06

1.8K 174 54
                                    

- Ôh pessoal, vamo conversar aqui um pouquinho? - eu estava terminando um show em São Paulo, que galera massa. - Gente, cês já tiveram um amor na vida de vocês, daqueles que você sabe que vai ser pro resto da vida? - eles gritam e eu sorrio.
- Pois é, eu tive um amor assim, alguns anos atrás ela foi obrigada a ir embora do país, mas eu nunca a esqueci, ela chegou hoje ao Brasil e eu não sei como reagir a isso, mas tem uma música muito especial pra mim que eu acho que diz muito, alguém me arruma um violão por favor. - peço sentando na beira do palco. - Bom, vamo nessa então né. - Bahia me entregou um violão, eu já tinha mudado o microfone por causa do piano, o público me olhava ansioso, quando eu comecei com as primeiras notas.

Oi, desculpe a intromissão
Na falta de coragem pra uma ligação
Lhe mando essa mensagem em forma de canção

Lembranças dos momentos que vivemos bombardeiam a minha mente, o dia em que nos conhecemos, seu primeiro sorriso em minha direção, seus olhos me olhando com tanta doçura.

Oi, queria lhe falar
Como anda a minha vida aqui nesse lugar
Da falta que me faz te ver ao me acordar
Me apresso no meu sono, que é só pra te lembrar
Intrusa no meu sonho, eu chego a implorar
Pra que o dia não venha
Pro Sol não me acordar

Eu nunca vou esquecer o dia em que a vi pela primeira vez, ela estava linda, usava um vestido florido soltinho, os cabelos negros caiam por suas costas e emolduravam seu rosto delicado, segurava os livros contra o peito, ela parou na roda de pessoas bem a minha frente, quando levantei a cabeça e a vi ali, me olhando, não pude conter meu coração, ele saiu do meu peito e se colocou em suas mãos, daquele dia em diante nada mais era meu.

Lembro perfeitamente que quando dei 'Oi', ela baixou a cabeça envergonhada, linda, trocamos algumas palavras e eu disse que nunca a tinha visto por ali, ela me contou que não estava em um bom dia, tinha brigado com o pai e preferiu ir a pé pra casa pra pensar um pouco, nós sentamos em um banco ali próximo e conversamos mais.

Oi, aqui a noite é fria, sem nada pra alegrar
Aqui não tem luar
Aqui não tenho amigos
Nem com quem conversar
Já pensei em voltar
Mas acho que você nem deve se lembrar
Já deve ter achado alguém pra lhe esquentar
Alguém que não lhe faça o que eu lhe fiz passar

Na hora de ir embora, eu perguntei se podia te acompanhar até em casa, você disse que não era preciso e que não queria me atrapalhar mais do que já tinha atrapalhado, mas o que você não sabia, era que eu queria estar mais tempo com você, que queria conversar um pouco mais, que eu queria a sua presença, eu lembro de ter dado uma desculpa esfarrapada e você aceitou, a conversa fluía tão naturalmente entre a gente, no meio do caminho nos passamos por um vendedor de flores, eu falei pra você ir caminhando na frente pois ia falar com um conhecido rapidamente, dentre todas, eu procurava a mais especial, assim que a encontrei, paguei ao moço e acompanhei você, sem deixar você ver a pequena rosa que tanto significava.

Fiz do meu riso profissão
Mas meu sorriso é arma da dissimulação
Quem olha minha boca se perde na atenção
Impeço assim que vejam chorar meu coração

Quando chegamos ao portão da sua casa, eu não queria dizer tchau, e ao que parecia, você também não, sempre me perguntando algo ou iniciando um assunto novo, na hora de ir, eu lhe entreguei a flor, seus olhos brilhavam tanto, você disse que nunca tinha visto uma flor tão linda e me perguntou o nome, eu disse que não sabia, que tinha escolhido ela pois era a única no meio de todas as outras, assim como você. Pura balela, eu sabia exatamente que flor era aquela e o motivo de tê-la entregado a você. Depois daquele dia, não demorou pro sentimento crescer e tomar conta da gente.

Oi, só quero lher contar que vivo viajando
Conheci um lugar que é a sua cara
Queria te levar
Que ainda tô sem grana, mas já vai melhorar
Que a saúde tá boa, que tudo vai passar
Mesmo que não se importe, queria lhe contar

Lembro do primeiro 'Eu te amo', que veio de você, lembro da gente sentadas no chão do meu quarto e compondo, você sempre foi tão sensível pra compôr, lembro da nossa primeira vez, não foi a minha, mas eu estava tão nervosa quanto. Você estava tão nervosa e insegura, eu seria a primeira pessoa na sua vida, lembro de ter perguntado se você tinha certeza e se queria realmente aquilo, você sorriu pra mim de uma forma tão linda e disse que eu era a sua única certeza, aquele foi o dia mais feliz da minha vida.

Fiz do meu riso profissão
Mas meu sorriso é arma da dissimulação
Quem olha minha boca se perde na atenção
Impeço assim que vejam chorar meu coração

As lágrimas já desciam por meu rosto, qua saudade. O público estava em silêncio e eu podia ver algumas pessoas chorando próximo ao palco, deveriam estar sentindo o mesmo que eu, saudade, impotência, nostalgia. Essa música dizia muito sobre os anos depois de você, eu sorria pra todos os lados, me mostrava bem pra todos, mas eu sabia como meu coração estava, ele doía um pouco mais a cada batida, foi assim por anos.

Me pergunto se o seu também está assim.

Oi, queria só saber se lê minhas notícias
Se ouve meu CD
Se lembra que eu existo
Que ainda amo você

Será que você lembra que eu existo? Que eu ainda amo você? Eu queria tanto ouvir suas respostas pra essas perguntas, tudo ainda continua tão vivo em mim.

Assim que termino a música, eu levanto de onde estava sentada e entrego meu violão pra alguém da produção, ouço os gritos e aplausos das pessoas.
- Bom, eu acho que foi isso né, muito obrigada pela presença de vocês, obrigada por toda essa energia maravilhosa, por essa noite linda, espero rever vocês logo, valeu São Paulooo.

Me despedi deles e sai do palco, Lauana estava me acompanhando essa noite, assim que ela me abraçou eu desmoronei, chorei como não chorava a anos, era um misto de sentimentos, saudade, alívio, amor mal resolvido, nesse momento, eu só pensava em encontrá-la de novo, poder abraçar seu corpo pequeno e não a deixar ir, nunca mais.

O nosso amor venceuOnde histórias criam vida. Descubra agora