54. O Triângulo - Parte I

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Somente muito tempo depois que o choro de Juliette havia cessado, e com a certeza de que a garota finalmente adormecera, Sarah deixou o quarto dela.

Com o corpo dormente, quase incapaz de carregar uma consciência tão pesada, a advogada cambaleou até o próprio quarto, somente para apanhar um robe. Sua única certeza era que não conseguiria pegar no sono.

Na sala, serviu uma dose tripla de uísque e foi com o copo até a varanda. Talvez o malte pudesse tirar aquele gosto amargo de sua boca, mas nem mesmo o álcool conseguia se sobressair a ele.

Quando o sol nasceu, Sarah estava deitada na rede, e já tinha repassado inúmeras vezes cada acontecimento decisivo do seu namoro com Juliette , como se revivendo os melhores momentos, pudesse tirar deles alguma força, uma razão para acreditar que elas não tinham se perdido.

Imaginando que a garota não iria para a faculdade de manhã, a loira deixou o café pronto na cozinha, tomou outro banho longo e resolveu ir trabalhar.

Como sempre, o escritório seria o seu refúgio, e o trabalho manteria a sua mente funcionando enquanto o coração batia apertado, temeroso, arrependido, moribundo.

– Nossa, que cara péssima!

– Não torra, Elias – disse ela, secamente.

– Pronta para entrar em ação de novo? – conferiu ele.

Só então Sarah se deu conta de que dia era aquele. Com a audiência de Juliette , tinha deixado seus próprios casos de lado. A administração do escritório também a consumia tanto, que ela nem lembrava mais como era poder se dar ao luxo de se dedicar integralmente aos seus clientes.

– Eu avisei pra não perder o foco... – Elias leu perfeitamente bem o significado do olhar dela.

– Saia da minha sala – ordenou Sarah .

– Mas-

– Suma!

Quando ele já estava na porta, a advogada ainda orientou:

– Chame a Cris, o Felipe e o Matheus aqui.

– Verei se já chegaram.

– Vá busca-los no inferno se for preciso.

Ele bufou sonoramente e enfim deixou a sala. Sarah aproveitou aqueles minutos para passar os olhos pela pasta do caso. Por sorte, tinha estudado tudo muito bem antes de... Perder o foco.

Lembrar de Juliette naquele momento lhe tirou o ar. Depois de pedir uma água para a secretária, pela linha interna, resolveu se levantar e encarar a janela.

A água chegou, e logo em seguida, os novatos também.

– Mandou chamar, chefinha? – brincou Felipe.

Quando ela se virou, os três se assustaram ao encarar o seu semblante. Apesar de não terem conseguido disfarçar, não fizeram qualquer comentário a respeito.

– Só conferindo se estão prontos para o julgamento – disse Sarah .

Eles se entreolharam e confirmaram. Pareciam nervosos, mas confiantes.

– Apesar de manter o meu nome à frente da defesa, eu não vou – anunciou a advogada . – Espero que a essa altura vocês já sejam capazes de não destruir uma reputação de anos em algumas poucas horas.

– Como é que é? – Cristiane perguntou num impulso.

A advogada nunca tinha sido de dar muitas explicações. Naquele dia, não agiria diferente.

– Mas é o caso do ano! – lembrou Matheus.

A advogada virou os olhos, encarando os três estagiários como se fossem patifes. De novo, ela não perdeu tempo se justificando. Partiu direto para os itens práticos.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora