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Quando cheguei no pasto, eu não pude acreditar na cena que estava vendo, os animais estavam todos espelhados, a porteira do curral estava aberta, ah não.

- Que porra aconteceu aqui Bruno? - ele olhou pra mim assustado, parecia que tinha visto uma alma.
- Marília, eu, eu...
- Sem gaguejar Bruno, o que aconteceu com o rebanho? - eu estava quase pulando em seu pescoço. - Alguém vai se prontificar a me contar o que aconteceu?
- Alguém abriu a porteira patroa, os bicho agora tão tudo espalhado e misturado.
- Quem estava na porteira? - eu perguntei pra ter certeza mas eu sabia exatamente quem estava lá.
- O Júlio patroa.
- E onde ele está agora? - eles baixaram a cabeça.
- Ele não voltou do almoço Marília, nós perdemos a contagem e a pesagem inteira.
- Pois bem, vamos tentar trazer de volta os animais que fugiram, a gente só volta pra fazenda depois disso. - as coisas aqui estão muito estranhas e eu já estou ficando sem paciência, esse tal de Júlio não estava presente no início, Bruno disse que ele estava nos outros pastos acompanhando o gado e agora sumiu de novo, não gosto desse cara. - Podem ir. Esses sumiços são frequentes Bruno?
- Eu não sei Marília, eu acho que não...
- Você acha? Eu não pago você para achar nada Bruno, você como administrador deveria saber tudo o que acontece aqui, bem debaixo do seu nariz e você vem me dizer que acha alguma coisa.
- Também não é bem assim Marília, eu não tenho como acompanhar tudo, é muita coisa e...
- Se você não estava conseguindo acompanhar tudo, tinha que ter informado, eu e João teríamos tomado as atitudes corretas, tudo aqui é uma bagunça, os funcionários estão fazendo o que bem entendem, os números estão errados e você não tem controle de nada, é uma fazenda de doze mil hectares e trinta mil cabeças de gado, não o mercadinho da esquina, se um boi mugir diferente é sua obrigação saber, ajude os rapazes a recolher o gado.
- Eu sou administrador Marília, isso é trabalho de peão.
- Você é o que eu mandar Bruno e nesse momento eu estou mandando você ir ajudar a reunir o gado. - eu podia ver a fumaça saindo da cabeça de Bruno, ele estava furioso, mas eu estava mais, assim que ele saiu eu acabei chutando o pneu da caminhonete, droga. A verdade é que eu venho observando todos esses dias. Eu vi as pequenas sabotagens, informações incompletas, estão tentando me atrapalhar e maquiar o que está acontecendo aqui, o mais foda é que tem gente da minha equipe envolvido nisso, a minha própria esquipe está me roubando.

Eu tinha algumas suspeitas, mas já tinha tomado as minha providências. Eu tinha ligado pra um amigo nesses dias em que estive aqui, ele cuida do monitoramento do gado das fazendas de Goiânia, sua equipe é toda especializada nisso, trabalham com drones e um sistema de ponta, também tinha ligado pra Luis, ele era zootecnista de formação, eu o tinha colocado como responsável em uma das fazendas de Goiânia, mas visto que ele fez um trabalho incrível com o rebanho da fazenda, eu pedi pra que ele ficasse a disposição para as outras também.

As três fazendas que produzem gado de corte são prioridade, cada uma tem a sua equipe, as duas de Goiânia estão indo de vento em polpa, então eu decide trazer alguns membros das duas equipes pra dar uma força por aqui, Jorge e sua equipe chegam na parte da manhã, já Luis chegaria a tarde ou a noite, tinha que deixar tudo certo em Goiânia.

Já era quase onze da noite, Marília e os peões traziam os últimos animais, a chuva tinha dado uma atrapalhada, mas havia dado certo.
- Nossa reunião vai ser a tarde senhores, eu quero todos presentes inclusive o Júlio que fez o favor de nos deixar na mão. - Marília devolveu o cavalo a um dos peões e se dirigiu a sua caminhonete. - Eu vou na frente com a caminhonete, guiando vocês e iluminando o caminho, vamos embora.

