10. Vinte e Nove - Parte I

651 54 14
                                    

Juliette foi se mexendo na cama e retomando a consciência aos poucos. O calor característico de um corpo enroscado no seu, abraçando a cintura dela possessivamente, foi um dos primeiros sinais que absorveu do ambiente.

Ao contrário do que previra antes de capotar para o sono, não sentia dor de cabeça. Tinha bebido um pouco além da conta, provocado também um pouco além da conta e, finalmente, tinha se envolvido com a terceira Beatriz que se aproximava dela.

Virando-se com cuidado para não acordar a outra, Juliette se pôs a observar seu rosto adormecido. Um sorriso involuntário brotou em sua face, e logo as costas de sua mão acariciavam o ombro descoberto de Beatriz.

– Linda... – sussurrou.

Se acordou, Beatriz não deu qualquer sinal.

Outra vez com extremo cuidado, Juliette tentou enxergar o relógio. Nove e meia da manhã! Em seguida, o telefone começou a tocar.

"Droga!" pensou. Beatriz continuava com o sono pesado e Juliette resolveu atender a ligação:

– Alô?

– Beatriz, sua doida, onde você se meteu?

Era a chefe das secretárias. E, felizmente, não tinha percebido quem realmente atendera. Antes que Juliette precisasse desfazer o engano, a outra continuou:

– Você tem meia hora para aparecer, ou não conseguirei mais inventar desculpas!

E desligou.

Juliette tinha conseguido resistir tão bem às investidas da colega, mas no dia anterior, alguma coisa tinha mudado. Quando Beatriz entrou em sua sala, lembrando do compromisso que haviam marcado, a morena só queria saber de sumir da Martelli & Andrade .

Com cuidado, acordou Beatriz e avisou sobre o telefonema. As duas se arrumaram às pressas e dividiram uma corrida de táxi até o escritório. Beatriz subiu na frente e Laura ficou fazendo hora na rua, de modo a não levantarem suspeitas.

Quando finalmente entrou na sala que ocupava, viu os três novatos detidos em suas tarefas. Nenhum deles comentou seu atraso, afinal, Juliette só cumpria horário depois do almoço, em tese nem precisaria estar ali.

Depois de ligar o computador, com um sorriso nos lábios, a garota colocou seus fones de ouvido e seguiu a leitura de um artigo. Estava preparando uma nova apresentação para o próximo congresso que surgisse. Já conseguia vislumbrar um currículo recheado e a idéia de ficar mais conhecida entre os seus pares lhe agradava muito.

Cumprindo um plano que tinha em mente havia bastante tempo, Juliette se levantou, apanhou uma pasta e entrou na sala de Sarah . Como estava ouvindo música, cantarolava a letra baixinho:

– Perdi vinte em vinte e nove amizades, por conta de uma pedra em minhas mãos. Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes...

Ciente do olhar curioso da advogada na sua direção, olhou pra ela por um instante.

– Bom dia, Sah– cumprimentou, animada.

Sarah não respondeu, e voltou a se concentrar no documento que lia. Juliette voltou a cantarolar:

– Passei vinte e nove meses num navio... E vinte e nove dias na prisão... E aos vinte e nove, com retorno de Saturno, decidi...

Sarah pigarreou, interrompendo Juliette .

– O que está fazendo? – perguntou a advogada.
– Anexando ofícios em processos velhos – respondeu Juliette . – Nada que necessite da sua atenção.

– Já terminou?

– Quase lá – disse a morena , voltando a se virar para a prateleira.

Sarah aguardou em silêncio, até que a estagiária se retirasse. Assim que ela fechou a porta, a advogada esfregou o rosto cansado com as duas mãos, suspirando. O bom humor das pessoas, em geral, costumava lhe irritar. Quando era tão evidente, assim como o de Juliette , era pior ainda.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora