70 - Traidor

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N A R R A D O R

Agnes apertou a fivela do cinto, segurando sua arma e a arrumando no coldre logo em seguida. A armadura pesada estava sobre seu corpo e ela tinha os olhos fixos no chão em sua frente. A dor fina que vinha de seu pé estava começando a incomodar, mas não o suficiente para ela querer parar o que estava prestes a fazer.

As pequenas escadas vieram e ela entrou dentro do tanque de guerra. Um dos antigos soldados do mundo entrou junto com ela e começou a dirigir para fora do galpão, em direção a comunidade de Agnes, no canto oeste da cidade.

Os tanques avançaram sobre os mortos, esmagando seus corpos podres e manchando as ruas com ainda mais sangue e podridão. Agnes estava sentada olhando pela pequena janela, vendo as ruas passarem e a cidade se transformar.

Estava chegando a sua comunidade.

Os primeiros metais e pedaços de madeira do que antes eram os muros estavam espalhados pelas ruas, as casas destruídas e ainda pegando fogo. A parte que abrangia o antigo parque da cidade estava ainda mais destruída e ainda mais mortos andavam por ali, se amontoando e cercando as pontes que passavam sobre o lago.

Os primeiros tiros também vieram e antes que Agnes conseguisse erguer a arma e o megafone uma arma foi pressionada contra sua cabeça e desengatilhada.

- Porquê? - ela questiona soltando o que estava em suas mãos e encarando o homem

- Se o mundo não tivesse acabado, era para mim ser um capitão, era para eu ser um líder e olha o que eu sou, um encarregado de uma mulher que nunca fica na própria comunidade.

- Não foi apenas eu que levantei esses muros, ao contrário, quando cheguei aqui, muitos já estavam aqui e já pensavam em...

O rádio na cintura de Agnes chiou e antes de alguém falar algo mais  ela o desligou por completo, o resultado do ato rápido veio segundos depois quando a arma disparou e acertou ao lado de sua cabeça.

- Não se mexa nem um dedo a mais ou eu estouro seus miolos.

Agnes fechou os olhos e respirou pesado. Ela estava cansada demais pra lutar ali dentro daquele espaço pequeno. Era só mais uma pessoa que havia lhe mostrado o lado verdadeiro de sua face,  apenas mais uma para ela saber que a confiança que ela tinha nas pessoas tinha que ser não apenas com uma mão para trás, mas sim as duas, e de preferência segurando uma arma carregada pronta para atirar.

- Você vai subir na frente e eu vou ir logo atrás, vai dizer pros seus homens se renderem e tudo acabar bem.

Agnes subiu os degraus em silêncio, abrindo a portinhola e tendo a visão clara e limpa da sua outra comunidade.

- Pronto agora vamos fazer esses merdas se...
- Eles não vão se render só por causa de mim. Tem mais vindo, você sabe que tem e com mais pessoas, com pessoas sabendo que   você nos enganou, elas viram fortes o suficiente para - um soco acertou o rosto de Agnes e ela deu passos para trás, caindo no chão lamacento e vendo os mortos virem em sua direção.

Seu rosto se manchou de sangue e barro e ela o limpou com a manga da camisa que vestia. O primeiro morto que tentou segurar seu braço foi segurado e jogado contra o tanque, tendo a cabeça esmagada na lataria.

As pessoas do grupo de Agnes saíram dos outros tanques e tentaram se aproximar dela, mas ela balançou a cabeça, olhando para cima. Michel colocou a mão sobre a cintura e apertou o rádio algumas vezes, de forma silenciosa e minuciosa, mandando uma mensagem para a comunidade de Agnes, sabendo que Carl estaria no rádio.

- Sabe - o homem pula mo chão e para ao lado de Agnes, segurando seus cabelos contra a lataria sua de sangue, passando a arma sobre o desenho da cicatriz que ela tinha no rosto e olhando dentro dos olhos da mulher. - A gente podia ter tido alguma coisa antes,  mas você estava naquela coisa toda de Luto, de não querer nada além de cuidar da fedelha espertinha da sua filha.

- Não fala da minha filha.

Ele ri se afastando e Agnes vê mais pessoas do grupo dele aparecendo por todos os lados.

O primeiro disparo veio ainda mais alto e Agnes se jogou no chão, vendo seu grupo se dispersar e Michel entrar em um dos tanques com a namorada.

- Ficou sozinha foi? - Clint diz se aproximando dela com a arma em mãos- Que peninha!

Agnes sorriu de lado e chutou as pernas do homem lhe dando uma rasteira e o vendo cair no chão com a arma ainda mãos. Ela o chutou e socou seu rosto várias vezes antes de ver que que enfim estava desorientado.

Ela segurou a arma e sentiu uma barra de ferro passar por seu pescoço, ficando segurada ali enquanto ela ficava cada vez mais desesperada pela falta de ar eminente que vinha.

As tentativas se tornaram falhas a cada movimento e um soco foi deixado em sua barriga por Clint. Os mortos estavam avançando e ela estava sentindo que perderia aquela luta.

Seu rosto e barriga foram socados. A lâmina da faca cortou uma pequena parte de seu rosto e ela foi jogada contra o tanque mais uma vez, batendo a cabeça.

Seu nariz sangrou ainda mais e seu corpo caiu sobre o chão mais uma vez.

- Se protege Agnes!

O som dos tiros e da explosão a poucos metros dela ficaram distantes e ela protegeu corpo, conseguindo se arrastar e se esconder. Ela viu ambos os homens que lhe machucavam serem explodidos junto com os mortos que estavam se aproximando dela. Um sorriso fraco surgiu e ela se levantou, limpando o sangue com a blusa e sentindo tudo ficar ainda mais sujo por causa do barro.

- Agnes! Ag! - a voz era de Carl. 

Ela encarou o chão e viu um arma jogada ali, então a pegou e a segurou com a força que ela ainda tinha.

Starting Over  • ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|ˢᵉᵍᵘⁿᵈᵃ ᵗᵉᵐᵖᵒʳᵃᵈᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora