39° - Vovó e vovô

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Agnes

Anne estava em meu colo, brincando de desenhar minha tatuagem com os dedos. Ela tinha seus olhos presos ali e nem havia percebido a movimentação das pessoas em frente ao portão recém fechado. 

Os cavalos do Reino e suas carroças foram deixados de lado e as pessoas foram levadas para suas futuras tendas e casas, como eu havia instruído. A comunidade estava crescendo mais do que eu pensava que poderia acontecer. 

O rei, a rainha e o príncipe caminharam em minha direção e sorriram ao parar em frente minha frente. Medo. Nervoso. Frio na barriga. Tremedeira. Estava surtando por dentro, a ponto de morrer de ansiedade e do coração.

- Bem vindos! - digo encarando o chão de terra e madeira. Não tinha coragem de olhar para eles depois do que havia acontecido. - Vocês podem ficar em uma das tendas improvisadas e depois que as casas estiverem prontas poderão se mudar. 

- Você pode olhar para nós, em nossos olhos Agnes. - Carol diz - Pode...

- Não consigo!

Engulo seco.

- Podemos conversar a sós? - Ezekiel pede. 

- Posso ficar com a Anne se quiser e... - Tommy diz parando ao meu lado. - Quer que...

- Não, ela precisa saber de algumas coisas. Obrigada Tommy!

Peço para eles me seguirem até minha casa e fecho a porta, vendo Anne correr pelo corredor atrás de seus brinquedos. Meu escritório estava em nossa frente e eles estavam se sentando nas poltronas que haviam no lugar. Fecho meus pulsos várias e várias vezes tentando me acalmar e chamo pela minha filha, fazendo ela aparecer correndo na porta com um dos ursos de pelúcia em mãos. 

- Me chamou mamãe?

- Sim meu amor, vem aqui!

Paro em frente a ela e me abaixo. 

- Lembra que a mamãe disse que o papai tinha família? Que ele tinha uma mamãe e um papai de coração? - ela concorda - Então, eles são o papai e mamãe dele. 

- Oi! - Anne diz envergonhada enquanto se aproximava. - Posso chamar vocês de vovó e vovô?

Ambos sorriram e concordaram estendo as mãos para a criança. 

Anne havia agido da forma que eu não imaginava, na verdade, pensava que ela iria ficar acuada e receosa. Nunca tinha os visto, apenas ouvido as histórias que eu contava. Seus olhos brilhavam enquanto ela brincava com os cabelos de Ezekiel e ouvia as coisas que eles diziam.

- Você é o irmão do meu papai? - ela questiona encarando Henry. - Mamãe contava histórias sobre você.

- Sou sim, pequena. Sua mãe sempre foi uma boa contadora de histórias, sabia que ela queria ter uma biblioteca só dela?

- Ela tem agora, com um monte de livros legais. - Anne conta - Eu também tenho a minha, é pequena mais bonita, quer ver?

Henry sorriu e segurou a mão da minha filha, seguindo pelos corredores com ela.

- Ela é incrível, Ben ia ficar muito orgulhoso em ver como você está criando ela. - Carol diz - Iria ficar orgulhoso de você também. 

- Me desculpa. - peço sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto. - Se eu não tivesse insistido em sair do Reino pra procurar um brinquedo e coisas pra ela, ele ainda estaria aqui e poderia ter visto ela nascer e crescer. 

- Querida, você não teve culpa - os braços de Ezekiel me abraçaram e eu desabei de verdade - Nada que aconteceu foi sua culpa, Ben queria que a filha tivesse tudo de bom e se aconteceu aquilo, é por que alguém  lá em cima estava guardando uma coisa boa pra você aqui.  

- Ele...ele está enterrado nos fundos da casa, no jardim. - me afasto - Era pra ser eu, era pra aquele homem ter me matado e o amor da minha vida foi embora no lugar. 

- Me escute bem Agnes - Carol diz segurando minhas mãos. - Não temos raiva ou remorso de você, não temos nada pelo o que te culpar. Nosso filho, nosso Ben, escolheu te salvar pra te dar a chance de crescer e ser a mãe da nossa neta. Doeu  muito, por dias, noites e anos saber e lembrar que ele não iria mais atravessar aqueles muros com aquele sorriso dele, que ele não iria mais lutar com você no correto nos dias de chuva e que não existiria mais as risadas dele, mas tivemos que entender depois daquela sua chamada no rádio que o que ele fez, foi porque te amava e amava o que vocês tinham construído à ponto de dar a vida dele pela sua. 

- Eu também o amava. Muito. 

- Nós sabemos. 

Ezekiel retirou uma caixinha da bolsa que ele tinha e me entregou. 

- Abra!

Limpo as lágrimas com a ponta da manga da blusa e abro a caixa, sentindo meu corpo amolecer e cair sobre a cadeira. Eram nossas fotos, nossos vídeos e nossos anéis de namoro. Anne agora teria uma foto do pai, saberia como era a voz dele e a risada. 

- Obrigada por isso! Me desculpem por ter tido coragem de voltar e enfrentar tudo como eu devia, vocês mereciam ver o corpo dele e se despedirem. 

- Nós nos despedimos querida, o homenageamos e guardamos as lembranças. 

Os puxo para um abraço mais uma vez. 

- Sejam bem vindos à Cidade dos Caminhantes/ City of Walkers

Confesso que chorei um pouquinho na hora de escrever essa parte final do capítulo, não sei se vocês também vão, mas como eu escrevi a morte do Benjamin e talvez  vá posta - la fico bem mais sensível kkkkk

Votem e comentem muiiiitoooo
Beijos e fuiii


Starting Over  • ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|ˢᵉᵍᵘⁿᵈᵃ ᵗᵉᵐᵖᵒʳᵃᵈᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora