11. Vinte e Nove - Parte II

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Sarah largou as chaves sobre o balcão e foi direto para o banho. Depois, enquanto secava os cabelos, olhou-se no espelho com mais atenção.

"Você quase não tem rugas" dissera Juliette . Um quase que, em casos como aquele, fazia toda a diferença.

Seus pais haviam deixado quatro recados na secretária eletrônica, o último deles bem apelativo, exigindo que ela ligasse assim que ouvisse. Mesmo que soubessem que ela detestava o dia do próprio aniversário, sentiam falta da filha caçula que tinha se afastado tanto deles a ponto de parecer uma estranha.

O motivo de Sarah preferir sempre esquecer aquela data era o inevitável encontro que ela representava entre o passado, o presente e o futuro. Completar especificamente vinte e nove anos era ainda mais complicado. Era uma década de diferença entre o primeiro aniversário sem Guta e sua vida atual.

Dez anos que se arrastaram para um coração cada vez mais apertado, mas que ao mesmo tempo tinham voado como num piscar de olhos.

Também fazia exatamente um ano desde aquele beijo onde Pocah lhe roubou o fôlego, a calma, a razão, a segurança de uma escolha que no final se revelou errada.

Os passos da advogada a conduziram exatamente para a varanda onde ocorrera o beijo. Inevitável foi o sorriso que brotou com a lembrança. De porte do seu celular, ligou para a namorada:

– Pocah ?

– Oi, amor!

– Já está em casa? – quis saber Sarah .

– Acabei de chegar.

As duas tinham se falado pela manhã, de modo que a  mais nova não se ocupou de dar os parabéns de novo.

– Adivinhe onde eu estou... – desafiou Sarah .

– Na cama? – arriscou Pocah , com malícia.

Sarah riu, pensando que aquela também teria sido uma ótima idéia.

– Hmm, não. Na varanda. Digamos que eu estava pensando no último presente de aniversário que ganhei.

Pocah suspirou longamente. Aquilo ainda trazia recordações muito intensas de todo o tempo que fora mantida afastada de seu amor.

– Sem o menor esforço eu consigo lembrar da sua reação.

Sarah riu, envergonhada.

– É mesmo?

– Consigo lembrar de como você se entregou completamente àquele beijo.

– E não era isso que você esperava, amor ?

– Só nos meus melhores sonhos.

Ficaram em silêncio por algum tempo, até Pocah retomar a fala:

– E como foram as coisas no escritório?

– Tudo normal. Caso novo. Vai ser complicado, mas...

– Mas nada que seja páreo para a Doutora Andrade , né?

Encabulada, Sarah apenas riu.

– E as suas aulas?

– Idem. Tudo normal. Você está muito cansada?

– Não... Por quê?

– Alguma coisa na sua voz – arriscou Pocah . – Sabe que eu lhe conheço muito bem, não?

Com as costas apoiadas na mureta da varanda, Sarah decidiu falar:

– Nada sério. Sabe como eu fico nesse dia... Um ano a mais, um ano a menos, aquela coisa do tempo. Quase trinta... É só um número, mas...

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora