Por intuição ou porque conhecia muito bem a namorada, Sarah já imaginava que o acerto de contas com Juliette demoraria um pouco mais.
Durante a tarde, a advogada ligou duas vezes para o escritório, certificando-se de que a estagiária estava lá. Mas com o passar das horas, e sabendo que Juliette deveria estar realmente muito ocupada, a advogada percebeu que ela iria se atrasar.
Quando Juliette chegou em casa, mal teve tempo de tomar um banho e apanhar suas coisas antes de ir para a faculdade. Num diálogo rápido, a garota falou do cliente que tinha encontrado mais cedo e do clima agitado no escritório por causa do julgamento do professor. Sobre a manhã e o almoço com Beatriz, não proferiu uma única palavra. Sarah não quis perguntar.
Do mesmo modo, percebeu que a morena estava curiosa para saber o motivo de Sarah não ter ido pessoalmente ao julgamento, mas igualmente não fez perguntas a respeito. Parecia um acordo tácito de não estender aquela troca fria de palavras, de guardar o essencial, o que realmente importava, para quando nenhuma delas precisasse ficar com um dos olhos no relógio.
Depois que Juliette saiu, a advogada ficou se distraindo com os jornais, até receber uma ligação de Elias. O juiz havia acabado de se manifestar. Ordenando que Elias mandasse os três novatos para o escritório, Sarah desligou sem se despedir.
Apesar de serem quase dez horas da noite, uma das secretárias e o doutor Figheira ainda estavam lá, de modo que o andar não estava completamente deserto.
– E então? – interrogou Sarah , assim que os três entraram em sua sala.
O semblante deles deixava claro o seu cansaço físico e principalmente mental. A advogada sabia muito bem como era um dia de julgamento. Imaginava que seus assistentes não tivessem sequer se alimentado direito desde o café da manhã.
– Bem, Sarah , aaam... – apesar da coragem em começar a falar, Cristiane não conseguiu ir adiante.
– Eu já sei do veredito, seus tolos. Condenações são sempre mais rápidas. Além de terem perdido a causa, algum incidente extraordinário?
Os três se entreolharam sem entender o que se passava. Se pela manhã o humor de Rebecca estava terrível, dessa vez ela parecia calma. Mais do que calma, até. Ela parecia tranquila demais...
– Vou entender esse silêncio como um "não" – adiantou-se Sarah .
– Você disse que poderíamos escolher – disse Matheus, em sua insegurança tão característica. – E até optamos por seguir o caso que montamos desde que o cliente chegou até nós...
Sarah estreitou os olhos.
– Não foi o que pareceu, pelo que Elias me contou...
Felipe corrigiu o colega:
– Sim, escolhemos a primeira pasta depois de sairmos daqui, mas antes do julgamento começar, mudamos para a segunda.
Todos esperavam que a advogada perguntasse "por que", mas se ela ficou mesmo curiosa, não deu o menor sinal disso. Pelo contrário, aproveitou para tripudiar um pouco:
– Vocês falam disso como se tivessem enfrentado um dilema salomônico – fez um gesto qualquer com a mão. – Imagina se eu tivesse lhes entregado a terceira pasta!
Estarrecidos, os três permaneceram calados pelos instantes seguintes. Enquanto isso, Sarah abria uma gaveta e retirava três pastas de capa amarela.
– Não querem dar uma olhada? – sugeriu a advogada.
Timidamente, cada estagiário apanhou um exemplar. Enquanto eles liam, Sarah aproveitou para se refestelar em sua cadeira, cruzando as mãos atrás da nuca e apoiando os pés sobre a mesa. Quase poderia ter acendido um cigarro ali mesmo, mas o fato da sala ter pertencido a Antenor por tanto tempo a deixava menos confortável.
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O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )
FanfictionFinal desse triângulo, e acreditem luazinhas. Vencemos .