O nosso amor venceu

18

A chuva havia dado uma trégua, Jorge já estava a caminho com seu pessoal e os peões já estavam reunidos na parte da frente da fazenda, incluindo Júlio e Bruno que não estavam em nada satisfeitos com tudo aquilo.

Marília observava a todos da varanda, a maior parte ali eram pessoas que trabalhavam para o antigo dono, eram pessoas boas, que trabalhavam duro pra sustentar suas famílias, infelizmente não vinham de um bom cenário trabalhista, o antigo proprietário era um explorador infeliz, mantinha todos em condições irregulares de trabalho, quando Marília chegou, fez questão de mudar tudo, assinou a carteira de todos, deu e continua dando todo o suporte que precisam, ficava bem triste em pensar que alguma daquelas pessoas que tanto ajudou, estivesse agora roubando dela.

Ao longe, pôde ouvir o barulho do helicóptero que trazia Jorge, levantou de onde estava e desceu as escadas, recebeu o amigo com um abraço e logo tratou de apresentá-lo.
— Pessoal, um minuto por favor! Esse é o Jorge, ele é o cara que comanda todo o monitoramento e contagem do gado das fazendas de Goiânia. O Jorge está aqui para ajudar e atualizar o nosso sistema de monitoramento, eu não sei se todos vocês estão cientes do que está acontecendo aqui, então eu vou abrir o jogo de uma vez. Nós estamos sendo roubados. - assim que terminou de falar o burburinho começou.
— De onde saiu essa ideia? Você não sabe o que tá falando madame, é impossível sermos roubados, nossa equipe é boa, os rapazes são de confiança, se você não tá sabendo administrar é outra história. - Júlio falava com um sorrisinho irônico no rosto.
— O que quer dizer com isso Júlio? Que eu não tenho o controle do que acontece ao meu redor? - a raiva já dava indícios  na voz de Marília.
— Eu só tô falando, que a madame não sabe o que acontece aqui na fazenda, pode ter confundido ou até mesmo nem saber o que tava fazendo, você deveria voltar pra sua vida lá nos palco e deixar a gente fazer o nosso trabalho, como vem fazendo todos esses anos.
— É ai que você se engana, eu sei tudo o que acontece ao meu redor, eu não estou aqui só por uma suspeita, eu sei exatamente o que está acontecendo  Júlio, eu sei tudo o que eu vi esses últimos dias, por isso o Jorge e a equipe dele estão aqui. Ouçam bem para que eu não precise repetir, a partir de hoje, o Jorge é o chefe de vocês, será implantado um novo sistema aqui e ele vai separar uma parte da equipe para ser treinada e adaptada a todo esse sistema. Outra equipe estará chegando ainda essa semana, Luis é o zootecnista, outra parte da equipe estará junto com ele, amanhã iniciaremos uma inspeção em toda a fazenda, toda a cerca a redor do meu território será trocada, eu espero que estejamos entendidos, vocês podem ir, quero apenas o Beto, Júlio, Bruno e Matheus aqui, por favor, amanhã vocês receberam novas ordens, tenham uma boa tarde senhores. - viu todos se disperssarem ficando apenas os que citou e Jorge.
— Então madame, qual vai ser a da vez?  - odiava aquele homem, mas ainda não poderia coloca-lo no olho da rua.
— Já que está tão ansioso, vamos ao ponto. Bruno, você está fora das suas funções até segunda ordem, eu quero as chaves do escritório por favor. - a loira falou e viu a expressão de espanto e logo depois a fúria tomarem conta do rosto de Bruno.
— Não pode fazer isso comigo Marília, eu conheço a fazenda melhor que ninguém, eu trabalho pra você a um bom tempo, você me conhece a anos.
— Eu lamento Bruno, mas você não me deu uma informação completa desde que cheguei aqui...
— Eu informei tudo Marília, tudo o que você me perguntou eu respondi, sem esconder nada e ...
— Engraçado você falar isso, porque eu não lembro de ser informada que a cerca havia sido desligada algumas vezes, com a desculpa de animais desgarrados. Nenhum bicho pularia aquela cerca Bruno, mesmo que conseguisse, seria quase impossível sair vivo, tem eletricidade o suficiente pra derrubar um elefante. O que me diz sobre isso? 
— Eu não informei por que foi exatamente isso que foi passado pra mim Marília, que foi preciso desligar a cerca pra recuperar animais que conseguiram fugir.
— O seu trabalho é nos manter informados Bruno, e manter tudo aqui funcionando perfeitamente bem, você teve recursos para isso e não o fez, as chaves do escritório por favor.
— Eu ainda preciso tirar minhas coisas de lá, amanhã eu te entrego as chaves.
— Agora Bruno, eu quero as chaves agora, amanhã bem cedo eu estarei lá junto com o novo administrador, você passa lá e tira as suas coisas. - os outros homens apenas ouviam o embate calados.
— Porque isso Marília? Está desconfiando de mim agora? - Bruno se encontrava indignado.
— Eu estou desconfiando da minha sombra no momento, então por favor me entregue as chaves.  - mesmo a contra gosto ele o fez.
— Você vai se arrepender disso Marília, eu não roubei você.
— Quanto a você Júlio, também está fora do seu cargo, o Beto cuidará de tudo agora. A partir desse momento, você é só mais um peão,e como tal, me deve satisfações do que faz em seu horário de trabalho. Eu espero que o que aconteceu essa semana não se repita, você tem horários a cumprir, não esqueça disso. - Marília falava tudo olhando nos olhos de Júlio, pôde observar cada mudança que aconteceu em suas feições enquanto falava, Júlio estava furioso.
— Não pode fazer isso, eu conheço essa fazenda melhor que ninguém, sei de tudo o que acontece e como funciona, você vai precisar de mim madame.
— Eu não disse que não vou precisar, eu disse apenas que você não manda mais em nada, não dá mais ordens, vai trabalhar como qualquer outro peão, estará sobre as ordens de Beto e Jorge, a palavra de um deles pra você é lei.
— Isso não vai ficar assim madame, você vai se arrepender do que tá fazendo. - enquanto falava o homem se aproximava mais de Marília, já tinha notado que ele era bem esquentado, era visível sua ira quando era contrariado.
— Eu já ouvi isso antes, se você não está gostando pode ir embora, eu não estou obrigando ninguém a ficar. - o encarava de igual, podia ver o ódio nos olhos de Júlio, aquilo não a assustava. — Vocês dois podem ir, eu já falei o que tinha pra falar. - falava diretamente para Júlio e Bruno.
— Cuidado madame, você não sabe com o que está lidando, essas pessoas, sejam quem for, não vão polpar esforços para conseguirem o que querem, por enquanto está sendo só o gado, eles podem querer algo mais depois.
— Então você sabe quem está me roubando?  - Marília o olhou com um sorriso irônico, Júlio deu um sorriso sujo.
— Eu só estou dizendo pra você ficar esperta, eu já vi situações assim, e eles sempre levam algo mais que apenas o gado.  - os olhos de Júlio focaram em algo atrás de Marília, o olhar sujo e o brilho maldoso que surgiram a fez estremecer, aquele olhar lhe dizia que Júlio era capaz de qualquer coisa pra conseguir o que queria. Quando virou pra descobrir o que tanto chamara a atenção do homem, sentiu seu corpo ser tomado por um sentimento desconhecido até então. O olhar sujo, o brilho maldoso e as palavras imundas, eram direcionados a Maraísa, a morena acabara de sair porta a fora, os cabelos soltos, vestia apenas um short jeans e uma blusa simples.