O nosso amor venceu

15

Levantei cedo, como sempre, fui correr e quando voltei já tinha algum movimento na cozinha, dei bom dia e passei direto. Tomei um banho, coloquei uma calça preta colada, uma blusa também preta de manga longa, um cinto preto, calcei uma bota, coloquei um relógio e peguei uma jaqueta, o tempo tava frio, ia ver como os cavalos passaram a noite.

A chuva foi muito forte e o tempo ainda tá muito nublado, tinha começado a garoar. Quando cheguei na mesa do café, todas já estavam lá.
- Olha só quanta mulher bonita, hoje eu vou tomar café bem acompanhada. - felei enquanto deixava um beijo na cabeça de cada uma, menos das gêmeas. - Bom dia para as mulheres mais lindas do mundo. - Lauana, mamãe e tia Gi já estavam acostumadas com isso, sempre as elogiei, mas as irmãs ficaram vermelhas e só me devolveram o bom dia.
- A que horas você chegou filha? Eu fiquei preocupada Marília, tarde da noite, o maior temporal e você não aparecia.
- Me desculpa mãe, mas houveram alguns problemas, alguns bichos fugiram e a gente teve que buscar, só isso. - sentei ao lado de Lau e comecei a me servir.
- Come direito, você comeu algo ontem depois que chegou? Que eu lembre você não almoçou.
- Relaxa mãe, Maraísa fez algo rápido pra mim ontem. - nesse momento, todos olharam para a morena que se encolheu. -Ela estava acordada quando cheguei, se ofereceu pra fazer algo e eu aceitei, tava exausta, soube também que senhora andou dando trabalho dona Ruth.
- Eu estava preocupada, você tinha saído desde cedo e não tinha dado notícias, já era tarde e tava chovendo muito, fiquei nervosa.
- Tudo bem mãe, eu estou bem, estou aqui e eu preciso comer rapidinho porque quero ir ao estábulo antes dos meninos chegarem. E vocês três, o que vão fazer hoje? - perguntou para as irmãs e para a amiga.
- Eu tinha pensado em levar as duas até a cachoeira ou aproveitarmos o lago, mas parece que vai cair um mundo daqui apouco.
- Sim, nem sei se vai dar para os meninos virem hoje, o tempo tá bem fechado. Ah Maraísa, eu pensei bem e eu aceito a sua proposta. - falei direcionando o olhar para a morena.
- Proposta? Que proposta? - Maiara olhava de Marília para a irmã com curiosidade.
- A Marília vai afastar o administrador dela das funções dele, e ia ligar pro irmão dela, pra ele voltar, mas eu disse que poderia ajudar se ela quisesse e que você também poderia dar uma força.
- Você vai afastar o Bruno Mah? - a pergunta de Lauana soou supresa, Bruno era amigo de João desde a faculdade e como frequentava a casa do mais novo, não demorou a conhecer Marília.
- Pois é, infelizmente eu não posso confiar em ninguém por aqui, e pelo que acompanhei nos últimos dias só me fez desconfiar mais e de todo mundo. Maiara, eu queria saber se posso contar com você também, você é advogada não é.
- Claro que sim Marília, que pergunta boba, pode contar com a gente. - assim que a ruiva terminou de falar, um trovão alto soou alto e bem próximo, a chuva já caia com mais força.
- Caramba, eu preciso fazer uma ligação, com licença. - a loira levantou da mesa e foi ao seu escritório.

Ligação on

- Bruno, onde você está?
- No meu escritório Marília, algum problema?
- E os peões?
- Eles estão no pasto, foram continuar a contagem?
- Com a ordem de quem? Eu disse que teríamos uma reunião hoje Bruno, eu vou passar novas instruções para todos, além do mais eu disse que acompanharia a contagem. - Marília estava furiosa, Bruno tinha passado por cima de suas ordens.
- Eu os mandei Marília, achei que poderiam trabalhar até a hora da reunião e...
- Traga todos eles de volta Bruno, agora.
- Mas Marília...
- Mas nada, você já viu o temporal que tá caindo? É perigoso Bruno. Ligue, made um sinal de fumaça, vá você mesmo, se vira, mas traga todos de volta e rápido. E outra você não toma mais nenhuma decisão até segunda ordem, entendeu?
- Tudo bem Marília. - antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, Marília desligou. E já aproveitou para ligar pra Jorge.
- Jorge, sou eu.
- Marília como vai?
- Onde vocês estão?
- Nós estamos nos preparando pra sair de Goiânia, algum problema?
- Aqui tá caindo um mundo Jorge e acho que vai piorar, o mais sensato é vocês adiarem, pelo menos até o temporal diminuir.
- O piloto acabou de chegar aqui, está avisando pra gente qua vai cancelar o vôo. Parece que não temos escolhas então. Assim que estiver tudo certo a gente chega por aí, se cuida Marília. - falou e desligou.
Ligações off

