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Marília e Lauana se olhavam sem reação, que droga.
- E então, o que eu e a metade não podemos saber? - Maraísa encarava as duas a espera de respostas. - Se você não queria a gente aqui Marília, era só ter falado, nós teríamos ido embora na mesma hora. - a morena agora olhava para Marília com mágoa.
- Não, Maraísa não é isso. É um prazer ter vocês duas aqui é só que... - suspirou, como sairia daquela situação.
- Então, o que é? Você primeiro aceita a nossa ajuda, depois manda a gente embora e agora tem algo que não quer que a gente saiba, nós estamos aqui pra ajudar, mas se você não quer, avisa que a gente nem perde tempo.
- Acho melhor você conversar com ela Marília, de qualquer forma ela vai embora amanhã, é bom que ao menos saiba o que está acontecendo. - Marília queria matar Lauana, mas talvez ela estivesse certa.
- Pera aí, você não vem com a gente Lau?
- Não Maraísa, eu vou ficar por aqui até às coisas se resolverem.
- Porque é teimosa, eu disse que o melhor seria você ir com elas.
- Não vou discutir isso com você de novo. Eu não sei você, mas eu vou conversar com a Maiara agora, não vou deixar ela as cegas. Onde tá a sua irmã? - virou-se para a morena.
- Está no quarto, ela estava com um pouco de dor de cabeça.
- Certo, eu vou lá. - Lau saiu em direção a casa deixando uma Marília encurralada com o olhar de Maraísa sobre si, a morena não falou nada, nem expressou nada.
- Me desculpa por falar daquele jeito, eu só, estou com a cabeça cheia esses dias e eu não lido muito bem com certas situações.
- Sei que não nos conhecemos muito bem, ao menos que eu me lembre, mas eu estou aqui se quiser conversar. - o olhar da morena agora tinha mudado, olhava para Marília com certa doçura, como a loira queria poder abraça-la, sentia tanta falta de Maraísa, mesmo ela estando perto.
- Eu só tô cansada, era pra ser as minhas férias e eu tô correndo com um problemão. Hoje eu recebi algumas ameaças e agora a pouco um aviso bem dado. - a loira fechou os olhos lembrando da cena que viu mais cedo e do bilhete que estava dobrado em seu bolso.
- O que aconteceu? - Marilia a olhou, não queria assusta-la.
- Eu não acho que seja uma boa contar pra você Isa...
- Confia em mim. - a morena chegou um pouco mais perto, Marília continuava escorada.
- Não é uma questão de confiar Isa, é só que... - droga, não tinha como negar nada a morena quando ela pedia com aquele olhar. - Quando eu saí com a Lau e o Beto mais cedo, nós fomos até a extremidade da cerca no lado sul, um dos peões avisou que havia um recado para mim lá. Eles mataram um dos bois, a cabeça estava pendurada na cerca com um bilhete e o corpo estava destroçado no chão. - Marília viu quando a expressão de horror tomou conta do rosto da mais baixa.
- Que horror Marília! O que tinha no bilhete?
- Mais uma ameaça, já me acostumei com elas desde que cheguei aqui. - não foi uma ameaça qualquer, sabia disso, mas não queria assustar mais a morena.
- Como assim já se acostumou com elas? Marília isso é bem sério, não pode simplesmente ignorar essas coisas. E se eles te fizerem algum coisa?
- Ei, eu sei me cuidar. Mas quem quiser me derrubar sabe exatamente onde me atingir, por isso quero vocês longe daqui.
- Mas eles não querem apenas o gado? Porque se preocuparia tanto assim com a gente? Vamos ficar bem Marília.
- Não é bem assim. O bilhete deixou bem claro que não é um simples roubo, quem está fazendo isso não quer só o meu gado.
- O que dizia o bilhete? - Marília a olhou incerta do que falar, mas talvez, deixar tudo as claras fosse o melhor, talvez as fizesse entender que a decisão que tomou de manda-las embora fosse a mais certa.
- Que eu seria a próxima e que eu tinha amigas muito bonitas. - a morena levou a mão aos lábios em choque.
- Meu Deus Marília, isso é muito pesado.
- Entende agora o porquê de eu querer vocês longe, estão me observando Maraísa, eu não posso confiar em quase ninguém aqui, não é só pelo gado, alguém me quer morta e eu nem sei o motivo.
- Isso aqui tá muito perigoso Marília, você deveria chamar a polícia e deixar que eles resolvam, não pode arriscar sua vida, precisa pensar nas pessoas que te amam.
- Eu penso, por isso quero que vocês saiam daqui. Eu vou falar com um amigo, ele vai me ajudar no que deve ser feito, mas se isso for uma vingança, vão me encontrar onde que quer que eu esteja, vão dar um jeito de me atingir onde eu estiver. - massageou as têmporas, sua dor de cabeça estava aumentando.
- Você precisa descansar um pouco, sua mãe ainda quer falar com você, mas acho que dá pra esperar um pouco, entra e toma um banho, eu vou arrumar algo pra você comer.
- Não precisa se incomodar Isa, eu ainda tenho que fazer algumas ligações e...
- MARÍLIA DIAS! - antes que falasse algo, Maiara apareceu furiosa, com uma Lauana de sorriso amarelo atrás. - Eu deveria matar você Marília, como assim quer que a gente vá embora e deixe você aqui sozinha com todo esse rolo? Achou mesmo que não poderia contar com a gente? - Maiara estava magoada.
- Claro que não Mai, eu sei que posso contar com vocês. Só que esse é um problema meu, não quero que vocês corram riscos. - a loira agora estava de frente para Maiara, Maraísa estava ao seu lado.
- E vai resolver tudo sozinha? Você é uma idiota Marília, isso sim. E se você acha que nós vamos embora depois do que a Lau me contou, pode tirar o seu cavalinho da chuva. Somos amigas Mah, todas nós, como pôde pensar em nos afastar de você assim? Além do mais, eu sou advogada, vou te ajudar com tudo que precisar. - Maiara se aproximou pegando as mãos de Marília nas suas. - Eu sei que se passaram muitos anos, que mudamos, que as coisas mudaram, mas ainda somos nós aqui. Lembra que a gente prometeu estamos sempre juntas, sem importar o que acontecesse? Estou cumprindo a minha parte Marília, cumpra a sua, nos mantenha juntas. - Marilia não pensou duas vezes, abraçou Maiara com toda a sua força e levantou a baixinha do chão, sentia saudade da amiga.
- Que saudade que eu tava de você Mai. - mesmo falando baixo, as outras duas ouviram, Marília não conseguiu evitar a queda de algumas lágrimas.

