15. Manipulação - Parte I

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Pocah acordou com aquela sensação, para ela tão rara, de que seu corpo e sua mente haviam realmente repousado. Virando-se na cama, encontrou-a vazia. Tateando os lençóis, pela temperatura concluiu que Sarah tinha se levantado há bastante tempo.

Preguiçosamente, Sarah deixou o leito e se arrastou até o banheiro. Vestiu apenas um robe sobre a camisola antes de sair pelo flat à procura da namorada.

– Sarah ...?

A advogada ocupava uma das poltronas da sala, lendo um jornal local. Ao lado dela, Pocah localizou uma xícara de café.

– Bom dia – Sarah se voltou na direção dela. – Dormiu bem?

Pocah não reprimiu o sorriso.

– Uhum. E você?

Sarah confirmou apenas movendo a cabeça, deixando escapar um pequeno sorriso antes de mirar o jornal outra vez. Pocah logo avançou mais alguns passos, colocando-se atrás da poltrona dela. Enquanto espiava as manchetes, arriscou um afago na nuca de Sarah , e foi bem recebida.

– Tomara que seu professor não tenha decidido fazer nada importante na aula de hoje – comentou Sarah .

– Aula? – só então Pocah se lembrou de seus compromissos. – Nossa! Que horas são?

Sarah riu.

– Tarde demais... – fez um gesto vago com uma das mãos.

Pocah acabou rindo também. Houve um semestre, o último antes de Pocah começar a namorar com Silvia, em que a estudante sempre tinha aula nos sábados de manhã. E mantendo o costume do grupo de amigos, Sarah e Pocah sempre saíam na sexta à noite.

Para Pocah , aquela manhã ali no Canadá era como uma repetição daquela época. Sarah , toda sóbria, sutilmente achando graça dos deslizes acadêmicos de Pocah . E aquele clima velado entre duas pessoas que sempre tinham sido muito mais do que apenas amigas.

Depois de toda a verdade revelada, Pocah quase não conseguia acreditar que as duas tinham deixado de enxergar o óbvio por tanto tempo. Nenhuma delas era discreta. Havia sempre um abraço mais apertado, um olhar que durava aquele precioso e inexplicável segundo a mais. A desculpa de alcançar alguma coisa para fazer um afago, ou a estranha mania de lerem o mesmo jornal, ao mesmo tempo, apenas para que seus rostos ficassem próximos.

E Pocah repetiu todo aquele ritual. Se entendeu, se deu-se conta, Sarah não mencionou.

– E pensar que eu fui dormir tão cedo... – Pocah retomou o assunto da aula perdida.

Sarah sorriu maliciosamente.

– Verdade... – deixou um risinho escapar ao final.

A morena a abraçou pelas costas, arriscando-se a um beijo no pescoço de Sarah .

– Eu te amo... – sussurrou.

Sarah suspirou.

– Eu também.

O dia inteiro foi assim, uma reaproximação lenta, mas bem intensa. Os beijos foram poucos, mas demorados e cheios de afeto.

Enquanto o sol se punha, e as duas assistiam da janela, Pocah voltou a pensar no encontro de Sarah com Maria Augusta. Seu primeiro instinto foi sofrer ao imaginar sua namorada nos braços de outra, mas logo em seguida ela lembrou das palavras de Sarah . Pensou não só no fato de ela ter jurado que nada romântico aconteceu, mas principalmente na parte em que Sarah implorava por um voto verdadeiro de confiança.

– Amor? – Pocah chamou.

– Hum?

– Então... Como foi a sua conversa com a Guta?

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora