As cidades do interior costumam ser extremamente acolhedoras em todas as épocas do ano, mas durante as festas elas se superam. Minha mãe havia comentado que na praça da cidade haviam montado uma feira gastronômica, com música ao vivo e tudo mais. Castiel, que costumava não gostar nada dessas coisas, demonstrou um entusiasmo gigantesco para ir e ficou me enchendo metade da semana, até que eu cedi e nós fomos.
- É um lugar legal. - Ele disse assim que chegamos.
- Por quê quis tanto vir?
- Não sei. - Ele segurou minha mão e começou a andar. - Esses lugares, embora cheios, ainda são mais calmos que os da nossa cidade.
- É verdade, pra você deve ser mais difícil encontrar calmaria, já que vive viajando. - Ele concordou.
- Também gosto do barulho, mas quando estou de férias prefiro coisas mais íntimas. - Ele me olhou e sorriu. - Pra conseguir apreciar os momentos importantes e as pessoas importantes.
- É uma boa estratégia. - Apertei sua mão e sorri. Era um momento perfeito, as luzes amarelas iluminando as ruas de chão de pedra, tudo era digno de ser apreciado, inclusive o homem ao meu lado.
- É. - Ele pareceu pensar por alguns segundos e depois me olhou. - Vamos procurar um lugar pra comer?
- Torta! - Meus olhos pararam em um carrinho cheio de tortas.
- Vamos lá. - Castiel soltou uma risada e balançou a cabeça. - Certas coisas não mudam.
- O quê? - Perguntei quando sentamos em uma mesinha.
- Lembra quando você trabalhou um tempo naquele café lá da cidade? - Ele sentou na minha frente.
- Nossa, nem me fale. - Revirei os olhos. - Tempos sombrios, não há como negar.
- Você se viciou em tortas. - Ele riu.
- Eram as únicas coisas que me faziam suportar aquele lugar.
- A dona te odiava.
- Ela era completamente louca, por isso o café fechou.
- Acho que você enlouqueceu ela. - Castiel desatou a rir da cara que eu fiz.
- Você é um idiota. - Dei língua pra ele.
- Qual torta você vai querer? - Ele pegou o cardápio e olhou com atenção.
- Coco com morango.
- Hum. - Seus olhos corriam atentos pelas inúmeras opções. - Vou querer uma de limão e chocolate. - Ele se levantou e foi fazer os pedidos.
- Pediu café? - Perguntei assim que ele sentou novamente.
- Claro que sim, que tipo de pessoa você acha que eu sou? - Pôs a mão no peito e se fez de ofendido.
- Do tipo que prefere coca cola todos os horários do dia. - Ele me olhou e sorriu.
- Mas sei que você gosta de comer torta acompanhada de um café expresso duplo. - Castiel se inclinou sobre a mesa e piscou para mim.
É inegável que ele é lindo, um dos caras mais lindos que já vi e com o tempo só tem ficado mais bonito. No colégio, o ar rebelde e as roupas pretas com correntes lhe faziam arrancar suspiros pelos corredores, mas agora ele estava melhor. As roupas eram como uma atualização do seu estilo no colegial, mas agora lhe caiam muito bem, acredito que por causa da academia, Castiel parecia muito mais alto e seus cabelos agora batiam em seu ombro, eu não conseguia entender como ele podia ficar tão lindo com um cabelo tão feio. Quero dizer, eu acho o cabelo dele, o estilo dele e ele completamente perfeitos, mas se outra pessoa assumisse esse visual, provavelmente eu acharia ridículo. Agora eu só consigo me achar ridícula, por que fico babando nele um milhão de vezes por dia.
- No que tá pensando? - Meu amigo me olhava curioso.
- Na minha vida inteira.
- Como assim?
- Eu me formei, e agora? - Castiel riu da minha cara de medo.
- Agora você segue.
- Com o quê?
- Você estudou para ser psicóloga, então seja.
- É, você tem razão. - Suspirei, mas logo sorri por que nossos pedidos chegaram.
- Sabe. - Ele disse com a boca cheia de torta. - Você poderia tirar um ano sabático e viajar comigo na próxima turnê.
- O quê?!
- Não é como se fosse grande coisa. - Ele riu e deu um gole em sua limonada. - Considere como férias.
- Ta maluco? Não tenho dinheiro pra bancar uma viagem como essa, estou economizando pra abrir meu consultório.
- Não me lembro de ter te pedido nem um real.
- Castiel, não. - Ele me olhou de cara feia. - Você já faz coisas demais pra mim.
- E daí?
- Não precisa fazer mais.
- Ari, eu gosto de te ter por perto. Gosto de conversar com você, eu ficaria feliz demais em te ter comigo. - Ele parou quando terminou e frase e pigarreou. - Dinheiro não seria problema, a maioria das coisas são pagas por nossos patrocinadores.
- Quando você vai?
- Na segunda semana de janeiro.
- Mas já? Quando ia me contar?
- Hoje. - Ele deu um sorrisinho cínico. - Eu estava pensando em te convidar já faz um tempo, mas sabia que não ia aceitar, estava pensando em um jeito de te convencer.
- Eu não sei. - Suspirei.
- Tem tempo pra pensar.
- Ta bom.
Passei o feriado inteiro com essa ideia na cabeça, eu não tenho nada a perder indo com Castiel. Já terminei minha faculdade, não tenho mais um namorado e seria uma ótima chance de passar um tempo longe do Nathaniel, expulsá-lo do meu coração de vez. Talvez fosse a nova chance que tenho pedido ao universo nesses últimos tempos, algo totalmente novo e capaz de balançar minhas estruturas, sem contar que quase ninguém recebe um convite desses, acho que não tenho o direito de recusar. Castiel abriu um sorriso de orelha a orelha quando contei que aceitaria seu convite, alguns dias depois dele tê-lo feito. Rompemos o ano junto com minha família e voltamos para nossa cidade dois dias depois, eu precisava contar meus planos para Rosalya e arrumar minhas malas, Castiel precisava organizar tudo da turnê e por isso não nos veríamos muito antes da viagem, mas ele não deixava de me ligar todos os dias, pra garantir que eu não iria desistir.
A verdade é que eu não pretendia desistir, estava cada vez mais animada com a ideia de passar um tempo longe de tudo, as pessoas costumam tirar um ano sabático após concluir a faculdade, eu não pretendia fazer isso, mas a oportunidade veio até mim. Percebi que mesmo passando por diversas coisas, a minha vida é ótima e eu tenho muito pelo que agradecer ao universo por isso. Nunca me faltou nada, embora eu não tenha recebido amor da pessoa que eu mais queria, outras nunca deixaram de me oferecer, nunca terei como agradecer o bastante por ter Castiel, Rosa e Alexy na minha vida, nunca mesmo.
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You are the reason
FanfictionTenta não se acostumar, eu volto já, me espera. Segundo livro da série de amor doce. Por favor, leiam Back to me antes.