Mandou uma mensagem rápida pra Luis também, isso iria atrasar demais as coisas. Estava de costas olhando a chuva pela janela e não viu quando Lauana entrou.
- Tá tudo bem? - perguntou parando ao lado da mais alta.
- Tá sim, só esse temporal que vai atrasar tudo.
- Não falei só disso, não tivemos muito tempo pra conversar desde que eu e as meninas chegamos.
- Eu estava muito confusa Lau, precisava de um tempo pra tentar acertar as ideias.
- Eu sei. Maiara me contou toda a história, não acredito que César foi tão cruel com as duas.
- César é um miserável Lauana, assim que puder vou falar com o Ricardo, ele vai continuar com as investigações, quero que ele use tudo o que tem pra ferrar com aquele cretino, agora mais que nunca virou uma questão de honra vê-lo pagar por tudo que nos fez passar. - o olhar da loira estava distante.
- E quanto a Maraísa, o que pensa em fazer? - ao ouvir o nome da baixinha, um sorriso bobo surgiu em seu rosto e ela virou seu olhar pra Lauana.
- Conquista-la, mas prometi a Maiara que iria devagar, o que aconteceu ontem foi quase como um alerta, é perigoso tentar forçar suas memórias. Sendo assim, vou lutar pra criar novas.
- Maiara me falou que ela desmaiou porque reconheceu o seu sorriso, o quão louco é tudo isso Marília? Eu lembro que a Mara sempre elogiava o seu sorriso, dizia que era apaixonada por ele, e olha só onde isso chegou, ela não lembrou exatamente de você, mas lembrou do seu sorriso, que era uma das coisas que ela amava em você.
- Pois é, foi horrível vê-la desmaiar nos meus braços, não quero que essa cena se repita, mas fiquei feliz em saber que algo meu ainda é tão vivo nela. Mas me diz e você e a Maiara, pelo que eu posso ver, ela ainda ama você, e eu sei que você também a ama. - se escorou na mesa de madeira atrás de si e cruzou os braços a frente do peito, um sorriso pousava em seus lábios.
- Estamos indo devagar, nós mudamos muito, precisamos nos conhecer de novo e ver se ainda temos a mesma sintonia de antes, de qualquer forma estamos levando. - o sorrisinho bobo e os olhos brilhando denunciavam que daqui a alguns dias ela e Maiara já estariam planejando o casamento e os filhos.
- Pelo que eu estou vendo, daqui a pouco estaremos em uma loja, com você provando um vestido de noiva. - Marília ria da cara de boba da amiga.
- Deixa de ser boba. Olha, conta comigo para o que precisar tá, e eu tenho certeza que pode contar com a Mai também. - Lauana a abraçou pertado, sabia que pra ela e Maiara seria mais fácil do que pra amiga. Saíram do escritório conversando e rindo das bobeiras que Marília falava, na sala, deram de cara com Maiara, Gi e Ruth conversando.
- Bom meus amores, a conversa tá boa, mas eu preciso ir ver os meus filhos, beijão pra vocês. - todas soltaram beijos em direção a loira e ela saiu.

Estava passando pela varanda quando uma figura morena chamou a sua atenção, Maraísa estava escorada na grade de frente para o lago, estava linda em um vestido longo e florido, se aproximou devagar e ficou ao lado da mais baixa, ela estava de olhos fechados.
- Oi Marília. - o sorriso de Marília quase poderia ser visto de costas.
- Como sabia que era eu? - a morena sorriu, abriu os olhos e a encarou.
- Seu perfume te entrega. - o coração da loira disparou no peito. Marília ficou sem jeito e apenas sorriu.
- Eu só queria agradecer mais uma vez por ontem, por cuidar da minha mãe, muito obrigada, mesmo.
- Não precisa agradecer, eu faria de novo, dona Ruth é uma mulher incrível, igual a minha mãe. - a morena se colocou de frente pra Marília e sorriu de forma doce. O perfume de Maraísa misturado com seu sorriso estavam começando a dar pane no sistema de Marília.
- Bom, eu preciso ir agora, quero ver como os meus filhos passaram a noite.
- Seus filhos? - morena a olhou sem entender.
- Meus cavalos. Você gosta de cavalos?
- Eu os acho lindos, mas nunca tive contato, não que eu me lembre. - a morena baixou os olhos, era visível que ela sentia muito por não poder lembrar de nada.
- Quer vir comigo? Eu não vou demorar muito, só preciso saber se eles estão bem. - Marília estava nervosa, mas queria passar um tempo com Maraísa.
- Eu não quero atrapalhar.
- Deixa de bobagem, você vai gostar, vamos?
- Vamos.

E mais uma vez Marília sorriu, o mesmo sorriso do sonho de Maraísa, a morena ainda queria descobrir porque aquele sorriso aparecia nos seus sonhos, mas por enquanto, ficava satisfeita em acompanhar a loira em uma visita a seus filhos como ela mesma disse.