VIII

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O dia tão aguardado chegou, minhas malas já estavam no carro do Castiel e nossos amigos se despediam de nós em frente a minha casa. Rosa chorou e culpou os hormônios da gravidez, quando o carro virou a esquina, minha visão foi atraída para a o café que funcionava lá e, bem, Nathaniel estava sentado, na mesa de frente pra rua, com os olhos atentos, esperando por algo.

Não queria ser egocêntrica a ponto de dizer que ele estava esperando para me ver passar, mas quando seus olhos se fixaram em meu rosto, eu percebi que era isso mesmo que ele estava fazendo. Rosa havia contado pra ele sobre minha viagem com Castiel, mas ele não me ligou, não me procurou, respeitou minha decisão. Seus olhos acompanharam o movimento do carro até onde ele pôde, fingi que não o vi e se Castiel viu, também não quis comentar.

Eu não podia deixar meu passado atrapalhar a maior decisão que eu já tomei na vida, queria começar de cabeça livre e completamente aberta para as novidades que estavam prestes a chegar. Encontraríamos a banda em Nova York, que não era um lugar novo, pois eu já morei lá, mas de lá iríamos tomar rumo para outros lugares.

- E aí gata, ansiosa? - Castiel me abraçou, ele estava sentado ao meu lado.

- Sim, mas não sei exatamente para quê. - O olhei sem jeito.

- Para tudo que vamos viver a partir de agora, minha gata. - Ele segurou meu queixo e beijou meu nariz.

- Acha que vamos viver muita coisa?

- Eu tenho certeza absoluta disso. - Ele deu um sorrisinho convencido.

- Estou nervosa. - Esfreguei as mãos tentando afastar o suor.

- Com o quê?  - Ele franziu as sobrancelhas, como alguém que estranhou o fato de eu estar nervosa, por que ele estava lá comigo.

- Com todas as possibilidades de coisas que podemos viver.

- O que interessa é que vamos estar juntos. - De repente ele me olhou com aqueles lindos olhinhos e eu tive uma vontade enorme de lhe dar um beijo e socar o olho dele. - Eu poderia não viver nada de novo, desde que você esteja comigo, vai ficar tudo bem. É o que importa.

- Sim, é o que importa. - Eu o via com outros olhos e tinha medo disso. Para explicar melhor o que estou sentindo, pensem na transição da televisão com antena normal, para a digital. É como se eu o enxergasse em HD agora e cada detalhe me encantava demais.

Eu amava Castiel, desde o ensino médio que eu o amo, mas o que sinto agora é diferente. Meu jeito de olhar para ele mudou, algo despertou dentro de mim e está causando um alvoroço enorme em meus sentimentos. O meu jeito de amá-lo mudou e eu não sabia que isso poderia acontecer, não estava preparada, embora a mudança tenha sido em mim mesma, me pegou de surpresa e agora eu não estou sabendo bem como lidar.

- O que foi? - Castiel me tirou dos devaneios e só então percebi que estava parada, o encarando como uma maníaca.

- Nada. - Afastei meu rosto do dele.

- Ficou me encarando, teve um avc?

- Claro que não. - Revirei os olhos. - Idiota.

- Você está especialmente linda hoje. - Ele balançou a cabeça freneticamente. - Acho que são os ventos da mudança.

- Você tá muito convencido. - Belisquei sua bochecha.

- É sério. - Ele deu um tapinha na minha mão. - Sua pele está brilhando.

- Deve ser oleosidade.

- Se ainda estivesse com o Nathaniel, eu ia dizer que estava grávida. - Lhe dei um tapa. - Mas ele foi burro o suficiente pra te perder.

- Castiel!

- Desculpa, prometo não falar mais sobre isso. - Ele ergueu as mãos em sinal de rendição. - Agora você é só minha e quando chegarmos em Nova York eu vou te trancar em um porão.

- Vou passar um bilhetinho para a aeromoça e dizer que estou sendo sequestrada.

- Ela vai querer ficar no seu lugar.

- Meu Deus, que convencido!

- Quem não ia querer ser sequestrada e levada pra viajar acompanhada de um pedaço de mal caminho como eu.

- Depois que você entrou na academia, seu ego foi lá em cima.

- Junto com meus músculos.

- Metido.

- Gata. - Eu fiquei vermelha. - Ficou envergonhada? - Ele riu.

- Claro que não, cala a boca.

- Essa é nova. - Me encarou curioso. - Nunca se envergonhou com nenhum elogio meu.

- Eu não me envergonhei. - Me virei para a janela. Não queria continuar olhando para ele.

- Que bom, por que eu não vou parar. - Vi pelo canto dos olhos ele se recostar na poltrona e fechar os olhos.

Tentei me concentrar no movimento do avião para decolar, não era a primeira vez que eu voava, então não me importava muito. Senti Castiel deslizar sua mão por cima da minha e entrelaçar nossos dedos, o olhei brevemente e ele continuava recostado na poltrona com os olhos fechados, mas tinha posto seus fones de ouvido. Segurei sua mão também e fechei meus olhos, estava nervosa igual uma adolescente perto dele e isso me incomodava muito, nunca fiquei tímida com nenhum elogio dele, nunca mesmo, desde o ensino médio que nós somos assim, que ele é assim comigo e eu nunca se quer me importei com absolutamente nada do que ele dizia.

Que ótimo, voltei a ter quinze anos bem no momento que mais preciso ser um mulher adulta. Não sei muito bem o que estou sentindo por Castiel e menos ainda como lidar com isso, mas estou disposta a lidar com essas novidades da maneira mais receptiva possível.

Caí no sono e quando acordei estava com a cabeça apoiada na janela do avião, Castiel estava com a cabeça deitada em meu ombro e seus braços ao redor de minha cintura. Nós ainda não havíamos pousado, então fechei os olhos novamente e apenas agradeci pelo momento que estava vivendo, por ele estar presente, por ser eu com ele e não outra garota qualquer. Me doeu pensar que em todo esse tempo que estive correndo atrás de outra pessoa, ele poderia ter encontrado alguém que realmente o desse valor e cuidasse dele. Eu fiquei com ciúmes só de pensar nisso, me embrulhou o estômago e minha cabeça doeu, mas o que importa é que agora estou esperta com isso tudo e se realmente perceber que ele também sente algo a mais por mim, que podemos ter um futuro juntos, não vou abrir mão disso.

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