IX

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Quando o avião pousou, um frio na barriga tomou conta de mim e uma suadeira atacou minhas mãos. A partir daquele momento eu teria que conviver com o pessoal da banda e eu nunca os vi nem por chamada de vídeo. Castiel me arrastou para fora do avião e foi atrás de nossas malas, eu sabia bem que ele ficava mau humorado depois de viagens longas. O problema não era a viagem em si, era o fato de ficar preso por muito tempo em um espaço pequeno, Castiel era indomável e isso era de conhecimento público.

Sua expressão carrancuda mudou quando recebemos a primeira lufada de ar depois de tantas horas, embora Nova York não seja conhecida pelos bioindicadores de qualidade do ar, ainda era melhor do que estar enclausurado em um avião. Alguns flashs foram disparados e eu percebi que ele só andava como uma pessoa normal em nossa cidade, fora dela era o astro do rock do qual todos comentavam. Eu só o enxerguei por essa ótica a poucos minutos atrás, quando avistei o primeiro paparazzi, não se trata do Castiel que ensaiava no porão, ele é um gigante agora.

- Ainda nervosa? - Ele riu. - Não se preocupe, o pessoal já te adora.

- Isso por que não me conhecem pessoalmente.

- Ata. - Revirou os olhos. - É muito difícil achar pessoas que não gostem de você, isso é irritante.

- Muita gente não gosta de mim. - Tentei pegar minha mala, mas ele a pegou antes. - Justamente por eu ser como sou.

- Bem, ai o problema é todo deles.

Seguimos para um carro preto enorme que nos esperava na frente do aeroporto. A sorte do Castiel é que a maioria dos fãs de rock não curte tietagem, encontramos algumas meninas que claramente eram fãs dele e não da banda, tiraram algumas fotos e nós seguimos para o hotel onde ficaríamos poucos dias antes da turnê começar realmente.

- Sua banda já vai estar nos esperando?

- Eu acho que sim.

Seguimos no enorme carro pelas ruas agitadas de Nova York, eu senti saudades disso, de ter uma cafeteria em cada esquina e um carrinho de hot dog em frente a cada prédio. As ruas familiares para mim foram se findando e entramos na área dos grandes hotéis, quando eu era estudante, não tinha dinheiro nem para pagar um táxi até um hotel desses, até hoje não tenho.

- Quais os nomes deles? - Quebrei o silêncio depois de um bom tempo no carro.

- Quem? - Ele me olhou.

- Seus amigos da banda.

- Ah sim. - Sorriu. - Tem a Diana, nossa baixista. Ela é brava e tem um senso de justiça tremendo, mas quando a conhece bem, percebe que por trás da cara fechada existe alguém muito legal.

- Parece muito com uma pessoa que eu conheço. - O encarei e ele sorriu novamente, senti uma pontinha de ciúmes, mas engoli.

- Ela vai gostar muito de você, não só pelo seu jeito, ela gosta de mulheres bonitas.

- Talvez eu experimente. - Ele arregalou os olhos. - To brincando.

- Meu coração até errou a batida. - Castiel pôs a mão no peito e suspirou. - Imagine, perder você pra minha companheira de banda.

- Quem sabe.. - Fiz uma cara maliciosa e ele negou com a cabeça.

- O Natan é o nosso baterista, ele também gosta muito de mulheres, então tome cuidado.

- Eu também gosto muito de homens, pode ser o encontro perfeito. - Ele me olhou com uma cara nada boa.

- E tem o Joe, que é o segundo guitarrista. - Castiel pareceu pensar sobre o que falar dele. - Eu não gosto muito dele, é o mais velho entre nós e costuma ser mais inconveniente que uma criança.

- Diana, Natan e Joe. - Repeti os nomes para que ficassem gravados na minha mente.

- E, tem o vocalista, que é o membro mais gato, mais gostoso e mais talentoso da banda. E nunca um cabelo vermelho ficou tão bem em alguém como fica nele. Vulgo, eu.

- Cantorzinho meia boca, só faz sucesso por que é bonito.

- Ah, então você admite que eu sou bonito? - Seu sorriso presunçoso se alargou.

- Eu nunca neguei que você é lindo. - Eu costumava me intimidar com os olhares lascivos que Castiel costumava me lançar, mas dessa vez o encarei na mesma intensidade e ele percebeu essa mudança.

Não sei dizer o que se passava em sua mente quando seu sorriso foi se esvaindo, mas seus olhos me encaravam surpresos pela minha atitude e talvez pelo meu tom de voz. Ele sempre curtiu meninas decididas, que não tivessem medo ou timidez e começou a encher o meu saco na escola por eu ser tímida demais. Qualquer coisa costumava me deixar constrangida, inclusive seus olhares e ele sabia bem disso, Castiel sempre me olhava de jeitos que me faziam recuar e me encolher diante dele, não que fosse preciso muito esforço, já que ele tem um metro e oitenta, era algo divertido pra ele, que agora acabou.

- Nem teria como negar. - Ele tentou recuperar o sorrisinho no canto da boca de antes, mas não conseguiu por completo. Pela primeira vez eu vi Castiel constrangido e devo admitir que foi uma cena muito fofa, sua mente pareceu zerar por alguns instantes, mas ele logo tentou recuperar.

- Estou ansiosa para conhecer o pessoal. - Me virei para a janela, tentando esconder o sorriso que brotou em meus lábios depois daqueles breves momentos.

- Você gosta de todo mundo, eles vão adorar você.

- Espero que sim.

O restante do caminho até o hotel foi tranquilo, mas logo que pusemos os pés para fora a correria começou. Castiel, que até então estava com o celular descarregado, descobriu que havia uma reunião e que ele já estava atrasado. Ele me deixou em um quarto do hotel e saiu correndo para encontrar os outros. Agora eu não tinha nada para fazer além de mandar mensagens para meus amigos e tomar um banho descente. Não sabia a hora que Castiel retornaria, mas não era como se eu estivesse com vontade de sair para algum lugar, estava cansada e com sono, com um pouco de fome também.

Deitada na cama, me pus a pensar na reação de Castiel no momento em que o encarei com o mesmo olhar que somente ele costumava me dar. Ficou desconcertado e eu diria que até contrariado, foi interessante vê-lo nesta posição, talvez eu tenha encontrado um jeito de o deixar tão desnorteado quanto eu fico quando estou perto dele. Essa viagem tem se tornado cada vez mais instigante e ela nem começou ainda.

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