Lauana e Maraísa só observavam, Lau sempre achou muito bonita a amizade das duas, mesmo sendo mais nova, Maiara sempre tratou Marília como uma irmã mais nova, quase sempre era quem colocava juízo na cabeça de Marília. Já Maraísa olhava tudo admirada, a única pessoa a qual Maiara direcionava cuidado e carinho era ela, nunca viu a irmã daquela forma com outra pessoa. Ao que parecia, as quatro tinham uma amizade incrível a anos atrás, queria tanto poder lembrar de tudo, lembrar de como se conheceram, dos planos que fizeram juntas. Não conseguiu segurar as lágrimas.
- Se tentar nos mandar embora de novo loira, eu vou bater em você, entendeu? Estamos juntas nessa, como nos velhos tempos.
- Obrigada Mai. Mas quero que me prometam algo. Se as coisas aqui ficarem pior, vocês vão embora, sem questionar, sem brigar ou coisa do tipo, simplesmente vão pegar as suas coisa e vão, não quero vocês correndo risco. Promete isso pra mim Mai?
- A gente vai vendo isso, não vou prometer que vou te deixar sozinha Marília, não mesmo. Eu vou voltar pro meu quarto, minha cabeça tá explodindo, só vim pra te dar umas boas porradas e te fazer mudar de idéia, já consegui. - deu um beijo na bochecha da loira e puxou Lauana pela mão, antes que a morena virasse pra acompanhar a mais baixa viu um " Obrigada" sem som sair dos lábios da loira.

Maraísa ainda estava ao lado de Marília, quando a olhou, notou seus olhos vermelhos assim como seu nariz.
- Ei, o que foi? Porque está chorando? - estava agora de frente para a morena.
- Eu só estava observando você e a Mai, pelo que ela disse nos quatro tínhamos uma amizade incrível, eu queria poder lembrar, queria lembrar da Lau, queria lembrar de você, de como nos conhecemos, mas tudo é só um grande borrão, isso me deixa frustrada porque eu queria saber tudo, queria lembrar das promessas que nos quatro fizemos, dos planos, das conversas. - a morena tinha voltado a chorar, Marília se sentia fraca com aquela cena, aproximou-se um pouco mais, segurando uma das mão da mesma chamando a sua atenção.
- Ei, não chora. Eu mais que ninguém queria que você lembrasse de tudo. - a loira tinha um sorriso fraco nos lábios.- Mas você não pode se martirizar por isso, não é sua culpa. Eu entendo que esteja se sentindo assim, mas olha, você está aqui de novo, estamos todas juntas e se acaso isso não ajudar a ter as suas memórias de volta, bom, nós faremos novas, melhores e mais vivas do que as que você perdeu, começamos de novo, o mais importante era vocês de volta, e por mais que seja difícil toda essa situação, estou feliz que estejam aqui, estou feliz que você está aqui. - e então veio, o que Marília anciou por dias veio, Maraísa a abraçou com força. Marília não teve reação no início, mas logo passou seus braços ao redor da morena que recostou a cabeça em seu peito e chorou baixinho.

Marília não pôde deixar de lembrar de anos atrás, o pior dia de sua vida, quando abraçou a morena da mesma forma sem saber quando poderia abraça-la de novo.

Seu coração estava louco dentro do peito, mais uma vez segurava seu mundo nos braços. Baixou um pouco a cabeça e enfiou nariz no meios dos fios negros, o mesmo cheiro de anos atrás, o cheiro que a acalmava, que a colocava na direção certa. Ali, segurando Maraísa, se perguntava como sobreviveu a tanto tempo sem aquele abraço, sem aquele cheiro, sem ela.

Sentiu quando a respiração do morena se acalmou e quando seu corpo amoleceu. Levantou a morena nos braços e entrou em casa chamando por Maiara, mais uma vez a levou para o seu quarto e a colocou em sua cama enquanto Maiara pegava os comprimidos da irmã e algo para tentar acorda-la. Quando aconteceu a primeira vez, Maiara disse que a irmã havia lembrado de seu sorriso, se perguntava qual lembrança teria feito a morena desmaiar dessa vez.

O nosso amor venceuOnde histórias criam vida. Descubra agora