61. FINAL PARTE I

833 55 40
                                    

Sarah se inclinou sobre o criado-mudo ao lado de sua cama e voltou à posição original tragando um cigarro, completamente confortável, mas ainda não saciada.

– Não sei como ainda tem fôlego para fumar, depois de tanto exercício... – brincou Pocah .

Soltando a fumaça que antes preenchia seus pulmões, Sarah não respondeu. Tampouco se moveu enquanto Pocah se acomodava em seu ombro, suspirando audivelmente.

Ainda em silêncio, a advogada apagou o que restara do cigarro no cinzeiro e se levantou.

– Aonde vai? – quis saber a morena , se apoiando sobre cotovelo.

– Tomar uma chuveirada.

Expondo um sorriso cheio de intenções, Pocah fez menção de levantar também.

– Nesse caso, te acompanho...

A advogada hesitou.

– Se importa se...

E não completou a frase. Mas pelo menos a garota entendeu.

Até então, Sarah tinha conseguido evitar qualquer tipo de comparação, mas enquanto a água morna caía sobre a sua pele, foi impossível não pensar em Juliette , não lembrar das dezenas de vezes em que tinham feito amor ali mesmo.

Depois das circunstâncias terem feito Sarah lembrar, a letargia daquela manhã foi substituída por uma raiva urgente. Por muito pouco a advogada não interrompeu o banho e convidou a outra para finalmente satisfazer sua vontade.

Noutros tempos, ela sequer piscaria antes de levar o plano a cabo, mas pelo menos uma coisa boa vinha daquela série de decepções e era o fato de que Sarah já conseguia pensar um pouco em como suas atitudes afetavam os sentimentos alheios.

E nem a garota nem ninguém merecia que Sarah fizesse aquilo por raiva de outra pessoa, por destempero com seu fracasso, ou simplesmente para esquecer uma dor que só ficava maior a cada dia.

Passada uma semana do término definitivo, Sarah ainda não havia reencontrado Juliette . A estagiária pedira uma semana de folga no escritório para passar pelas provas finais do curso de Direito, e a própria advogada quase não tinha pisado em sua sala, arranjando todos os motivos possíveis para visitar clientes, de preferência, os que estivessem bem longe e ocupassem todo o seu tempo.

Em seu primeiro final de semana sozinha, Sarah acabou ajudando Fabiana e Pocah a arrumarem o apartamento novo. Pelo menos essa foi a desculpa, pois na verdade ela se limitou a fumar na janela da sala e vez ou outra sugerir o melhor lugar para algum móvel.

Naquela mesma noite, dois dias antes, quando Fabiana as deixou a sós, acabou dormindo com Pocah , repetindo a dose outras duas vezes, sendo a última delas em sua própria casa.

Enquanto Sarah não voltava, na cama, Pocah pensava mais ou menos na mesma coisa que a advogada. Até então a morena não tinha do que reclamar, muito pelo contrário, ela se perdeu e se achou nos carinhos e afagos de Sarah . Imersa nos lençóis, tinha vivido plenamente tudo o que vinha imaginando desde que voltara ao Brasil.

Mas Sarah ficava distante no momento em que seus corpos se separavam. Para Pocah , restava pensar que a advogada precisava de um tempo para assimilar aquela nova situação, tamanha a intensidade dos momentos vividos por ambas.

Porém naquela manhã, da terceira em que acordava nos braços de Sarah , Pocah finalmente se deu conta de que estava esperando por uma confirmação que não viria nunca. E isso não apenas com relação à advogada, mas principalmente aos próprios sentimentos.

Se as coisas fossem realmente como ela tinha imaginado nos meses de separação, já era para as duas estarem muito mudadas, e elas não estavam. Na verdade, eram apenas duas mulheres com um passado intenso que nunca permitiria um presente completamente vazio... Só que a situação não foi, nem jamais iria, muito além disso.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora