59. Fim do Triangulo

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Pocah ficou feliz de perceber que Sarah estava bem mais desarmada que no começo da conversa. Durante o namoro delas, e principalmente depois do naufrágio desse, elas haviam perdido o dom de ter conversas verdadeiras, profundas ou simplesmente amigáveis.

– Eu poderia passar a eternidade lembrando e falando dessas coisas com você – disse a morena . – Mas preciso voltar a ser eu mesma, e portanto, chata...

– Pocah ...

A garota riu, depois sorriu.

– Sah... Por mais que você tenha se soltado agora e... Simplesmente não consigo esquecer dos outros dias em que estivemos juntas, depois que eu voltei. Sei que está acontecendo alguma coisa...

– Viviane , é melhor parar por aí – alertou a advogada.

– Desculpa, mas não vou fazer isso. Não agora que finalmente aprendi a lidar com você. Não vou aceitar o dito pelo não dito só porque você consegue ser realmente evasiva.

– Não tem nenhum dito por não dito.

– Sah... Hoje, agora, foi a primeira vez que você conseguiu conversar comigo decentemente, pelo menos a sós.

– Não sei se percebeu, mas isso é um lugar público.

– E se não fosse? Iria me desaforar como naquele banheiro? Teria sido ríspida como virou costume?

Sarah tomou fôlego devagar, mas acabou não dizendo nada. Pocah se adiantou:

– Eu só queria me certificar de que as coisas ficaram acertadas. Porque se não ficaram, eu estou disposta a resolver. Queria ficar tranquila e saber que vai ser sempre assim, como foi agora... Que poderemos realmente ser amigas.

– Me diga uma coisa, Pocah ... – a advogada voltou a sua velha postura mordaz. – É realmente a minha amizade que você quer? Sóamizade?

A garota hesitou. Por mais que quisesse ser grosseira, simplesmente não conseguiu fazer isso diante de Sarah , talvez porque o tema discutido fosse justamente a maior questão da sua vida, o que lhe deixava frágil e desarmada.

Já para a advogada aquele silêncio era um grande afago no ego que a ex-namorada tinha destroçado, tempos atrás. Talvez só naquele momento a advogada conseguiu compreender o tamanho do rombo que Pocah havia deixado nela.

– Estaria mentindo se dissesse que sim... – confessou Pocah , num tom de quem tinha sufocado aquela verdade por tempo demais.

A advogada sorriu à sua moda arrogante. Poderia até mesmo ter gargalhado, demonstrando quão satisfeita ficara com aquela resposta. Porém poucos segundos depois o contentamento se foi, revelando uma estranha amargura.

Apesar de como o namoro tinha terminado, antes disso, dezenas de vezes, talvez centenas de vezes, fora Sarah quem havia machucado Pocah , e mesmo que conseguisse ignorar aquilo, ela não tinha esquecido. Quem sabe até encarasse aquela culpa como vitalícia.

E lá estava a advogada, de novo, tentando cuidar de si mesma e fazer o melhor, e com isso ferindo Pocah . A advogada voltou a pensar que poderia se tratar de uma maldição.

– Você teve a sua chance, Pocah . E ao invés de me tomar pra sempre, só me fez acreditar que era um erro.

– Eu sei... – admitiu a garota. – Eu tive de perder você para perceber que era muito mais sério, muito mais profundo do que eu imaginava.

– Pocah ...

– Fique tranquila. Você está certa, amizade não é tudo que eu quero, mas é só o que eu posso oferecer nessas circunstâncias, e é de verdade, é de coração. Para o bem ou para o mal, eu ainda lhe conheço muito bem, e tenho certeza de que alguma coisa está machucando você, de um jeito que eu nunca vi.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora