I

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- Ária, que porra aconteceu? - Castiel me olhava preocupado quando chegamos ao seu apartamento, talvez por que eu não havia parado de chorar o caminho de volta inteiro.

- Ele.. - Eu tentei contar pra ele o que havia visto na esquina da academia, mas um soluço me interrompeu.

- Nathaniel te fez algo? - Ele sentou no chão em minha frente e segurou minhas mãos.

- Ele estava beijando a Jess, Cast. - Tentei levar as mãos ao rosto, mas ele me impediu.

- Eu sinto muito. - Ele suspirou e apertou minhas mãos com mais força, o que me fez perceber que estava com raiva, mas tentava se controlar.

- O que eu fiz de errado dessa vez?

- Não faça isso consigo mesma, você não fez nada de errado nunca. - Ele elevou um pouco o tom de voz para chamar minha atenção. - Esse idiota nunca te mereceu.

- Eu não sei o que fazer. - Me encostei no sofá e fechei os olhos. Castiel ficou calado e se sentou ao meu lado, passou seu braço por meu ombro e ficou assim até que eu parasse de soluçar.

- Por agora, você vai ficar sentadinha aí e eu vou pedir pizza. - Se levantou e eu me encolhi inteira no sofá.

Não entendia como Nathaniel tinha sido capaz de fazer tal coisa, nós nunca tivemos problemas com relação a confiança, isso nunca nem passou pela minha cabeça e vê-lo ali, com a Jess, acabou completamente comigo. Nós tínhamos tantos planos, ele me fez tantas promessas, eu demorei tanto pra encontrar um jeito de fazer ele baixar as barreiras e tudo acabou em nada menos do que decepção. Eu já devia ter entendido que estava querendo o impossível, Nathaniel havia se transformado em outra pessoa e mesmo assim insisti em reatar uma relação que aconteceu com alguém que já não existia mais. Eu mal reconheci sua aparência, menos ainda sua personalidade. Fui desperta de meus pensamentos com o som do meu celular, número desconhecido.

- Alô? - Tentei disfarçar a voz de choro.

- Amor.. - Ouvi sua voz embargada do outro lado.

- Como ainda é capaz de me chamar assim? - Todo meu chororô voltou.

- Me perdoa, eu não sei o que tinha na cabeça. - Ele parecia desesperado.

- Você disse que me amava.

- Eu te amo. - Ele disse em um tom de voz fraco.

- Vá para o inferno. - Castiel tomou o celular da minha mão e falou para ele. - Nunca mais chegue perto dela, ou eu vou quebrar você. - Ele desligou meu telefone e se sentou ao meu lado.

- Não devia ter feito isso. - Suspirei, era só o que eu tinha forças pra fazer.

- Eu devia ter feito muita coisa a muito tempo. - Disse sem me olhar e eu não entendi o que quis dizer.

- O quê?

- Nada. - Suspirou. - A pizza já vai chegar, por quê não vai tomar um banho?

- Estou fedendo? - Levantei o braço e cheirei minha axila.

- Claro que não. - Ele riu. - Mas água fria é bom pra desinchar o rosto.

- Ta bom. - Suspirei e criei forças pra me levantar.

- Ei. - Castiel me chamou enquanto eu ia até o corredor.

- Oi.

- Você é a garota mais incrível do mundo e não vou permitir que nada e nem ninguém te faça desacreditar disso.

- Obrigada. - Esbocei um pequeno sorriso e segui para o banheiro.

A verdade é que nem toda água e sabão do mundo conseguiriam tirar de mim essa sensação terrível de ter tido a minha confiança jogada e pisada no chão. Eu fui feita de idiota todo o tempo, todas as vezes que corri atrás dele, que me humilhei ao engolir todas as grosserias que ele despejava em mim, tudo que fiz pensando que estava me redimindo por tê-lo magoado, mas na verdade eu só estava sendo feita de palhaça.

Ouvi Castiel gritar que as pizzas haviam chegado e desliguei o chuveiro. Me enrolei na toalha e fui para o quarto dele em busca de uma muda de roupas, peguei uma camisa e uma cueca limpas e fui para sala.

- Demorou, as pizzas estão quase... - Castiel virou sua atenção pra mim e parou de falar abruptamente.

- O que foi?

- Você ficou muito gata com essa camiseta. - Ele encarava minhas pernas.

- Até parece que nunca me viu com uma camiseta sua, bobão. - Revirei os olhos e sorri.

- É só que, laranja combina com você. - Castiel balançou a cabeça, como se afastasse algum pensamento e pegou dois copos cheios de refrigerante que estavam na mesa.

- Obrigada, vou ficar com ela pra mim. - Ele me olhou indignado.

- Ta muito folgadinha pro meu gosto.

- Você que me transformou nisso. - Segui ele até a sala.

- Que droga que eu fiz da minha vida.

- Você pediu pizza de atum?! - Sorri e foi a vez dele revirar os olhos.

- Eu odeio, mas sei que você gosta.

- Você é o melhor do mundo. - Lhe dei um beijo na bochecha.

- Sou? - Castiel ergueu uma sobrancelha e sorriu me provocando.

- É sim, eu que sou burra. - Ele fez uma expressão confusa e pareceu querer perguntar algo, mas desistiu.

- Come sua pizza aí, palhaça. - Voltou sua atenção pra televisão.

Passamos a noite inteira na sala, vendo televisão e comendo as pizzas, deixei meu celular desligado e tentei esquecer o acontecido. Castiel fingia prestar atenção nos filmes que víamos, mas eu sabia que toda sua atenção estava em mim, sua mão acariciava meu braço por cima do meu ombro e nesse momento eu me perguntei como pude preferir sofrer e me rastejar atrás do Nathaniel tendo esse homem maravilhoso o tempo inteiro comigo. Essa decisão não fazia sentido nem na minha cabeça.

Nunca pensei que Castiel fosse uma opção além da amizade, mas agora, é como se minha mente tivesse um momento de clareza. Tudo que ele faz por mim, é além do que qualquer pessoa nesse mundo tenha feito, eu encontrei um pote de ouro enorme e deixei guardado como se não servisse pra nada. Ao invés de jogar tudo pro alto e tentar com alguém que oferecia tudo pra me fazer feliz, escolhi correr atrás do meu próprio sofrimento e acabei perdendo tudo.

Fico feliz que ainda tenho Castiel como meu amigo e acredito que sempre vou ter, mas somente como meu amigo, por quê escolhi manter meus olhos fechados e agora que os abri, enxerguei que perdi os dois. Tudo que quero é paz, estar comigo mesma, me respeitando e superando todas as merdas que preciso e voltando a ser a pessoa que eu era antes de tudo isso acontecer comigo.

Não é sobre o que acontece conosco, é sobre o que fazemos com o que acontece conosco.

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