1 - It all falled.

24.9K 841 255
                                    




Quando se pensa em uma vida relativamente normal, eu não sei ao certo se me encaixo neste contexto. Não que eu faça o estilo dramática, mas vejamos do meu ponto de vista. Sou obrigada a acordar todos os dias ás 5 horas da manhã para treinar meu nado, sendo que a minha mãe é a minha treinadora. Logo depois de 2 horas de treino, vou direto para a escola ter minhas aulas, as quais também devo ser a primeira da turma, caso contrário minha mãe acha que não terei um futuro bom. Quando volto á tarde, eu almoço ás 15 horas e estudo mais 2 horas, logo depois me dedicando 1 hora ao violão e mais 1 hora ao piano, que para ser bem sincera é a minha hora favorita do dia. Tomo meu banho e de seguida janto antes que sejam 20 horas, porque minha mãe diz que se jantar mais tarde do que isto, a minha digestão será muito devagar e então irei engordar. Sim, ela se preocupa mais com o meu físico do que comigo mesma. Logo em seguida leio um capítulo do meu livro favorito e adormeço, me preparando assim para o dia seguinte e a mesma rotina de sempre. Prazer, me chama Emily e isso que eu descrevi acima, é o que eu chamo de vida.

– BIP BIP...  –  Bato no meu despertador com esperança de que o tempo pudesse simplesmente ser pausado e eu pudesse dormir mais um pouco, porém quando olho para a janela, percebo que seria somente um belo sonho se isso realmente acontecesse. Me levanto e vou em direção ao meu banheiro, de maneira sonolenta com os olhos fechados, péssima decisão, pois bato de cara com a porta que estava fechada.

– Ugh  –  É o grunhido que eu solto ao ver o meu reflexo no espelho. Cabelos completamente descabelados, que na realidade parecem um belo ninho de rato, olheiras profundas e pele ressecada. Eu estava assim por causa dele, eu tive mais uma vez pesadelos, com ele. Se eu não tivesse esses malditos pesadelos, eu conseguiria ter uma noite de sono tranquila, porém não, e o problema é que mesmo depois de anos eles estão se tornando cada vez mais frequentes.

– Filha? – Minha mãe grita do andar de baixo, me fazendo suspirar e fazer com que toda a calma que sequer estava presente no meu corpo, fosse embora. Apoio meus braços na bancada da pia, sentindo o mármore gelado com minhas mãos e penso bastante sobre o dia que teria pela frente.

– Já estou de pé mãe!  –  Berro em resposta enquanto termino de escovar os dentes e me dirijo ao quarto, coloco meu maiô de treino, seguido por um shorts e uma regata simples, ao descer as escadas minha mãe me espera com uma banana nas mãos e sorri ao me ver.

– Bom Dia flor do dia! — Ela fala animada, me dá um beijo na testa e nos dirigimos ao carro. O começo do caminho até o ginásio onde treino é feito em silêncio, e ela parece de certa maneira desconfortável com isso, mas é sempre isso. Fazem anos que o único tópico de nossas conversas são competições ou estudos. — Está nervosa pela competição semana que vem? – Pergunta me olhando de lado.

— Não sei ao certo, ansiosa talvez. – Torço o lábio. Eu havia treinado tanto para A competição que não pensava na hipótese de perder, além disso, minha mãe ficaria uma fera e faria eu aumentar mais ainda a carga horária do treino semanal. — Medo? – Ela pergunta quase como um sussurro a me testar, e sei exatamente que resposta ela espera, abraço a mim mesma no intuito de me aquecer e penso bem no que vou falar a seguir.

– Você me ensinou que medo não existe no nosso vocabulário.  – Ela da um sorriso de lado, orgulhoso eu diria. Respiro fundo encarando a janela e pensando se devo ou não trazer á tona o assunto que eu realmente quero debater com ela, porém que eu tenho um grande medo, devido a sua reação.

– Minha garota!  – Percebo que o tom na sua voz é como se fosse de um quase entusiasmado, por conta da minha resposta anterior. Ela me olha sorrindo, mas logo volta os olhos para a estrada e paro para admirar a sua beleza por alguns instantes, mesmo com... Mesmo com câncer e estando com essa queda de cabelo ao decorrer dos dias á aumentar, ela continua muito linda. Tenho seus olhos verdes e  seus grandes cílios, herdei seu cabelo castanho liso e o ondulado nas pontas herdei infelizmente do meu pai. Odeio qualquer coisa que me faça lembrar daquele homem. O ser humano que ele é, me traz uma repulsa que não sei ao certo como descrever porque acho que não existem palavras capazes de descrever meus sentimentos por ele. O que me faz lembrar... Vamos lá Emily, você consegue, é uma simples pergunta e se ela aguentou o que o seu pai fez, ela definitivamente aguenta responder a sua curiosidade.

Say Something (Em correção)Onde histórias criam vida. Descubra agora