II

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Acordei com o sol machucando meus olhos, estávamos no quarto dele, realmente não me lembro de como cheguei aqui. Castiel estava abraçando minha cintura e dormia tranquilo, as lembranças de ontem invadiram meus pensamentos novamente e eu não pude conter o choro.

- Ei. - Castiel acordou com meus soluços. - Vem cá. - Me puxou para seus braços e me abraçou com força.

- Por quê ele fez isso comigo? - Perguntei mesmo já tendo uma resposta para isso. As pessoas fazem o que elas querem, por que querem e quando bem entendem, é simples.

- Por quê ele é idiota. Ari, não deixe isso te pôr no fundo do poço novamente, por favor.

- Eu não vou deixar. - Me sentei na cama e olhei pra ele. - Só preciso de um tempo pra lidar com tudo.

- Essa é a minha gata. - Ele sorriu e se espreguiçou.

- Talvez demore um pouco. - Suspirei desanimada.

- Temos tempo. - Ele se levantou e caminhou para o banheiro.

Castiel me deixou em casa e disse que voltaria a noite, quando me vi sozinha no apartamento, não soube muito bem o que fazer. Minha primeira reação foi ligar o celular e ver várias mensagens dos meus amigos, chamadas da Rosalya e do Nathaniel, eu só queria colocar o meu celular no forno e esperar até ele explodir. Liguei a televisão e me sentei no sofá, mas eu não estava assistindo, só fixei meus olhos na tela até que tudo ficasse desfocado, eu não sabia o que fazer.

Não sei ao certo quanto tempo passei desse jeito, eu esperava mais, esperava mais de tudo, de mim, do Nathaniel e dessa situação. Imaginava que se chegasse a ficar sem ele novamente, não aguentaria, mas isso é diferente, eu chorei quando o vi com a Jess e chorei hoje pela manhã quando me lembrei, mas não entrei em desespero, não fiz escândalo, não senti a dor insuportável que pensei que sentiria. É quase como uma apatia, a decepção profunda nos torna apáticos a coisas que jamais imaginaríamos não nos importar.

A campainha tocou e eu fui puxada de meus pensamentos, pisquei os olhos algumas vezes para lubrificar o globo ocular e levantei. Me aproximei com cuidado da porta e vi Rosalya através do olho mágico, se fosse Nathaniel, eu não abriria.

- Já sei o que aconteceu. - Ela disse assim que abri a porta.

- É bom não ter que reviver a cena de ontem. - Dei espaço para ela entrar.

- Como você está?

- Melhor do que imaginei que estaria. - Caminhei com ela até a cozinha.

- Sério? - Rosa sentou-se na bancada.

- Eu não sei explicar. - Suspirei. - Nunca imaginei que ele me trairia, mas não estou tão destruída.

- Devo dizer que estou bem surpresa com isso, mas também muito feliz. - Ela pegou o copo de suco que lhe estendi.

- Ainda não consegui entender tudo que estou sentindo, eu chorei muito ontem e hoje pela manhã, mas agora, eu simplesmente não consigo chorar.

- Bem. - Rosa levantou e foi até o meu armário. - Imagino que isso significa que não pretende perdoa-lo.

- Rosa, eu posso até desculpa-lo, mas não vai passar disso. Não sou capaz nem de olhar na cara dele novamente. - Peguei um pacote de batatas e sai para a sala.

- Com certeza não sou eu que vou te aconselhar a fazer isso. - Ela sentou ao meu lado no sofá. - O que pretende fazer?

- Eu só quero distância dele Rosa, estou esgotada.

- Depois de tudo que fez por ele, pra ter vocês de volta, é normal que esteja cansada.

- Parece que eu finalmente cheguei no meu limite, sabe? - Me encostei no sofá e fechei os olhos. - Agora eu tenho plena certeza que tentei tudo, eu fiz tudo que estava ao meu alcance.

- Acho que isso é o mais importante. Você tem a noção de que fez tudo que podia, isso é tudo.

