67 - Novos problemas

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N A R R A D O R

Mais uma vez Agnes acordou com os braços de Carl ao seu redor. Ela se levantou e puxou a coberta para cobrir a filha e ele, deixando os dois dormindo. Ela seguiu para o banheiro de seu quarto e tomou seu banho matinal, tomando cuidado com o machucado.  Algumas lágrimas rolaram por seu rosto, mas foram levadas embora pela água do chuveiro. Ela se secou e cuidou do ferimento, pensando que se ele nao tivesse sido feito, ela estaria morta agora.

O café da manhã foi feito e deixado sobre a mesa da cozinha, e então ela saiu de casa atrás de alguma coisa para fazer. Seus sapatos estavam sendo impossíveis de serem usados e a meia que ela havia colocado estava atrapalhando e lhe causando dor.

- Incomodando? -  a voz de Michel diz. - O pé está incomodando?

- Sim. - Agnes responde se sentando no banco e arrancando o sapato. - Minhas botas vão ter que ser passadas pra frente.

- Na verdade não. - Michel pega o sapato das mãos da mulher e caminha para longe, seguindo para o sapateiro - Pode fazer nesse aqui também, aquilo que eu pedi pro senhor ontem?

- Claro! As botas vermelhas e os outros dois tênis estão prontas. Pode levar!

Michel pegou os calçados e caminhou para longe do senhor com eles em mãos. Ele havia pedido para arrumarem um jeito do sapato não machucar Agnes e não fazer ela se sentir desconfortável com o que calçava.

Ele voltou para onde Agnes estava e lhe entregou o par de sapatos que havia recebido. Agnes olhou sem entender e os pegou.

- Pedi para fazerem um encausto almofadado no pé que você se machucou. Agora não vai ser mais desconfortável calçar um sapato fechado com seu pé assim.

Agnes encarou os sapatos em suas mãos e Michel em sua frente, o puxando para um abraço e o apertando de forma que ele não pudesse fugir. Ela sentou e ouviu ele chorar contra aquele abraço, deixando suas preocupações e medos saírem naquele gesto simples e que lhe fazia pensar no pai e no carinho que ele tinha por Agnes. Ela se separou depois de alguns instantes e segurou o rosto do homem.

- Ele te amava muito. - ela diz. - Vai estar feliz por suas decisões onde quer que ele esteja.

- Eu sei que vai - ele suspira - Mas eu...eu tenho que sair daqui, tudo aqui me lembra ele, me lembra a alegria que ele tinha e as coisas boas e tristes que passamos. Vou chamar Mary para ir pra comunidade no Kansas comigo, uma vida nova pra nós dois. Se eu ficar, vou procurar por quem o matou, mesmo sabendo que já está morto e acabar machucando alguém inocente.

Ela concordou com um aceno fraco, absorvendo a informação e deixando lágrimas rolarem de forma silenciosa.

- Vou sentir sua falta - ela diz - Vou...droga...A Anne não vai gostar nada disso!

- Ela vai entender quando eu explicar, vai saber que vai poder viajar para longe e para fora desses muros de vez enquanto pra me ver. Ela vai amar a viajem de avião.

- Oh se vai! Acho que quero...

Agnes foi parada quando um grupo de pessoas apareceu em sua frente, chamando a mesma para a sala de comunicações ou onde o rádio principal ficava. Alguém de outra comunidade precisava de ajuda, eles haviam sido atacados por um grupo de mortos e por  pessoas armadas e vestidas como soldados.

Ela encarou as pessoas ao seu redor e respirou fundo, buscando ideias para que pudessem lhe ajudar. Eles haviam acabado de sair de uma guerra, haviam sofrido demais e agora outra estava acontecendo ao longe e eram pessoas da família dela.

- Sabemos que a situação não está fácil também, mas por favor, por favor Agnes...nos ajude!

As pessoas concordaram com acenos.

- Juntem pessoas e vão para o aeroporto. Temos uma outra comunidade pra salvar!  Temos novos problemas pra resolvermos!

Agnes saiu da sala e caminhou até sua casa,  entrando de forma apressada e passando pelo corredor onde ela teve a visão de Carl e Anne tomando café da manhã. Ela subiu as escadas e correu para seu quarto, onde enfiou algumas roupas na mochila e colocou mais armas na sacola que vivia montada dentro de seu guarda roupa.

Seus passos lhe levaram para fora do quarto e ela trombou contra Carl, deixando a mochila de roupas cair no chão. Ela pediu perdão e recolheu a mochila, caminhando para longe do homem.

- Espera aí! - ele segura a cintura de Agnes - Onde vai com isso? O que está acontecendo?

- Preciso resolver um problema que se criou em outra comunidade...preciso...

- Você não está 100%, acabou de voltar Agnes. Anne precisa de você.

Agnes deixou as mochilas no chão e encarou Carl, passando sua mão sobre a barba rala que ele tinha e sentindo os mesmos sob seus dedos. Ela sorriu e o beijou de forma rápida.

- Preciso salvar outra comunidade. Cuida da Anne pra mim, ela gosta de você!

- Para! - Carl pede -  Não posso deixar as coisas desandarem mais uma vez.. eu quase te perdi dias atrás eu não posso te perder de novo,  você sabe disso, eu já te disse isso várias vezes e ...

- Eles são parte da família, são a parte das pessoas que me ajudaram e deram a chance da minha pequena estar aqui hoje comigo. Comida, água, os medicamentos que ela precisou quando era um bebê, as primeiras pessoas a...

- Você tem que parar de pensar que tudo se resolve com você no meio, não é assim a lei da vida, não é assim que...

- Você me deixou de lado por uma garota, por causa de sexo, Carl. Tive que refazer minha vida inteira por causa de uma coisa que você poderia ter evitado, que você poderia...porra, a questão aqui é que eu não deixo as pessoas de lado, não deixo elas sofrerem quando elas me ajudaram.  Eu não deixo ninguém na mão. Minha filha sabe que eu preciso salvar pessoas, ela sabe que eu sou a líder e como líder tenho que...

- Eu entendi que a merda que eu fiz nunca vai ser esquecida, principalmente porque foi você quem sofreu, foi você que teve que ir embora de um lugar que gostava. 

- Eu não gostava de lá, eu gostava de algumas das pessoas de lá, eu suportava merda pós merda que eu tinha que ouvir e olha onde nós estamos agora - ela olha pela janela - na minha comunidade, no lugar onde eu criei uma vida e dei a vocês a chance de viver mais um pouco. Não tente me impedir de salvar vidas quando a minha foi jogada para escanteio anos atrás. 

Ela pega as sacolas mais uma vez  e desce as escadas. 

- Se não puder ficar com Anne, a deixe com Jullieta, uma das primeiras casas da comunidade. 


Starting Over  • ᶜᵃʳˡ ᵍʳⁱᵐᵉˢ|ˢᵉᵍᵘⁿᵈᵃ ᵗᵉᵐᵖᵒʳᵃᵈᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora