PRÓLOGO

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O ar gélido batia contra seu rosto o fazendo arder, o mesmo acontecia em seus pulmões cada vez que ela puxava o ar.

Também sentia a dor em suas pernas, mas não iria parar de correr, afinal como poderia?
Morreria antes mesmo de poder descansar um pouco.

Por um segundo abaixou o olhar encarando seus pés descalços, estavam quase roxos pelo frio, viu sangue misturado com barro, mas pelo menos não os sentia mais doer como quando começou a correr na floresta e isso a aliviou um pouco, se preocuparia com as consequências disso mais tarde.

Escorregou em uma raiz, sentindo todo o impacto pelo seu corpo ao atingir o chão e quase não levantou, quase.

Assim que sentiu a presença deles chegando cada vez mais perto de si seu corpo se ergueu sozinho e começou a se mover novamente, sentiu as lágrimas que começaram a sair de seus olhos sem sua permissão.
Ela os sentia, próximos, próximos demais, e então pensou que não iria conseguir, não era a primeira vez que fugia, mas dessa vez sabia que o castigo iria ser muito pior que os outros, dessa vez eles a matariam, e ela não queria morrer.

Por isso não parou de correr, mesmo caindo novamente, se levantou e correu, sentindo uma dor dilacerante no braço que usou para se apoiar durante a última queda, não ousou abaixar o olhar para seu braço, mas sabia que algo feio tinha acontecido no local, ela conhecia a dor, provou de todos os tipos de dores físicas e sabia que havia quebrado o braço na queda, mas isso não podia a impedir.

Ela tinha que sair dali, ela queria viver. As gotas da chuva que caia se misturavam as suas lágrimas que agora caíam mais fortes por conta da dor e do medo que sentia, eles estavam quase a alcançando, podia ouvir os passos atrás de si.

A garota de cabelos platinados nunca acreditou em Deus, e nem sabia muito sobre o assunto, mas naquele momento se viu pedindo e implorando em seus pensamentos, para que tal pessoa existisse e para que a ajudasse, seja lá quem fosse esse tal de Deus, ela precisava dele e esperava que ele a ouvisse.

Viu que tinha finalmente saído da floresta e se atreveu a olhar para trás, não viu ninguém, mas podia sentir e sabia que eles não estavam tão longe assim, voltou a se virar para frente e sentiu novamente seu corpo caindo, mas dessa vez não atingiu o chão, alguém a segurou e por alguns segundos ela teve certeza que tinham a alcançado, e sentiu que enfim seu fim tinha chegado, e quase se conformou com aquilo.

Talvez eles fizessem isso rápido e então ela não iria mais sentir dor, não iria sentir mais nada.
Em seu último fio de coragem levantou o olhar para quem quer que fosse que a estava segurando.

Cabelos arrepiados, amarelos.

Desceu o olhar encarando seus olhos, azuis, como o céu e pareciam tão gentis... preocupados.

Por algum motivo ela não sentia mais medo, não enquanto encarava aqueles olhos.

Aquele era o Deus que todos falavam? Teria ele escutado seus pedidos? Ele iria a salvar?

Ela sentiu quando ele a apertou mais ainda, impedindo que seus joelhos fracos tocassem o chão, ela estava exausta, sentia cada parte sua doer e sua visão começou a ficar embaçada, juntou o pouco de força que tinha e colocou sua mão que não doía sobre o braço que a segurava o apertando com toda força que tinha, não que fosse muita.

Não sabia de onde veio a sensação de agora, antes medo e pavor, agora se sentia leve… uma paz que nunca teve o privilégio de sentir antes, sentia que iria ficar bem, talvez fosse a primeira vez que se sentisse assim em toda sua vida.

Ela piscou ainda encarando aqueles olhos, sentindo os seus próprios olhos pesarem e então abriu a boca respirando fundo na tentativa de fazer algum som sair de sua garganta.

— Por favor, me… me ajuda.

E então tudo apagou.

Mas a garota não sentiu medo.

O Legado de Tobirama SenjuOnde histórias criam vida. Descubra agora