35. O cliente nervoso

711 58 17
                                    

Dias depois, Matheus e Cristiane estavam ficando apreensivos com o estado de nervos de Sarah . Os três estavam trancados na sala da advogada, aguardando a chegada de Felipe, que deveria trazer um cliente importante consigo.

A dupla chegou quando Sarah já havia consumido a terceira xícara de café e fumava um cigarro na janela.

– Sente-se – ordenou ela ao cliente, sem nem ao menos cumprimentá-lo.

– Como vai, doutora? – saudou ele, com extrema polidez.

O sujeito era professor. Além dos bons modos e do semblante tranquilo, tinha nas costas uma acusação bem pesada: o estupro de um aluno.

– Espero que tenha aproveitado muito bem a sua primeira semana em liberdade de novo. Pode ter sido uma das últimas da sua vida, a julgar pelo seu comportamento na audiência – observou Sarah .

– Eu sinto imensamente se de alguma maneira atrapalhei o seu trabalho, doutora – desculpou-se ele.

Sarah se sentou em sua poltrona, lançando ao cliente um olhar de desafio que deixava claro que ela não poderia ser enganada pelo comportamento falsamente dócil dele.

– Eu consegui o seu habeas corpus – citou Sarah .

– Realmente, foi formidável, doutora. Uma apresentação memorável diante do juiz. Sinto que o meu caso não poderia estar em melhores mãos.

– Claro... Mas eu citei isso por causa do nosso acordo. Está lembrado?

Pacientemente, o cliente encenou uma clássica expressão de quem consultava a memória.

– Não sei exatamente do que está falando, doutora. Pode ser mais específica?

– Posso e serei. Mediante a revogação da previsão preventiva, você prometeu fornecer mais detalhes sobre o caso.

– Ah, sim, isso – ele se mexeu sobre a cadeira que ocupava.

– Sou toda ouvidos – disse Sarah .

Outra vez, ele se mexeu nervosamente na cadeira. Ao redor do cliente, Matheus, Felipe e Cristiane pareciam estar montando guarda. Seus olhos miravam a face do cliente quase sem piscar.

– Doutora... Será que... Seria pedir muito para termos essa conversa... Você sabe... A sós...?

– Os três ficam – Sarah respondeu de imediato. – Agora fale.

– Doutora... Procure ser um pouco razoável, veja que eu...

– Eles fazem parte da defesa. Agora nos poupe de uma discussão extensa que certamente você não vai ganhar, e fale de uma vez.

– Não vejo como eu poderia me sentir à vontade aqui. É como se eu estivesse sendo interrogado de novo.

– Vai ser ainda mais constrangedor diante do juiz. Minha paciência está acabando...

– Desculpe, mas eu não sou obrigado a passar por isso. Não depois de... Eu passei meses preso!

– E vai passar muitos anos ainda, se não responder algumas perguntas – Sarah estava quase perdendo a paciência.

– Posso pelo menos pedir um copo de água? Eu mal tive tempo de tomar café...

Sarah por pouco não bufou, mas recobrando a calma, encarou Felipe.

– Traga água, café e alguma coisa para ele beliscar. Pelo visto a conversa vai ser longa. E não precisa se apressar – orientou a advogada.

Na verdade tudo aquilo já havia sido ensaiado pelos quatro. E Felipe sabia que deveria esperar por um sinal de Cristiane para voltar até a sala. A garota estava com o telefone celular preparado, oculto no bolso do casaco.

O triângulo Sariette - 3 temporada ( Final )Onde histórias criam vida. Descubra agora