Aviso de conteúdo sensível: dependência emocional e submissão, nada explícito, mas que pode ativar gatilhos.
Ana Schmidt
Desci as escadas decidida a dar um fim naquilo, pronta para esbravejar tudo o que senti e reprimi nessa semana, mas minha pose se desfez completamente quando vi Loki sentado confortavelmente no sofá da sala, lendo um livro.
Dói amar tanto alguém, ao ponto de que sua simples presença lhe faça perder a postura.
— Milady, vejo que está melhor. –Ele falou, me encarando por cima das páginas.
— E eu vejo que você nunca esteve ruim. –Respondi, me sentando a sua frente.
— Sei que tem muito a dizer, mas-
— Então me deixe falar. –Interrompi, o pegando de surpresa.
O homem fechou o livro e ajeitou a postura, agora me encarando seriamente.
— A vontade. –Disse, cruzando as pernas.
Analisei todo seu corpo e a única coisa que consegui fazer foi soltar uma risada irônica. É incrível como ele não percebe o quanto me machucou tê-lo longe essa semana. Se nossa ligação mental ainda existisse, ele teria total acesso aos pensamentos assassinos que passaram pela minha cabeça nos momentos de raiva.
Maneei a cabeça em negação, pronta para despejar ofensas sobre seu caráter, ou a falta dele, a ausência de responsabilidade afetiva comigo e até mesmo sobre sua postura relaxada durante toda a semana, enquanto eu sofria em silêncio e solidão.
Mas não consegui.
Contradizendo tudo o que planejei fazer, meu corpo e meus sentimentos me traíram, fazendo uma lágrima solitária cair pela minha bochecha, assim que cessei a risada.
E devo dizer que foi melhor assim, pois vi a expressão imparcial de Loki mudar drasticamente para, nada mais, que pavor, ou horror, ou medo, ou angústia... era muito sentimento o que ele demonstrava ali, somente com o olhar e depois com a boca abrindo e fechando muitas vezes.
Meu lado empático falou mais alto ao perceber o desespero em sua face, como se o homem não soubesse o quanto tinha me feito mal, como se estivesse alheio aos meus sentimentos. E talvez realmente estivesse, talvez Loki não soubesse como ter se isolado tinha me ferido.
Novamente, agradeci por ter esperado meus hormônios voltarem ao normal para ter essa conversa, pois agora poderia lidar com isso de forma madura e consciente.
— Me desculpa. –Ele disse antes que eu pudesse falar qualquer coisa.- Ana, me desculpa, eu não tinha noção, eu...
Me levantei do sofá e sentei ao seu lado.
— Perdemos a ligação? –Perguntei, bem próxima a ele.- Não o ouço em minha mente há uma semana.
Então ele abaixou a cabeça, como se sentisse culpado, talvez realmente fosse.
— Eu cortei ela no dia da feira, quando... –Respirou fundo.- Quando aquilo aconteceu, quando Bucky se declarou, eu não queria ouvir nada depois daquilo, então cortei.
— Ficou com medo que eu te traísse? –Perguntei incrédula e ele encolheu os ombros.
Assumi aquilo como um sim. Eu queria rir, gargalhar da cara dele. Loki não fazia ideia do quanto eu o amava e do quanto meu corpo pertencia a ele. Mas não ri, pois sei dos problemas de confiança que o deus tem. Sua história já é triste o bastante para eu complicá-la ainda mais.
É, se minha irmã me visse assim, com certeza diria que não éramos da mesma família. Quase posso ouvi-la gritar no meu ouvido todas as frases feministas que dizem para não se submeter a homem algum.
Mas, acontece que quando se ama, a gente fica meio... idiota?
E mesmo sabendo que eu estava sendo idiota por aceitar o tratamento que Loki me oferta, colocando em prova todo meu caráter, eu o reconfortei.
— Nunca trairia você. –Peguei sua mão.- Loki Laufeyson, eu nunca te trairia, não depois de tudo.
— Mas você saiu com Clare, vocês...
— Não, Loki. –Interrompi de novo.- Eu não tinha nada com ela e nós não estávamos juntos quando a conheci.
— Também não estávamos quando você conheceu o soldado. –Ele soltou minha mão e se levantou, ficando de costas pra mim.
Respirei fundo e me ergui também.
— Eu estava disposta a discutir com você, mas não vale a pena. –Me aproximei dele e o abracei por trás, sentindo seu corpo enrijecer.- Eu amo você, Loki, e é só você que eu quero.
Então ele paralisou de vez, sua respiração foi cortada ao meio e as costas tencionaram.
— Não sei quais são seus motivos para agir desse modo, mas eu te perdoo. –Disse baixo, com o rosto colado em sua camiseta preta.
— Não. –Ele desvencilhou do meu abraço com cautela e se afastou.- Fica brava comigo, você não pode ser tão boa assim.
— Loki, eu estou magoada, mas não vou discutir, já bastou essa semana sozinha. –Falei calma.- Não precisa dizer que também me ama, está tudo bem. Só não me afaste de novo, não corte mais nossa ligação, o que temos é tão...
— Basta! –Ele me interrompeu com a voz mais alta que o habitual, me fazendo pular pra trás.
— Fale baixo. –Pedi.- Você me deixou sozinha em um momento de dor e isso me feriu mais que meu útero se desfazendo, mas, por favor, cicatrize essa ferida, Loki. Já conseguiu o meu perdão, está tudo bem.
Ele deu mais alguns passos pra trás, quase se chocando na parede da sala. Estava sem reação, sem saber o que fazer. Acredito que depois de tanta coisa que passou, não esperava que eu fosse agir desse jeito. E eu não ia mesmo, pois quando desci as escadas, procurei com os olhos qualquer objeto que pudesse ser lançado contra ele afim de lhe causar um pouco da dor que eu sentia. Mas não o fiz, porque preferi abandonar meus sentimentos para confortar o príncipe.
E talvez esse tenha sido um erro, já ele não reagiu como esperei que reagisse, pois agora parecia estar com medo e até desacreditado. Essa era a última coisa que ele esperava ouvir de mim e isso o assustava.
Bom, essa era uma das opções e a que eu preferi acreditar.
Pois a outra me assustava; aquela em que ele realmente não sentia nada por mim além de atração física, aquela em que ele me usou para satisfazer seus desejos e quando se viu preso a uma mulher incapacitada na cama, me descartou como se descarta uma bolinha de papel na lixeira.
Toda nossa trajetória apontava para a primeira opção, mas a maneira com que ele seguiu a vida nessa última semana, deixava explícito aquilo que eu queria ignorar.
Ele agora estava me encarando com medo e apreensão, suas mãos se moviam freneticamente, sem saber pra onde ir, indicando ansiedade e a respiração não era ritmada.
— Estou oferecendo a você nossa relação como era antes. –Estiquei a mão, esperando que ele a pegasse.- Aceite, por favor. –Disse suave.- Pois eu estou brava o suficiente para dizer que essa é sua única chance, mesmo não querendo pressioná-lo.
Ele rolou os olhos entre minha mão erguida e meu rosto, avaliando se havia alguma mentira em minhas palavras. Por sorte, ele sabe que eu não minto e constatou isso quando, mesmo hesitante, pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos.
— Está tudo bem, vamos no seu tempo. –O puxei para sentar no sofácomigo.
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Two Passions, One Love
FanfictionQuando Ana recebe a tarefa de ser a terapeuta particular do deus da mentira, pensa que essa seria a missão mais difícil da sua vida. Quando ela se vê completamente apaixonada por ele e disposta a abrir mão de sua carreira perfeita por quebrar todos...