38. A carona

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Juliette afivelou o cinto com pressa. Sarah deu a partida no carro com a mesma destreza de sempre, e um olhar estranho. Era terça à noite, e as duas haviam trabalhado o dia todo.

– Seus pais chegaram bem de viagem? – perguntou Juliette , para quebrar o gelo.

– Uhum.

– Uma pena que não puderam ficar mais...

– É...

– E você, pelo visto, não está a fim de conversa...

A advogada respirou fundo, fazendo uma careta.

– Desculpe, Ju– forçou um sorriso. – Tive um dia estafante.

– Imagino...

– Bom, acho que ainda não lhe agradeci formalmente pelo final de semana – disse a advogada.

– Quem precisa agradecer sou eu – disse Juliette . – E não é só por ter me divertido ao ver você em maus lençóis. Não entendo como você pode se sentir tão incomodada com eles... A sua irmã é adorável e os seus pais... Eles são indescritíveis. São amáveis, são inteligentes, descontraídos, divertidos e desafiantes. Eles são perfeitos!

Sarah riu sem graça.

– Eu sei – comentou, timidamente.

A morena ficou encarando a amiga até que ela completasse:

– Esse é exatamente o problema.

– Não sei por quê...

Mais uma vez, Sarah tomou fôlego vagarosamente, como se precisasse de força para continuar aquela conversa:

– Você deve ter percebido que eu sou a "ovelha negra" no meio deles.

Juliette riu simpaticamente.

– Você é a ovelha negra em qualquer lugar, Sarah .

Como resposta, a advogada deixou um sorriso contido brotar. Juliette continuou:

– Mas a sua família não parece se incomodar com isso. Acho que eles sempre souberam que você é assim.

– Assim?

– É, assim... Tão... – Juliette ficou pensando. – Nossa, como é difícil definir você!

– Não se sinta mal. Eles tentam fazer isso há vinte e nove anos e ainda não conseguiram.

– Eu discordo. Não acho que eles fiquem buscando uma definição. O que eu vi nesse final de semana foi uma porção de provas de que eles desistiram disso há muito tempo. Eles lhe aceitam. E curtem com a sua cara por causa disso. Então, na minha humilde opinião de jeca, a pessoa que mais se incomoda com uma possível definição de Sarah Andrade é você mesma. E, sabe, você não deveria fazer isso.

– E deveria fazer o quê?

– Aceitar.

– Achei que estivesse fazendo isso há muito tempo – argumentou Sarah .

– Não. Eu estou falando de realmente não se importar. E não de fingir, que era o que você fazia.

– Hum.

– De qualquer modo, foram dois dias maravilhosos. Lembra-se da conversa que tivemos sobre os meus pais?

– Sim.

– Eu estava errada. Eles não roubaram as minhas recordações. Eu é que estava perturbada demais para visitá-las do modo correto. Eu é que estava me punindo, inconscientemente.

– Por que pensa assim?

– Ah, sei lá. Mas vendo você e a Roberta com os seus pais, eu me dei conta de que estava analisando a relação de vocês. Percebi que eu ainda tenho uma bagagem bem grande não só de lembranças, mas de considerações sobre isso, e de alguma forma eu estava me negando a usá-las.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora