49. Não Posso Mais Fazer Isso.

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ANNA

Olhei para aquela gaveta por longos minutos. Eu não conseguia orar, porque se o fizesse seria em meio a lágrimas. Mas eu também não queria, eu não queria orar, eu não queria fazer absolutamente nada.

Eu só queria que aquilo não tivesse acontecido. Giselle havia me dado a notícia há duas horas, e há duas horas eu olhava para a gaveta. Eles ainda não haviam aberto a porta, porque estavam esperando a confirmação, mas eu já sabia, eu sabia que era ela, não precisava da confirmação.

Sentada no chão do quarto, com a mesma roupa do dia anterior, o cabelo já nada impecável, descalça, com a sensação de cansaço que não saia de mim, uma dor de cabeça que não me deixava e a mente a mil, eu tinha o olhar fixo naquela gaveta.

Eu estava só, mais uma vez, eu me sentia só. Não tinha reestabelecido uma boa relação com Deus desde a noite do ataque e naquele momento ele parecia mais distante do que nunca. Aquilo fazia-me perceber o quanto eu era fraca, o quanto minha fé ainda era pouca.

Tive certeza disso no momento em que parei de encarar a gaveta, levantei e fui até ela. Abri e peguei aquele lenço, de dentro dele tirei a Flor de Lis murcha. Olhei para ela por alguns segundos, para então terminar de amassá-la e jogá-la pela janela do quarto. Eu não queria aquilo. Não, eu não queria mais. Não queria mais ver ninguém que eu amasse sofrer ou morrer, eu queria desistir. Eles teriam a minha renúncia.

— Anna. — César abriu a porta do quarto. — Não está mais trancada no quarto.

— Tudo bem. — respondi simples.

— Anna, eu sinto muito.

— Tudo bem.

— Você tem que saber que...

— César — interrompi ele. — Só me deixe sozinha — pedi.

Eu não conseguia falar com ninguém, eu não conseguia pensar. Eu precisava de mais algumas horas.

César assentiu e saiu do quarto.

Eu queria voltar à semana passada, quando Thomas e Gabriella estavam na escola e Alice estava viva. Eu queria meus amigos de volta, queria não ter que ser rainha, eu queria... Eu queria muitas coisas naquela momento e a angústia estava em que eu não teria nenhuma delas.

Eles esqueceram de abrir a varanda, então eu só podia ver aquele meu quarto, o mesmo quarto que eu cansei de ver nas últimas 24 horas. Eu precisava sair dali, mas não daquela maneira, não como eu estava.

Fui até a porta do quarto e abri.

— Você deixaram a varanda trancada, posso pegar a chave? — estendi a mão.

— Eu abro para você.

— Não precisa. — continuei com a mão estendida.

Não consegui olhar nos olhos de nenhum deles que estavam ali.

César me entregou a chave. Eu voltei para dentro do quarto, tranquei a porta e abri a varanda. O sol entrou dentro do quarto, era um dia contrastante com tudo que eu estava sentindo por dentro.

Tomei um banho, não importava o que eu estava sentindo, eu nunca sairia na frente dos outros com uma aparência ruim. Coloquei um vestido cinza simples, fiz um penteado, passei maquiagem e calcei um salto. Abri as escadas de incêndio, que já estavam funcionando outra vez e desci para a parte externa da escola, para o jardim.

Era bom pegar sol depois de um dia inteiro no quarto. Estava silencioso e calmo. Comecei a andar pela flores, sabendo que estava de baixo dos olhos dos guardas. Encontrei um Jacinto Branco quebrado no meio das flores e peguei, olhei para ele, estava sujo de terra.

Flor De Um Reinado: Convertei-vosOnde histórias criam vida. Descubra agora