III

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Os dias estavam voando e desde aquela noite horrível Nathaniel tem me procurado praticamente todos os dias, precisei proibir sua entrada em meu prédio e bloquear seu telefone, não sei como ser mais clara do que estou sendo. Não quero contato com ele, não quero ouvir seus motivos ou suas desculpas, eu só quero que ele me deixe seguir minha vida em paz, foi uma escolha que ele fez e agora vai precisar lidar com as consequências dela.

O semestre acabou e eu finalmente me formei, não fui a festa de formatura, a única coisa que me importava era o meu diploma, pedi demissão da academia da Kim e expliquei para ela que não tinha a menor intenção de lidar com Nathaniel em lugar nenhum, menos ainda no local de trabalho. As festas de final de ano estavam se aproximando, e, diferente de todos os anos, eu iria para o interior com a minha família e só voltaria em janeiro. Castiel foi convidado, na verdade a minha família o convidou antes mesmo de me convidar, como ele não convive tanto com a família, aceitou de bom grado e já chegou na minha casa com a mochila pronta.

Rosa não curtiu muito a ideia, mas acatou minha decisão. Ela tem me apoiado muito nessa fase pós traição e tem me ajudado muito a ser a pessoa decidida que estou me tornando. Eu ainda não sei se continuarei na cidade, a ideia era terminar a faculdade e voltar, mas quando reencontrei Nathaniel, decidi ficar, agora eu não sei mais.

- Já ta pronta, gata? - Castiel apareceu na minha casa às sete da manhã de natal.

- Você ta animado demais pra quem ta indo pra um lugar que mal tem internet. - O olhei desconfiada.

- Eu estou de jejum há três dias, só por causa da rabanada que a sua mãe faz e daqueles tacos que a sua irmã sempre leva. - Ele esfregou a barriga e sorriu.

- Vai me fazer passar vergonha.

- Aí o problema é todo seu. - Ele deu de ombros. - Vamos? Quero chegar lá ainda com a luz do sol.

- Vamos gatinho. - Peguei minha mochila e o segui.

O sonho de consumo da minha família é que Castiel e eu namoremos, até meu pai, que costumava odiá-lo, diz que ele se tornou um grande homem e que seria um ótimo parceiro. Nunca lhes dei essa felicidade, mas todo ano eles tentam.

- A estrada está livre. - Castiel sorriu quando entramos na BR.

- Nós estamos indo na rota oposta de todos, no fim do ano as pessoas vão para a praia, nós estamos saindo do litoral.

- Que bom, menos gente pra encher o saco.

- Até parece que meus pais não vão encher o saco perguntando quando vamos anunciar nosso namoro. - Revirei os olhos só de lembrar.

- É bom saber que eles me amam. - Ele riu. Castiel adorava quando meus pais começavam conversas sobre esse assunto, por que me faziam ficar constrangida. Mas então lembrei do que Rosa me falou, será que ele gosta por mais algum outro motivo?

Chegamos cedo à casa dos meus pais, assim que desci do carro um serzinho de meio metro de altura agarrou minhas pernas. Alex, minha sobrinha, faz tanto tempo que não a vejo, que me assustei.

- Titia Ari! - Ela esticou os bracinhos pedindo para que eu a pegasse nos braços.

- Oi meu amor! - A abracei. - Titia estava com saudades.

- Eu também. - Ela me deu um beijinho e depois olhou ao redor. - Quem é? - Apontou pra Castiel que estava parado com uma cara estranha. Nunca teve jeito com crianças.

- Esse é o Castiel, amigo da titia. - Alex encarou Castiel por cinco segundos antes de esticar os bracinhos pra ele.

- Oi bebê. - Ele veio todo sem jeito pega-la nos braços.

- O seu cabelo é vermelho. - Ela levou as mãos gordinhas aos cabelos dele. - Que bonito.

- Você gostou? - Ele sorriu e Alex assentiu. - Eu pintei. - Os olhos de Alex se arregalaram e ela abriu um sorriso gigante.

- Mamãe, eu posso pintar meu cabelo de vermelho?  - Minha irmã, que estava de pé na varanda falando comigo, sorriu e se aproximou dos dois.

- Já está estragando a minha filha? - Pegou Alex dos braços de Castiel.

- Me desculpe cunha, minha influência é forte. - Ele sorriu. Sim, eles se chamam de cunhados.

- É muito bom te ver novamente, você tá um gato. - Eles se abraçaram.

- É que eu sou como um vinho, com o passar do tempo eu só melhoro. - Castiel sorriu convencido.

- Não da muita corda pra ele não, ta se achando demais. - Meu pai saiu de casa com um sorriso de orelha a orelha e passou reto por mim, foi abraçar o Castiel.

- Vai dizer que não investiria na minha carreira como modelo? - Ele sorriu e abraçou meu pai.

- Acho que a de cantor já ta boa pra você.  - Meu pai parecia ter reencontrado o filho homem que ele nunca teve. - Como vai rapaz?

- Muito bem. - Eles começaram a andar para perto de nós.

- Oi pai, eu também to aqui. O senhor me viu? - Fiz cara feia pra ele.

- Oi meu amor. - Ele ergueu os braços e me abraçou.

- Não vem com essa não.

Entramos na casa dos meus pais e logo a bagunça estava feita, Castiel ficaria na sala e eu em meu antigo quarto. Alex não desgrudava dele em momento algum, pra todo lugar que Castiel ia, ela ia atrás e a melhor parte é que ele não sabia o que fazer com uma criança e eu estava amando.

O jantar de natal foi alegre e muito leve, eu nunca vi meu pai gostar de alguém de fora como ele gosta do Castiel, parecem velhos amigos, depois do jantar, os dois foram sentar na varanda e meu pai abriu um licor que ele guardava desde que me entendo por gente. Eu nunca nem vi Castiel bebendo licor, era mais fácil ele preferir corote, mas lá estava ele, com o cálice de licor, bebendo como uma madame.

- Ele está muito bonito. - Minha mãe parou ao meu lado e começou a observar a cena junto comigo.

- O papai?

- Querida, sabe que não estou falando do seu pai.

- Ele sempre foi bonito, mãe.

- Ele te olha de um jeito diferente. - Ela pronunciou cada palavra prestando atenção em mim.

- Como assim?

- Ari, comigo você pode ser franca. - Ela sorriu. - Não é possível que não tenha percebido.

- Eu não percebi a tempo. - Suspirei.

- Ainda aquela história do Nathaniel? - Minha mãe gostava do Nathaniel, mas sempre soube que ele não seria o amor que ficaria na minha vida.

- Não posso tratar o Castiel como segunda opção, mãe. Ele é espetacular demais pra isso. - Me virei para observa-los novamente.

- Não acho que perceber ter sentimentos por ele o faria de segunda opção. Você só tinha algumas coisas tapando a vista.

- Não sei, mãe. - Nesse momento, Castiel olhou para mim e deu uma piscadela.

- Acho que sabe sim. - Ela olhou para ele e sorriu.

Minha mãe e minha irmã foram dormir, finalmente conseguiram tirar Alex do pé do Castiel. Eu ainda fiquei um tempo acordada, limpei a cozinha e fiz um bolo para o café da manhã, antes de ir me deitar, dei mais uma olhada na varanda e vi os dois na maior conversa. Castiel estava com o rosto vermelho, o que indicava que já estava bêbado, mas não os incomodei, amanhã eles tem o dia inteiro para curar a ressaca.

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