ela me colocava para dormir. Era forte. Mas fraca. Sempre se dobrou aos desejos do meu pai. Nunca a entendi.

-Deixe que ela saiba quem está no comando. – Uma terceira voz, dessa vez de mulher. – As proteções dela foram ativadas quando a pegamos, e não temos forças para derrubá-la. Só será útil para seus planos se ela fizer de boa vontade.

Minhas proteções? Ah sim. Lembro delas. Queria lembra o que faziam, mas era inútil. Isso me escapava. Ouvi um rosnado dessa vez. Vindo de dentro de mim. A loba. Minha mãe havia me dito algo sobre a fera. Ela me pediu para nunca me unir com ela, não foi isso? Não tenho certeza. Só lembro que, quando eu era criança, todos esperaram que me unisse a ela na Primeira Caçada. Mas eu a rejeitei. Por muitos anos. E então a domei.

Foi a maior decepção que dei a minha mãe. Mas ela amava meu pai e ele tinha a fera. Por que em mim seria diferente? Porque eu nunca poderia ter a fera e o amor dela?

-Esse foi o erro com a vadia velha. – A segunda voz masculina de novo. Era muito familiar. Lucan? – Apesar de completamente dócil, ela nunca quis realmente ter outra criança. Depois da decepção dessa daí, era de se esperar que quisesse uma prole mais forte. Para herdar os poderes dela, o meu clã. Um macho forte. – Sim, sem duvida era meu pai.

Mais chicotadas vieram. Eu queria gritar. Por que ninguém vinha me salvar? Havia alguém, não havia? Eu estivera com ele. Por que ele não estava aqui comigo? Por que me deixava sofrer? Devo ter falado em voz alta, porque o que me chicotava, Elliot, sussurrou novamente em meu ouvido, me dando calafrios.

-Havia sim. Cameron. Você deitou com ele como uma puta barata. Mas sabe o que? Ele não virá. Ninguém virá. Ninguém se importa com você.

Isso não era verdade. Minha mãe me amava. E ele, o lobo castanho, me queria. Eu estive com ele mais cedo. Ou fora no dia anterior? Cameron viria por mim. Ele tinha que vir. Eu era dele, não era? E ele era meu.

Mais dor. Mais risos.

Os dias passaram. Eu não recebia água. Nem comida. A fome e a sede não me deixavam. Cameron não vinha. Minha loba não estava acessível. E uma parte de mim faltava. Não conseguia me mover. Depois de uns dias, eles abandonaram o chicote. Ferro em brasa marcou minhas pernas. Depois meu estômago. No outro dia, algumas coisas rastejavam pelo meu rosto. Inconscientemente, entendi que eram sanguessugas.

Elliot sempre estava por perto. Quando as finas laminas afundaram em minha bochecha, foi a primeira vez que chorei. Consegui sentir as lágrimas descendo quentes, como o sangue.

-Depois de hoje, você não será bonita para mais ninguém... – Elliot, o meu carcereiro, meu torturador, se vangloriava. – Você não tem opção. Cameron te abandonou. Sua mãe te abandonou. Você só tem a mim. Por que não me deixa cuidar de você? É só ceder, que eu faço toda a dor parar.

Meu corpo me pediu isso. Não dava mais para aguentar a dor. Semanas passaram. Ninguém tinha vinha por mim. Instintivamente, sabia que se abrisse a boca para responder a isso, as palavras sairiam. Se permitisse, ele seria meu dono. Dor, fome, frio... Tudo passaria. Então algo aconteceu. E eu respondi.

-Faça seu pior. – Mas não era eu respondendo. Era a loba.

E então eu quebrei. 


Naked - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora