53. Mesmo Que Eu Não Possa Te Ver

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ANNA

— Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal. Amém.

— Eu não sei porque estamos fazendo isso. — disse Gabriella.

— É como vamos começar a noite de hoje. — falei. — Com uma oração. E por mais que haja muitas coisas que eu adoraria te falar hoje, quero também te ouvir. É por isso que estamos aqui.

Estávamos sentadas uma de frente para a outra na minha cama.

Ela suspirou.

— Tudo bem. — respirou fundo. — Eu passei todos esses dias aqui e... ainda não consegui falar com ninguém sobre isso. Minha mãe queria que eu fizesse terapia, mas a verdade é que eu não queria, eu não quero falar o que aconteceu lá dentro para ninguém. Anna, eu sinto tanta vergonha, tanta vergonha. — ela disse tudo isso olhando para baixo — Eu tenho certeza que foi o que você passou e... Se foi, então naquela noite que me falou do seu beijo, você realmente disse algo pequeno. Eu fui... — ela fechou os olhos — Bem, você sabe o que aconteceu lá dentro. Eu não sabia que isso poderia destruir tanto uma pessoa assim. Agora que estou aqui tudo parece estranho, nada parece como antes e... Eu não quero... Eu não quero... Eu não consegui nem abraçar o meu pai, isso me aterrorizou, não consigo estar mais tão perto de homens, nem de ter qualquer tipo contato com eles. Você passou por isso quando saiu de lá?

Olhei para ela. Gabriella queria a minha ajuda para acreditar que aquilo passaria. Ela queria alguém que pudesse entendê-la.

— É diferente para cada mulher. As pessoas que eu mais amo nesse mundo são todos homens, é nos braços deles que eu encontro conforto, então isso não mudou para mim. Foi mais estranho no começo, mas não mudou.

— Eu não consigo falar com o Cedric. — ela disse chorosa. — Ele já me procurou algumas vezes desde que eu voltei, mas eu não consigo falar com ele. Não consigo estar próxima dele. Eu queria... Eu queria ser forte como você.

Balancei a cabeça.

— Não, não pense que é fraca.

— Anna, você esteve meses lá e superou isso. Eu estive uma semana e... Tudo parece perdido dentro de mim.

Eu a encarei por alguns segundos, sabendo que estava prestes a contar algo que nunca havia contado a ninguém.

— Depois... — pigarreei — depois dos dois meses que passei lá, eu passei quase o mesmo tempo no hospital. — comecei. — Mas quando voltei para casa eu... Eu não conseguia ficar em locais escuros, eu... Não conseguia sair do palácio, eu ficava horas e mais horas dentro do banheiro, onde não havia ninguém, em completo e total terror. Meus guardas andavam com um copo de água na mão 24 horas por dia. Eu fiz terapia, mas eram simplesmente reuniões do silêncio no começo. Eu não conseguia olhar nos olhos das pessoas, e só falava quando era necessário. Isso durou um ano, até que algumas coisas pudessem voltar ao normal. E ainda assim, até hoje eu não durmo, e cada vez que fecho os olhos, eu volto para lá. Eu ainda estou superando isso, mas sem permitir que sugue toda a minha felicidade. Você está passando por um momento difícil, e tudo bem, chore o quanto for necessário, mas o tempo vai te ajudar. Pode demorar pouco ou muito, mas vai acontecer.

Ela deitou sobre as minhas pernas.

— Eu estava com tanta raiva, com tanta raiva. Eles ficavam dizendo que aquilo tudo era por sua causa e quando te vi só pude esbravejar tudo em você.

Flor De Um Reinado: Convertei-vosOnde histórias criam vida. Descubra agora