XXIV

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Voltamos tarde para o hotel, o clima entre Castiel e eu estava bem mais leve, havíamos voltado ao que éramos e pra mim estava bom assim, por enquanto. Admito que enquanto dançávamos foi difícil não segurar seu rosto e lhe dar um beijo, eu queria muito fazer isso, mas não sabia se estava sendo levada pelo momento ou se era algo real.

- Ta cansada? - Castiel riu da minha cara quando joguei os saltos longe.

- Meus pés estão doloridos. - Fiz careta.

- Con el te duele él corazón y conmigo te duelen los pies. - Ele cantarolou e se abaixou perto de mim.

- Ai. - Gemi quando ele apertou meus dedinhos.

- Acho que esses saltos não foram uma boa ideia. - Ele massageou meus pés.

- Mas valeu a pena. - Sorri quando ele levantou o olhar pra mim. E lá estava ela, a vontade de pular em cima dele, mais uma vez.

- Fico feliz que gostou. - Ele soltou meus pés e me encarou.

- E desde quando não gosto de sair com você? - Empurrei o peito dele com meu pé.

- Desde nunca. - Ele riu e acariciou minha perna, seria inteligente se ele parasse antes que eu sentasse na cara dele.

- Eu... - Gente mais que porra o toque desse homem tá fazendo comigo? Minhas capacidades cognitivas estavam completamente desarmadas, os toques de Castiel causavam arrepios que se estendiam da minha perna até meu útero. - Eu vou tomar um banho.

- Ei. - Ele reclamou quando o empurrei com o pé que ele estava acariciando. Quando olhei para trás, ele estava apoiado em um braço, meio deitado no chão. - A massagem não tava boa? - Ele riu. Ele tinha feito tudo aquilo de propósito?

- Eu tô suada e fedendo, preciso de um banho. - Sorri envergonhada e me tranquei no banheiro.

Eu estava ofegante, e ele mal tinha encostado em mim. Como eu volto pra dormir do lado de um homem desses? Eu sempre soube que Castiel era capaz de deixar até o inferno mais quente, mas ele nunca havia feito nada assim comigo e eu jurava ser imune. Hoje descobri que não sou. Queria muito abrir a porta e me jogar em cima dele, naquele momento eu tinha certeza que ele não se negaria, mas não posso ser impulsiva assim, não estou tão na seca. Preciso de tempo, se isso acontecer, tem que ser totalmente de verdade.

Saí do banheiro meia hora depois que entrei, boa parte do tempo eu passei em pé, me olhando no espelho e tentando controlar minha respiração e minha vagina. Castiel estava só de cueca, penteando os cabelos suados.

- Achei que esse banho não ia acabar nunca. - Ele passou por mim e cheirou minha nuca. - Ainda ta fedendo.

- Ei. - Belisquei seu braço. - Até meu suor é cheiroso.

- Não sei. - Ele parou na porta do banheiro e me olhou. - Ainda não vi você suada. - As segundas intenções nessa frase foram tão perceptíveis que eu quase podia pega-las.

- É que você nunca me fez suar. - Eu sou doce, mas também não sou mole.

- Ária... Ária.. - Ele jogou a cabeça para trás e soltou uma risada, aquele olhar quase me despiu. Meu Deus, me segura, por quê eu to querendo muito dar pra esse homem.

Castiel fechou a porta do banheiro e eu me apoiei na mesinha de cabeceira, minhas pernas ficaram bambas e ele só me olhou. Decidir esfriar o quarto antes que as coisas esquentassem demais, a noite estava quente e eu não podia, de jeito nenhum, dormir com roupas curtas. Pus o ar condicionado na temperatura mais baixa, pus uma calça de moletom e uma camisa enorme do Castiel, mais broxante do que eu, só eu me olhando no espelho, por que ficam duas de mim. Me deitei do meu lado da cama e
fechei as persianas, o quarto estava um breu e muito frio, ótimo.

- Caramba, que breu. - Ouvi  ele dizer quando saiu do banho. - Por quê tá tão frio?

- Eu estava morrendo de calor.

- E agora quer nos matar de frio.

- O edredom vai te esquentar, seu idiota. - Foi só aí que me toquei, nos cobriríamos com o mesmo lençol. Parabéns Ária, o oscar de mais burra vai pra você.

- Tudo bem. - Ouvi ele dando alguns passos e depois o ouvi cair. - Porra.

- Ta tudo bem? - Liguei a interruptor ao lado da cama.

- Tropecei no seu sapato. - Ele me olhou do chão.

- Acho que ele ouviu você falando mal dele. - Soltei um risinho.

- Você ta usando minha camisa?

- Algum problema? - Ergui uma sobrancelha em desafio.

- Folgada.

- Ta achando ruim, vem tirar. - Dei língua pra ele e voltei a me deitar.

- Você ta  muito desaforada. - Senti o colchão ao meu lado afundar. - Cuidado.

- Cuidado com você? - Eu ri.

- Ta brincando com fogo. - Ele disse bem pertinho de mim. Senti ô cabelos da minha nuca se arrepiarem.

- Ta bom, charmander.

- Engraçadinha. - Ele passou o braço por minha cintura e me puxou pra perto.

- Vai dormir.

- Vai você.

- Sério isso? - Nós dois rimos.

- Boa noite, minha gata. - Ele deu um beijo no meu pescoço.

- Boa noite gatinho. 

Castiel afundou o rosto nas minhas costas e pegou no sono rapidamente, enquanto a mim, fiquei horas acordada, imóvel, tinha medo de o acordar. Eu estava cansada e com sono, mas não conseguia pegar no sono de jeito nenhum, um milhão de coisas passavam em minha mente. Só essa noite eu tive inúmeras oportunidades de dar um passo a mais em minha relação com Castiel, mas recuei todas vezes. Eu percebi seu olhar queimando em mim a noite toda, suas mãos segurando minha cintura um pouco abaixo demais e com uma pressão desconhecida por mim até então. Castiel sempre teve mãos gentis quando se tratava de me tocar, sempre tive a impressão de que ele tinha medo de me quebrar, como se eu fosse uma boneca de porcelana. 

Agora o seu toque parecia querer me dizer alguma coisa para a qual ainda não existiam palavras, ou que ele não conseguia verbalizar. Era gentil, porém, mais forte, como se quisesse deixar uma impressão em minha pele, como se agora ele pudesse, finalmente, me tocar de verdade. Eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer entre nós a partir de agora, é impossível negar a mudança iminente em nossa relação, é impossível para-la também, eu já tentei e acho que ele também. Essa noite eu pude perceber que, embora estejamos tentando resistir, há uma força que nos atrai um para o outro, como uma gravidade. Temo que, em algum momento, se torne inevitável dar um passo a mais, talvez seja esse o momento que eu ando esperando, que me confirme o que estou sentindo e esclareça o que tem se passado em minha mente. Eu conheço Castiel, se ele estiver sentindo o mesmo que eu, a mesma dúvida, a mesma atração, uma hora ele vai agir e isso me da medo, pois não sei qual vai ser minha reação.

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