- Agora eu sei que posso só deixar ir. - Soltei um ar pesado quando disse isso, estava guardando esse sentimento.

- Não sei se é cedo demais pra falar isso, mas quebrar esse ciclo vicioso que estava envolvida vai ser a melhor coisa que vai te acontecer.

- Eu espero que seja mesmo.

- Ele tentou falar com você? - Me olhou curiosa.

- Me ligou ontem a noite, de um número desconhecido, mas Castiel o mandou ao inferno.

- Eu gosto cada vez mais de Ariel. - Rosalya sorriu satisfeita.

- Fico imaginando o que teria acontecido se eu não tivesse visto o que vi. Será que ele continuaria comigo?

- Não fique se torturando, não tente imaginar nada. Aconteceu o que precisava acontecer, sua vida vai tomar outro rumo agora.

-  Você tem razão.

- Sabe que ele ainda vai te procurar, não sabe?

- Infelizmente sei, mas talvez eu passe um tempo na casa de praia, longe.

- É uma ideia interessante, o mais importante agora é a sua saúde mental. Não pode deixar ele te afetar novamente, não desça ao fundo do poço novamente.

- Tenha certeza que eu não vou, Rosa. Essa foi a última vez que permiti que Nathaniel me machucasse de alguma maneira.

- É assim que eu gosto de te ouvir falar, decidida. - Ela me abraçou. - Sinto muito que isso tenha acontecido com você, sei o quanto lutou pra tentar ter um futuro com ele novamente, mas fico feliz que dessa vez entende que não é culpa sua, que fez tudo que podia.

- Obrigada por sempre correr pra me socorrer.

- Tudo que importa para mim é que você esteja bem, seja o que for que decida fazer, eu vou te apoiar, desde que esteja feliz.

- Eu vou ser feliz. - A olhei decidida.

- Talvez devesse olhar para alguém que sempre esteve bem na sua cara. - Ela tentou segurar o riso, mas eu sabia bem de quem estava falando.

- Eu ainda nem superei o chifre e você já quer me jogar nos braços de outro. - Brinquei.

- Convenhamos, amiga. - Ela fez uma careta. - Você sempre esteve nos braços do Castiel.

- Rosa! - A repreendi.

- Ele deve estar soltando fogos agora que o Nathaniel está fora da disputa.

- Que disputa, ta maluca?

- Ari, já chega dessa negação de vocês dois. - Ela arregalou os olhos e balançou as mãos euforicamente.

- Como assim amiga? - Comecei a rir.

- Tem algo entre vocês, é tão forte que é quase palpável. Todos são capazes de ver isso, mas parece nunca estar claro o suficiente pra vocês dois. - Ela não parecia brincar.

- Eu nunca parei para observar nada disso. - Falei pensativa.

- Talvez agora seja um bom momento para ser mais atenta.

- Isso não faz muito sentido agora.

- Ari, não seja boba. - Ela segurou minhas mãos. - Não deixe a sorte passar por você. Você pensava que Nathaniel era o cara certo, mas ficou claro que ele não é. - Rosa me olhava séria e pronunciava as palavras com cuidado. - Talvez o cara certo sempre tenha estado bem embaixo do seu nariz e segurando a sua mão.

Nesse momento eu parei no tempo, minha mente travou e de repente, tudo que já fiz e já vivi com Castiel passou por minha mente, mas de uma perspectiva completamente diferente. Devo confessar que me animei com a ideia, mas logo pensei que ele não merece ser tratado como uma segunda opção.

- Acho que ele não merece ser tratado como segunda opção de ninguém. - Disse pensativa.

- Não é segunda opção se você nunca tinha pensando nisso antes. - Ela sorriu. - Mas eu tenho certeza que ele já pensou.

Rosa foi embora a noite, mas me deixou com a cabeça fervilhando de pensamentos. Tudo que ela me falou sobre Castiel me deixou tão confusa que passei a madrugada inteira pensando sobre e esqueci completamente de Nathaniel e toda merda que aconteceu.

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