A G N E S
Eu estava de pé. Estava sentindo a fina dor irradiar do corte ainda recente do meu pé e sentindo que tudo tinha mudado. Meus sapatos teriam que ser adaptados para mim, para não ferir ainda mais meu pé com o espaço que ficaria vão.
Anne estava me chamando de mamãe pirata, por causa da falta de dedos e por eu estar mancando como os piratas. Ela me fazia rir da situação que estava me assustando.
Negan estava se recuperando e segundo as enfermeiras, estava em um estado bom e de melhora rápida. Só precisaria de mais alguns dias ou até mesmo horas para acordar e voltar a comunidade e as suas coisas.
Caminhei sozinha e em silêncio com as flores em minhas mãos até o túmulo de Ben, me sentando ao lado do mesmo e trocando as flores que estavam ficando murchas. Acariciei a armadura que estava ali e deixei as lágrimas escaparem.
- Me perdoa! Eu podia estar morta, eu podia ter deixado nossa filha sem ninguém por causa de uma ganância minha, por causa de... droga, Ben. Eu não devia ter insistido em entrar nessa guerra, não devia ter colocado a vida dessas pessoas em risco, não devia ter colocado a segurança da nossa filha em risco.
O silêncio era um incômodo. Eu queria que ele estivesse ali para brigar comigo, queria que estivesse ali para puxar minhas orelhas e dizer que eu havia feito merda e depois como sempre fazia, ele me abraçasse. Porra, eu sentia falta do cheiro dele e das risadas. Mas agora tudo estava se voltando para Carl.
O sentimento que antes estava escondido e quase apagado havia voltado de forma mais forte do que antes e eu já não sabia o que fazer para o combater. Na verdade, eu nem sabia se queria o combater. Eu queria sentir de novo. Mas sentia que estaria traindo Ben e tudo o que havíamos vivido.
- Chorando mais uma vez querida? - o senhor que cuidava dos túmulos se aproxima de mim e se abaixa - Indecisa sobre seus sentimentos?
- O senhor me conhece tão bem! - respondo limpando as lágrimas e o vendo se sentar ao meu lado. - Mas sim, estou indecisa.
- Me conte mais, posso te ajudar, você sabe que sou bom em conselhos.
É, eu sabia que ele era bom naquilo. Sabia porque tantas vezes ele já havia me ajudado e colocado de pé mais uma vez.
- Sabe o Carl, de Alexandria?
- Seu primeiro namorado.
- Isso - remexo na linha solta da minha calça - Ele tem ficado tão próximo, tem cuidado tanto de mim e da minha filha. Merda, ele tem se tornando importante de novo. E eu tenho medo. Tenho receio.
- Você viu a mudança que aconteceu entre ambos, não viu? Viu o quanto vocês dois evoluíram e mudaram ao longo de todos os anos e acontecimentos. Ele te trouxe de volta para casa. Quando ele te tirou de dentro daquele carro, eu juro querida, eu pude ver que ele daria a vida dele inteira pela sua. Carl Grimes não é mais o garota que você conta em seus livros, não é mais o garoto de 17 anos, não é mais uma criança em corpo de adolescente. Ele é um homem feito. Um homem que trouxe mudanças e alegrias para sua filha e para sua vida.
- Anne adora ele.
- Viu. Se uma criança se sente bem com ele, se uma criança se sente acolhida com ele, se sente protegida, ele é um bom homem. Todos podem ver. Ele te faz se sentir nas nuvens?
- Me faz ir do céu ao inferno e me faz me sentir protegida.
Minhas mãos tamparam meu rosto e eu suspirei, coçando as sobrancelhas.
- Querida, Benjamin te deu momentos inesquecíveis e te deu a chance de ser mãe. Ele te deu e ainda te dá forças de onde quer que ele esteja, mas está na hora de seguir em frente, está na hora de voltar aos trilhos e se abrir para o amor mais uma vez. Você é jovem, aproveita as chances que o mundo te dá. Não seja só a mãe, a líder, se dê a chance de amar alguém e de ser amada na mesma intensidade.
Um afago foi deixado sobre minhas mãos e ele sorriu, antes de se levantar e levar consigo as flores velhas e murchas que estavam ao meu lado.
- Pense com carinho! Pare de se preocupar com quem você perdeu e passe a se preocupar com as chances que pode poder se continuar com medo e parada no tempo. Viva Agnes! Apenas viva! Mude suas percepções!
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Estava em minha casa, na minha casa, a que eu ajudei a construir, com minha filha deitada ao meu lado enquanto dormia com seu urso de pelúcia em seus braços. Eu era o porto seguro dela. Beijei seus cabelos loiros e cheios de cachos em suas pontas e sorri ao vê-la sorrir também.
A vontade de não me levantar ali veio mais forte que qualquer decisão que eu precisasse tomar sobre a comunidade. Ela era minha filha. Ela precisava de mim e eu precisava dela ainda mais. Permaneci deitada, depois de puxar a coberta que estava dobrada sobre o tapete e fechei os olhos.
Foram minutos ouvindo apenas a respiração calma dela, até sentir outra coberta ser colocada sobre nós duas e eu abrir meus olhos. Carl.
- Oi! - ele diz baixo. - Não queria acordar!
Ele estava sem o chapéu, com os cabelos molhados e cortados mais uma vez, desta vez, em um corte ainda mais curto que antes. Ele estava ainda mais lindo.
- Não estava dormindo, estava só ouvindo ela respirar. - respondo sorrindo e levando minha mão até seus cabelos. - Eu gostei!
Minha mão foi segurada e ele a beijou.
- Deita aqui com a gente. - digo arrumando um espaço para ele - Anne vai gostar de saber que você dormiu aqui.
- Só ela? - ele questiona fechando a porta e vindo até a cama enquanto retirava os sapatos - Vai ser só a Anne que...
- Eu também vou. Vou gostar, porque eu me sinto segura em seus braços, Grimes!
Ele sorriu e levantou as cobertas, se deitando atrás de mim e abraçando minha barriga.
- Eu te amo Agnes Castiel! - ele diz, como se fosse a coisa mais normal do mundo e criando dentro de mim, um frio na barriga e uma felicidade grande e diferente. - E amo essa pequena criatura ao seu lado.
" Eu também te amo, Carl! Te amo com ainda mais força e intensidade" - penso.
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Starting Over • ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|ˢᵉᵍᵘⁿᵈᵃ ᵗᵉᵐᵖᵒʳᵃᵈᵃ
Teen FictionCARL GRIMES FANFIC ˢᵉᵍᵘⁿᵈᵃ ᵗᵉᵐᵖᵒʳᵃᵈᵃ Uma pessoa consegue realmente esquecer aquele amor que fazia seu coração bater muito mais forte? Que fazia sua respiração ficar falha e suas pernas fraquejarem? Minha humilde opinião, não. Ninguém nunca supera, p...