4. Foi Bem Levezinho

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DOMINIQUE

Eu vi uma garota arrastando um homem para fora da água, observei de longe, ele estava desacordado e ela parecia exausta. Eu guardei a arma e me aproximei, percebi que era um guarda e uma empregada do palácio. Demoraram alguns segundos para ela notar minha presença, e, ao fazer isso, ela respirou fundo e começou a tirar o casaco do guarda enquanto falava:

— Se você for um rebelde, eu juro que vou com você sem resistir, eu deixo você me matar e ainda fico com os olhos fechados — ela afirmava ainda tentando retirar o casaco. — Eu juro, eu realmente juro. Mas eu preciso... eu preciso salvá-lo, é apenas isso, preciso salvar o Ben. Só preciso que ele fique vivo. Por favor.

Se ela pensava que eu era um rebelde, não parecia muito nervosa com isso. Eu já lidei com situações de ataques, e as empregadas só não ficavam mais nervosas que os monarcas. No entanto, ali, aquela menina que parecia bem nova me via como um rebelde, mas toda a sua preocupação era com o guarda. E ainda assim parecia firme, sem nenhuma lágrima no rosto.

— Eu não sou um rebelde — afirmei. — E se fosse com certeza estaria atrás da realeza.

Ela olhou para suas roupas como se só naquele instante conseguisse notar quem era.

— É verdade, desculpe. Já que não é um rebelde, você pode me ajudar?

Eu me aproximei e pude olhar melhor para ela, estava pálida, o cabelo molhado tomava conta do rosto, e mesmo com tanto cansaço, tinha uma expressão delicada, um tanto familiar. Mesmo ali, com pouca luz do fim de dia e já coberta de sangue e areia, ela era linda. Eu levantei ele para que ela conseguisse puxar o casaco e amarrá-lo ao redor do ferimento. Ela checou seu pulso, e pela expressão de alívio, ele ainda estava respirando.

— Aguenta, Ben, aguenta. Eu tenho que levá-lo para um hospital.

— Acredito que não será possível fazer isso agora — falei. — Há rebeldes passando por essa rua o tempo todo, inclusive, acho melhor irmos para perto daquelas pedras, é onde não poderão nos ver.

Ela apenas assentiu, parecendo cansada demais para pensar em outra alternativa. Eu levei ele até as pedras e ela caminhou atrás de nós como se seus pés estivessem sendo puxados pela areia.

— Como é o seu nome? — perguntei quando deitei o guarda Ben em cima de uma pedra. Ela se encostou em outra.

— Flor — ela disse simples.

— Flor?

— Sim — ela confirmou.

— E o que aconteceu, Flor? Até onde sei empregados têm abrigos para ficar durante ataques no palácio.

— Eu sei, é que eu tive que... Eu tive que ajudar a princesa Anna a se esconder e acabei me atrasando, então o Ben achou que era melhor eu sair.

— Sempre a vida dela em primeiro lugar, não é?

Ela suspirou.

— Eu queria que não fosse assim.

— Como você foi parar na água?

— O motorista era um rebelde disfarçado, começou uma briga dentro do carro. Ben levou um tiro, depois acabamos caindo do penhasco. Eu nos tirei do carro e nadei com ele até aqui.

— Você não tem força para isso.

— Tenho sim, só que não são músculos — ela deu um meio sorriso, então olhou para minha perna, parecendo notar pela primeira vez meu ferimento. — Você se machucou?

— Sim, acabei enfrentando um deles na rota.

— Por que fez isso? — dei de ombros, como se fosse explicação suficiente. — Eu posso dar uma olhada? — Eu concordei. Ela se agachou perto de mim e puxou a camisa de cima. — Ah, é um tiro de raspão, que bom — ela olhou para mim e disse: — Foi bem levezinho — e então sorriu, como se quisesse fazer eu me senti melhor, um tanto meiga, eu acabei sorrindo também. — Mas não demore muito para ir ao hospital, pode infeccionar.

Flor De Um Reinado: Convertei-vosOnde histórias criam vida. Descubra agora