Faltava poucos minutos pra meia noite quando estacionou em frente a fazenda, estava exausta, suas roupas encharcadas e sua cabeça explodindo, tomaria um banho, comeria alguma coisa e depois disso cama. Já estava no meio da sala quando ouviu seu nome ser chamado.
- Marília, meu Deus, onde você estava? Estávamos preocupadas com você. - a preocupação era visível na voz da morena.
- Aconteceu um problema, o gado se espalhou e nós tivemos que ir buscá-lo, a chuva dificultou um pouco também.
- Eu dei um calmante a sua mãe e a coloquei na cama, ela ainda relutou muito mas eu disse que te esperaria chegar, isso e o calmante a fizeram dormir, ela estava muito nervosa, Maiara, Lauana e dona Gi deitaram a pouco tempo. Você está bem?
- Obrigada por cuidar da minha mãe. - Maraísa a olhou sem jeito. - Eu estou bem, só precisando de um banho, comida e cama.
- Você está horrível. - brinca a morena.
- Ah, obrigada pela parte que me toca senhorita. - tinha lama em toda a roupa da loira.
- Vai tomar um banho, eu vou arrumar algo pra você comer enquanto isso.
- Não precisa se incomodar Maraísa, eu como qualquer coisa, eu juro.
- De jeito nenhum, eu vou fazer algo rapidinho, não é incomo e eu também não estou com sono, acho que dormi demais hoje a tarde. - a morena diz com um sorriso doce nos lábios.
- Bom, se você diz, eu já volto.

Maraísa voltou pra cozinha e Marília seguiu para o banho com um sorrisinho bobo, sua morena estava preocuoada com ela, gostou disso, não do fato de deixá-la preocupada, mas saber que ela se importa foi muito bom.

Terminou o banho, vestiu um conjunto de moletom preto e foi em direção a cozinha, Maraísa estava escorada no balcão de costas pra porta, não pode deixar de reparar o quanto a morena era linda, a camisola branca ia até um pouco acima do joelho, os cabelos estavam soltos e enormes, suas pontas acariciavam o quadril, corpo pequeno tinha curvas sinuosas, Maraísa era a mulher mais linda que Marília já tinha visto, sempre fez questão de deixar isso claro.
- Voltei. - falou chamando a atenção da menor.
- Eu fiz algo leve, já é tarde e não é bom dormir com o estômago muito pesado. Mas se você quiser posso fazer outra coisa.
- Não precisa Iza, de verdade, tá tudo ótimo e eu não gosto mesmo de dormir com o estômago cheio, obrigada.
- Iza? - pergunta com um sorriso fofo.
- Eu te chamei de Iza? Me desculpa Maraísa eu só...
- Tá tudo bem, eu gostei.

Depois que terminou de comer, entre conversas e algumas risadas da parte da morena, Marília se ofereceu pra fazer um café para as duas, que agora se encontravam sentadas na varanda enquanto a chuva caia, estavam em silêncio, o clima agradável, Maraísa foi quem quebrou o silêncio.
- Lauana contou pra gente o que está acontecendo aqui.
- Pois é, as coisas estão complicadas, estão tentando desviar a minha atenção e pelo que vi esses dias, tem pessoas da minha esquipe envolvida. - a loira estava decepcionada, não imaginava que sua própria equipe faria isso com ela, sempre fez o que pôde pra ajudar a todos.
- Eu sinto muito. - Maraísa sentiu na voz de Marília que ela estava chateada com tudo isso. - Mas você suspeita de alguém?
- Tenho alguns nomes em mente, mas não posso provar nada ainda.
- Hoje na conversa, Mai citou o seu administrador com um possível suspeito, mas Lauana disse que vocês são amigos tem um tempo.
- Não é um nome que eu descarto, infelizmente. Amanhã vou afasta-lo das funções, duas esquipes estão chegando também pra dar uma força, todos trabalham comigo em Goiânia, preciso ligar pro João também, agora que vou afastar o Bruno, vou precisar de alguém que entenda de administração e que saiba o que está fazendo.
- Se você aceitar, eu posso te ajudar, a Mai também, ela é advogada, eu sou formada em administração, não lido com fazendas mas posso dar uma força, pelo menos até o seu irmão voltar.
- Eu não quero incomodar Maraísa, você e a Mai estão aqui a passeio, não precisa, eu ligo para o João. - a loira estava desconcertada.
- Não é incomodo nenhum, me deixa ajudar, amigos são pra essas coisas mesmo e você é amiga da Mai, automaticamente é minha também.- morena a olhava com expectativa e um sorriso lindo no rosto. Não negava que ouvir a palavra amiga referida a ela doía, levando em consideração tudo o que viveram, mas sabia que precisava ir com calma, talvez fosse bom tê-la ali trabalhando com ela por alguns dias.
- Eu vou pensar, pode ser?
- Tudo bem, eu espero. Agora vamos entrar, você precisa descansar um pouco e eu também já estou ficando com um pouco de sono.

Quando entraram, Marília foi deixar as xícaras na pia, quando voltou se surpreendeu ao encontrar a morena na sala a esperando, não pode deixar de sorrir. A primeira a se despedir foi Maraísa.
- Bom, eu fico aqui, boa noite Marília e obrigada pela conversa.
- Boa noite Iza. - a morena sorriu e entrou no quarto, seguiu para o seu com um sorriso no rosto e o coração um pouco mais leve, lutaria pra conquistar a morena, o amor delas ainda estava vivo, mas adormecido em Maraísa, faria ele acordar.

O nosso amor venceuOnde histórias criam vida. Descubra agora