Naked - Em Revisão

Deal

Skylar.

Estávamos em trânsito há mais de uma hora sem trocar palavra. Imagino que a cabeça dele esteja fervilhando de curiosidade e expectativas. Eu sei que a minha estava cheia de perguntas não respondidas. O que ele faria comigo?

Eu poderia atacá-lo e fugir, mas meu tornozelo, apesar de melhor, não conseguiria me salvar em uma perseguição com ele, a não ser que eu ficasse ainda mais exposta sobre quem sou. Sem contar nos outros caçadores que ele afirmou sentir. Eu também senti algo, mas foi muito leve, pois não refizemos o mesmo caminha do que quando viemos. Demos a volta por fora da cidade antes de sair. Eu poderia lidar com um, dois, até três lobos de uma vez. Mas quem sabe quantos seriam? E por quanto tempo ficariam caídos? Transmorfos têm metabolismos únicos.

-Então. - Eu resolvi tirar a dúvida de uma vez. - O que vai ser? Vai me entregar ou tentar me manter como escrava? Vou logo avisando que não sou submissa, então a última opção seria uma péssima ideia.

-Não sei o que fazer com você ainda. - Ele admitiu, apertando o volante com força, mas não olhando em minha direção. - Tudo o que eu quero é voltar para casa e considerar minhas opções.

-Você não tem muitas. Ou me entrega para o Conselho ou me mantem com você.

Na verdade, essa era a versão resumida. Ele poderia me entregar para o Conselho viva ou morta, poderia me manter como parte do clã dele, poderia me manter como escrava, e, é claro, a opção utópica que ele nunca consideraria, poderia me deixar ir embora. Eu não era tão sortuda.

-Não vou dar tempo para você armar uma fuga antecipando minha decisão. Enquanto eu estiver dirigindo é perigoso para você me acertar.

E quando estivéssemos em casa, ele teria como me manter cativa. Era esperto da parte de Cam, tenho que admitir. O que não me deixava nem um pouco confortável com o que quer que fosse acontecer.

Já era quase meio dia quando finalmente estacionamos na garagem da casa de Cam. Engraçado como agora eu deveria estar realmente nervosa e acabou que estou mais calma do que antes. Talvez fosse a certeza de já estar ferrada.

Ele me trancou no quarto sem dizer uma palavra, o que me deixou meio puta mas também aliviada. Eu simplesmente não sabia mais como agir com todo o silencio dele.

Não sei quanto tempo fiquei esperando em torno da decisão dele, mas foi o bastante para que eu me entediasse, checasse as rotas de fuga pela janela - impossível desde que eu estava a uma altura de quase quatro andares - e pelo banheiro - que me jogaria contra as pedras de um penhasco, - o que me fez ficar encarando o teto e observar o sol se pôr a partir da sombra na parede.

Quando ele entrou no quarto, já era noite e eu não havia acendido as luzes, mas pude ver que Cam franziu o cenho na penumbra, procurando o interruptor.

-Eu não vou entregar você. - Ele disse deitando na cama ao meu lado e também encarando o teto.

-Dou uma péssima escrava. - Avisei, a fim de não deixar que ele soubesse que aquela era melhor opção para que eu fugisse.

-Também não vou requerer você como escrava. Mas quero que cumpra sua parte no acordo e termine seu mês aqui.

Meu coração falhou uma batida.

-E depois o que?

-Você faz o que quiser. Mas não nego que seria mais vantajoso para nós dois que permanecesse na ilha.

-Por que?

-Porque grupos de caça não são permitidos aqui, então você ficaria segura. E ao mesmo tempo eu teria uma aliada caso alguma alcateia decidisse me desafiar. Claro que você teria que ser mais civilizada ao meu respeito. - Ele respondeu soando muito mais lógico do que eu lhe daria crédito.

-Então é um acordo de mão dupla? Eu cubro suas costas e você cobre as minhas?

-Se você quiser ver desse jeito... - Ele suspirou. - Você é imprevisível demais para que eu tenha que vigiar sempre. Melhor te ter como aliada do que escrava. Mas não se preocupe, você tem um mês para decidir.

Nós dois ficamos em silencio por um tempo. A proposta dele era tentadora para mim. Claro que ele não sabia o que estava me prometendo. Porque encrenca era meu nome do meio e com certeza um dia me achariam ali e iriam fazer guerra com Cameron e seus lobos.

Me virei e apoiei em um cotovelo a fim de olhar para ele.

-O que seu conselho falou disso?

-Eu não levei o assunto ao concelho. Como sendo o único que 'caçou' você, os direitos de decisão eram exclusivamente meus.

-E o quanto você vai compartilhar com eles sobre essas informações?

-Nada até que seja extremamente necessário. Existem alguns radicais que acreditam que a melhor bruxa é a que está morta. - Ele respondeu também se apoiando no cotovelo para me encarar.

Tentei não me ofender com o termo bruxa. Obviamente, eu preferia Feiticeira, mas não iria bater boca por isso.

-Então eu acho que temos um trato. - Respondi, selando o acordo com um leve selinho nele. Cameron me olhou como se eu houvesse declarado que iria destruir a casa, tamanha a surpresa dele com o beijo. Então me vi na obrigação de explicar. - Entre as feiticeiras, a única maneira de ter certeza sobre um trato é quando ele é selado com um beijo. Nós não podemos quebrar.

-Bem, então é melhor termos certeza de que não haverá nenhum risco. - Ele sorriu e antes que eu me desse conta, a boca dele estava na minha, com seu peso por cima do meu corpo e nossas línguas brincando uma com a outra.